Uma música sobre a saudade de Waltel Branco

Composição de Francisco Okabe foi lançada hoje, quando o músico faria 92 anos

Conheci Waltel Branco pessoalmente em meados de 2012, durante uma gravação para o meu trabalho de conclusão da graduação em jornalismo – um webdocumentário que versava a respeito da relação de artistas locais com a cidade de Curitiba. Quem arranjou nosso encontro foi o músico Kito Pereira, que me recebeu na Galeria 42, no shopping Novo Batel, onde Waltel costumava passar suas tardes.

Perguntei o que ele fazia para se distrair. Ele me pediu para soletrar o meu nome e começou a dedilhar uma melodia que eu nunca tinha ouvido. Quis saber se estava compondo e ele assentiu com a cabeça. “Componho com os nomes”, disse. “Esta é a música do seu nome.”

Quando ele morreu, repassei esse momento com saudade e me ressenti de não tê-lo gravado em vídeo, mas em 2012 o Instagram ainda engatinhava e éramos coletivamente menos exibicionistas, de modo que o único registro da música do meu nome, composição inédita de Waltel Branco, existe apenas nas gavetas da minha memória.

Foto: Jess Carvalho

Uma melonome para Waltel 

Hoje, enquanto conversava com o músico Francisco Okabe sobre seu novo single, finalmente dei nome à técnica que vi sendo empregada por Waltel há quase dez anos. Chama-se melonome. “São duas sequências de letras que correspondem às notas”, sintetiza o músico.

Waltel e Francisco se conheceram dois anos depois do nosso encontro, em 2014, por uma razão similar. O jovem também estava finalizando seu trabalho de conclusão de curso, focado na obra do veterano. “Eu trabalhei com um melonome que o Waltel compôs pro Turíbio Santos, um violonista clássico. Depois, no mestrado, eu continuei pesquisando sobre ele. A gente se conheceu a ponto de irmos – eu e a Day Battisti – visitá-lo no hotel onde ele morava, entre a Rui e a Osório.”

Num desses encontros, Francisco descobriu a técnica do melonome. “Existe um livro intitulado Obra para violão de Waltel Branco que tem o melonome escrito, mas está faltando algumas letras, inclusive o próprio W. Eu descobri que na casa dele tinha um papelzinho onde ele estava atualizando essa série.”

Três anos depois de perder o amigo, ele decidiu estender a homenagem a ele. Hoje, no dia em que Waltel completaria 92 anos, Francisco lança um single com duas músicas: a composição dedicada a Turíbio Santos que os aproximou e uma segunda música de composição própria. “Eu escrevi um melonome com o nome dele, como ele fazia nas homenagens”, fala.

Autenticidade

“Do outro lado do hotel onde ele morava, tinha a Cia do Suco, cujo dono era um senhorzinho muito querido que queria incentivar o Waltel a tocar e nos pediu ajuda”, resgata Francisco. “Quase toda semana a gente levava o nosso violão, um sonzinho e ajudava o Waltel a tocar no estabelecimento. Ali perto também ficava um rapaz que trabalhava fazendo esses anúncios das lojas do centro. Ele anunciava as apresentações no microfone e as pessoas iam parando.”

Waltel na Cia do Suco. Foto: arquivo pessoal de Francisco Okabe

Depois de alguns showzinhos na Cia do Suco, Waltel, que antes parecia meio travado, já estava fluindo talento pelas mãos. Em 2016, dois anos antes da partida de Waltel, a dupla estendeu essa parceria para um palco maior e tocou junta no aniversário de Paranaguá. 

“Foi uma alegria imensa”, celebra Francisco. “Ele era livre, espontâneo e misturava estilos muito improváveis: fandango com samba, barroco com choro… Penso que o Waltel tocou com pessoas muito diferentes, de estilos muito diferentes, e depois conseguiu trazer uma mistureba para as composições dele, deixando com a cara dele. Ele era único e eu me identificava demais com isso. Foi uma alegria imensa viver essa amizade.”

Os músicos com Day Battisti, que os acompanhava nos shows. Foto: arquivo pessoal de Francisco Okabe

Lançamento

Às 20h, o músico faz uma live para lançar o single. Acompanhe clicando aqui.

Sobre o/a autor/a

1 comentário em “Uma música sobre a saudade de Waltel Branco”

  1. Paulo Roberto de Andrade Mercer

    Grande Waltel Branco, um tipo inesquecível. E talento a toda prova ! Gostei de lembrar do Mestre que conheci no Bar do Maneco , quando fui apresentado a ele pelo amigo Mazzinha ( Carlos Fernado Mazza).

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