Como restaurar um tanto de sua fé na humanidade

Netflix exibe comédia francesa de sucesso estrondoso e drama japonês vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2018

Um grupo de homens de meia-idade, cada um com seus problemas (e barrigas e canelas finas) decide montar um grupo de nado sincronizado. Não sei você, mas essa frase sozinha me convenceu a ver “Banho de vida”, uma das comédias mais bem-sucedidas do cinema francês, com quaquilhões de espectadores.

Apesar do horror que as palavras “comédia francesa” podem inspirar em quem não vê graça nenhuma em madames et monsieurs, “Banho de Vida” é, sim, leve e divertido, com a vantagem de oferecer também uma ou outra sacada sobre a vida (porque, afinal, eles são franceses, e geneticamente incapazes de descambar para o besteirol).

Os dois primeiros minutos são espertíssimos, lembram a narração em off de “O fabuloso destino de Amélie Poulain”, com um texto que você vai querer voltar para ler de novo com calma (se você for esse tipo de pessoa que volta filmes para reler legendas).

Quem narra é Bertrand, o protagonista, um homem que até pouco tempo atrás estava sofrendo de uma depressão paralisante. Ele ainda não acorda animado como um raio de sol, mas as coisas melhoraram um tanto e ele se prepara para buscar um emprego. Isso, quando consegue vencer o peso de passar o dia no sofá jogando Candy Crush.

Um dia, na escola de natação que frequenta (exercícios são bons para quem sofre de depressão), ele vê um anúncio no mural. Um grupo de homens precisa de mais um integrante para montar uma equipe de nado sincronizado.

Bertrand não sabe direito por quê, mas decide responder ao anúncio.

O grupo tem seis homens e eles encaram o nado sincronizado como se fosse o futebol de sábado. É uma desculpa para sair de casa, conversar com o amigos, fazer um pouco de exercício e depois tomar cervejas (mas, porque eles são franceses, preferem fumar, e fumam muito).

O absurdo da coisa toda fica ainda maior quando esses sujeitos nada atléticos decidem, sem mais nem menos, entrar numa competição de nado sincronizado.

Aqui entram na história duas instrutoras (elas também, com seus problemas) e não é nenhuma surpresa que os homens acabam se apresentando na competição. O importante aqui é o como eles vão se apresentar.

O maior trunfo de “Banho de vida” é o ator que faz Bertrand: Mathieu Amalric. Ele é tão carismático que, quando atuou em “O escafandro e a borboleta” (2007), ele só podia mexer o olho direito (seu personagem tinha sofrido um derrame) e ainda assim teve uma atuação espetacular, de conquistar prêmios e tudo.

Na comédia, ele não é tão intenso, mas o carisma está lá.

*

O filme que ganhou a Palma de Ouro em Cannes no ano passado também estreou na grade da Netflix. “Assunto de família”, do japonês Hirokazu Koreeda, fala sobre uma família de trambiqueiros que vive de pequenos golpes. Apesar das agruras, eles são muito unidos e se importam uns com os outros.

A certa altura, eles encontram e adotam uma menina pequenininha que sofria abusos e acabou sendo abandonada pelos pais. Os desdobramentos da histórias são tristes, mas é o tipo de filme (assim como “Um banho de vida”) que restaura um tanto de sua fé na humanidade.

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