Sussurros para a vida

Casal de Curitiba conquista 16 milhões de visualizações no YouTube com vídeos de relaxamento e bem-estar que misturam técnicas de ASMR e meditação

Ana e Diego Gutierrez estão juntos há dez anos. Os dois se conheceram no Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba, durante o curso técnico de Comunicação e Artes, integrado ao Ensino Médio. Ao longo dessa década, eles passaram por uma transformação, viveram alguns meses na Ásia e deram um propósito para suas vidas: comunicar sua mensagem por meio do YouTube.

No canal “Lá nas Alturas”, criado em 2017, o casal publica vídeos de relaxamento que falam sobre meditação, exercícios de respiração, imaginação guiada e técnicas de ASMR (sigla em inglês para Resposta Sensorial Autônoma do Meridiano).

Hoje, essas práticas fazem parte da vida de Ana e Diego, de 25 e 29 anos, mas nem sempre foi assim. A princípio, o casal seguiu um caminho bem conhecido: terminaram o ensino médio, cursaram a faculdade e arranjaram empregos. “Naquela época, nós dois tínhamos interesse em comunicação, tanto que fomos para essa área. Quando terminamos o curso, eu fui para a publicidade e o Diego, para o design digital”, diz Ana.

Os estudos mais holísticos vieram entre 2013 e 2014, quando a youtuber ainda cursava a faculdade, e precisou enfrentar uma crise depressiva. “Não era uma coisa que a gente tinha quando se conheceu, foi um processo de transformação pelo qual a gente passou”, diz. Ela conta que foi essa vivência de cura que levou o casal, aos poucos, a transformar suas vidas.

O mergulho de cabeça veio só em 2015. Diego tinha uma agência de design digital e Ana ainda estudava e trabalhava na comunicação interna de uma corporação bancária. E nada disso era suficiente. “A gente ‘trancou’ as coisas aqui e foi para a Índia, que foi quando houve a maior transformação”, diz ela. Ao todo, a dupla passou dez meses na Ásia: primeiro veio a experiência em um ashram, na Índia. Por cerca de seis meses, Ana e Diego viveram em uma espécie de monastério, com uma rotina pontuada por práticas de meditação e aulas de ioga. Depois, o casal foi para a Tailândia, onde continuou a se aprofundar no que Ana chama de “práticas do bem viver”. A dupla viajou, ainda, pelo Nepal e por outros países, a passeio.

“Brinco, às vezes, que lá foi um ‘intensivão da existência’”, diz Ana sobre a transformação pela qual passou sua visão de mundo. “Houve toda essa transformação de visão de mundo, de como lidar comigo mesma. Uma transformação muito mais interna do que externa.” Foi durante essa viagem, ainda no ashram, que o casal deu início ao seu primeiro canal no YouTube, o “Somos OM”. A ideia era compartilhar aquilo que estavam aprendendo.  

Eles só voltaram do continente asiático porque Ana queria terminar os estudos. “Queria fechar esse ciclo da minha vida”, diz. O caminho até consolidar o “Lá nas Alturas” foi tortuoso e cheio de dúvidas. Ana pensou em fazer outro curso, chegou a estudar para um novo vestibular. Entendia que o canal poderia ser movido por uma vontade de criar e de compartilhar conhecimentos, mas não o via como uma possibilidade de trabalho.

Nesse meio-tempo, uma criadora de conteúdo ASMR contatou o casal, buscando uma parceria. Foi a primeira vez que Ana teve contato com esse tipo de conteúdo. Talvez você já tenha sentido aquele formigamento no couro cabeludo, seguido de uma sensação de relaxamento. São alguns dos reflexos sensoriais causados por estímulos visuais, auditivos e cognitivos explorados pela ASMR. É também o que explica, nas redes sociais, a multiplicação de vídeos com pessoas sussurrando, falando suavemente, fazendo movimentos com as mãos, esculpindo sabonetes e brincando com gosmas.

Há quem veja os vídeos para relaxar e alcançar uma sensação de bem-estar; outros os usam para dormir ou ajudar a administrar crises de pânico e ansiedade. Para Ana, os vídeos de ASMR passaram a ajudar com os estudos – aliviando a pressão. Mais tarde, quando entendeu que a comunicação poderia servir de ferramenta para uma mensagem em que ela acreditava de verdade, veio a inspiração.

No YouTube, vídeo que ajuda a dormir tem mais de um milhão de visualizações.

Usando a ASMR, o “Lá nas Alturas” também busca educar sobre práticas de meditação e respiração, fazendo uso dos conhecimentos adquiridos pelo casal na viagem pela Ásia. O canal tem mais de 150 mil seguidores e 16 milhões de visualizações. Nos vídeos, Ana e Diego buscam integrar novas tecnologias como a realidade virtual.

Vídeo com realidade virtual, no canal “Lá nas Alturas”.

Os internautas podem, por exemplo, escolher um clima futurista durante uma meditação voltada às sensações do corpo; ou uma viagem guiada pelo deserto de Joshua Tree, na Califórnia; ou uma sessão de relaxamento numa tenda. “Vimos que isso [o uso de tecnologia para a realidade virtual] é algo muito forte para o futuro”, diz Ana. “Mas tenho sentido também muita vontade de ter contato presencial com as pessoas, de fazer imersões”, diz Ana, destacando que esses são planos para um futuro ainda meio distante.

Até lá, a dupla segue produzindo conteúdo para o canal, direcionando alguns dos vídeos para o momento de pandemia e recebendo retornos positivos. “Nesse período, tem ajudado muita gente mesmo”, diz Ana. Apesar disso, ela salienta que os vídeos são apenas um complemento de práticas mais sérias. “Esse conteúdo não substitui tratamento com profissionais da saúde capacitados e serve apenas para fins complementares de relaxamento e bem-estar”, diz.

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