TV não demite só “gordas”. Você lembra de uma repórter grisalha?

Um estudo nos EUA analisou a imagens de quatrocentas jornalistas de tevê. Nenhuma tinha cabelos brancos

Talvez você tenha ouvido falar do caso da jornalista que afirmou ser demitida por estar acima do peso. Foi nesta semana, na Rede Vanguarda, afiliada da Globo no interior de São Paulo. Michelle Sampaio foi às redes sociais contar que perdeu o emprego, segundo ela, por não voltar à mesma forma de antes da gravidez.

A história de Michelle foi a primeira do gênero que muita gente ouviu. Mas quem trabalha no mundo do jornalismo sabe o tipo de pressão que as mulheres enfrentam para poder ficar em frente às câmeras – ou seja, no caso delas, para poder trabalhar e ter um salário.

E não é só o peso: as mulheres têm uma vida útil na tevê muito menor do que os homens. É mais do que comum ver jornalistas serem contratadas bem novas, magras e normalmente entre as mais bonitas da turma – e serem demitidas quando chegam aos quarenta e poucos.

Faça um teste: tente se lembrar de uma (01) mulher que apresente telejornal no Brasil com cabelos grisalhos. Nem precisa ser totalmente brancos: uma mecha grisalha serve. Lembrou? Existe? Eu não conheço. Uma blogueira americana fez a mesma pergunta e encontrou uma.)

Ao mesmo tempo, os homens em geral têm sobrevida mais longa. Pense em Boris Casoy. Ou William Waack. Ou em William Bonner, que já está em sua terceira parceira de bancada no Jornal Nacional.

A dupla clássica de apresentação de telejornais é um homem mais velho, que comanda o show – e uma moça que está lá (muito por seus méritos, claro), mas que também é usada para ser o “colírio”, a contraparte bela do sujeito que tem o papel de dar a respeitabilidade. Sexismo puro.

O problema não é só no Brasil. Um estudo da Universidade do Texas analisou as imagens de 400 mulheres que trabalham com telejornalismo nos Estados Unidos. Achou uma (01) de cabelo crespo que não alisava. E zero (00) de cabelos brancos.

Há protestos contra isso. Uma âncora da BBC se rebelou em 2013 por ter de tingir o cabelo para apresentar o telejornal – o desabafo público levou seu chefe a dizer que, tudo bem, ela podia parar de pintar.

Quanto ao peso, o caso icônico é do Egito. Uma emissora deu um ultimato para mulheres que estavam “fora de forma” no seu jornalismo. Em um mês, elas precisavam se apresentar em forma para manter o emprego. Oito foram demitidas.

Não se trata apenas de um prejuízo para as mulheres. Quem perde é o jornalismo, que se vê privado de suas repórteres e apresentadoras mais experientes, em nome de um padrão de beleza tolo e que nada tem a ver com competência profissional.

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