O Plural dedica toda sexta-feira um espaço para a produção literária. Nesta semana, o convidado é Marcelo Sandmann, autor de seis livros de poesia e professor de Letras na UFPR.
Sandmann enviou três poemas inéditos que, bem diferentes entre si, servem para dar uma ideia da variedade de estilos de sua obra. Que logo será aumentada com mais um volume.
MARCELO SANDMANN NÃO ESTÁ NO FACEBOOK
“P.S. Eu tenho um novo plano: enlouquecer.”
(Fiódor, ao irmão Mikhail)
Marcelo Sandmann não está no Facebook
Marcelo Sandmann não está no Twitter
Marcelo Sandmann não está no Tinder
Marcelo Sandmann está com a macaca
Marcelo Sandmann resolveu dar um tempo
Marcelo Sandmann vai fechar pra balanço
Marcelo Sandmann saiu hoje de férias
Marcelo Sandmann está pra lá de Marrakech
Marcelo Sandmann não torce pro “timão”
Marcelo Sandmann não bebe “a número 1”
Marcelo Sandmann não quer bacalhau
Marcelo Sandmann vai fazer uma fezinha
Marcelo Sandmann anulou seu voto
Marcelo Sandmann disse a que veio mas não veio
Marcelo Sandmann fez xixi nos vasinhos
Marcelo Sandmann quer se jogar da janela
Marcelo Sandmann não curte pancadão
Marcelo Sandmann não pula carnaval
Marcelo Sandmann é bom da cabeça
Marcelo Sandmann é firme do pé
Marcelo Sandmann cancelou o cartão
Marcelo Sandmann picotou o crachá
Marcelo Sandmann fumou o diploma de Letras
Marcelo Sandmann foi morar na Ilha do Mel
Marcelo Sandmann n’est pas une pipe
Marcelo Sandmann is only rock’n’roll
Marcelo Sandmann? Yes, he can’t!
Marcelo Sandmann’s Lonely Hearts Club Band
EIS O OFÍCIO
do poeta)
fazer sua língua
língua estrangeira
eis o ofício) e
nessa língua
buscar seu exílio
(do poeta
mesmo o asilo
negado (eis
o ofício) o
visto indeferido
a língua
materna (do poeta
fazê-la madrasta
fazê-la pedestre
(eis o ofício
caminhar no
deserto sem
mapa ou (do
poeta) destino
viver em perigo
(eis o ofício
O PÁSSARO DA VOZ
para Leila Pinheiro
Esse pássaro que passa
Pela voz quando se canta
Essa voz que se compassa
E no canto se decanta
Esse canto que tem asa
E se alça contra o vento
Essa asa que se espraia
Sobre o azul, sobre o cinzento
Sobre o sol que se dissolve
De oriente a ocidente
Sol que em lua se resolve
Lua nova já crescente
Com seu halo de alegria
Com seu toque de quebranto
Eis no céu da fantasia
Meu fervor, meu acalanto