Sobre a importância da felicidade

Primeira aula do curso on-line gratuito com Gustavo Arns vence alguns percalços técnicos para falar sobre o que, de fato, pode trazer felicidade

Sexta-feira, 19h33. Falta pouco menos de meia hora para a primeira aula on-line do curso “Ciência da Felicidade e Bem-Estar”. A Universidade já havia enviado um e-mail, no diante anterior, para não me deixar esquecer do compromisso – aproveitando para salientar o que aprenderíamos ao longo de quatro aulas. 

Na sexta, dia 3, às 17h46 eu já estava em posse do link da aula, orientações sobre login e senha, e mais um teaser sobre o curso: “[você] vai descobrir práticas para desenvolver todo o seu pleno potencial”, me prometia o e-mail padrão, de fundo branco e cabeçalho e rodapé azuis. Tudo isso, claro, em um tom informal e despojado, “Nos vemos à noite, OK?”. 

Consumidora de conteúdo audiovisual via internet há alguns anos, já sei – por padrão – que esse tipo de “aula on-line”, em geral, demanda algumas tentativas de configuração dos navegadores. Achei por bem acessar o link antes, e observar com calma o desenrolar da coisa. O endereço fornecido por meio do “AQUI”, grafado em letras garrafais e em negrito do e-mail, me direcionava à plataforma de aprendizagem virtual da Universidade. Inseri login e senha conforme as orientações do e-mail, repetidas no próprio site – uma redundância que deve auxiliar os mais desmemoriados. 

Dentro do “Ambiente Virtual de Aprendizagem”, a coisa era mais séria do que eu imaginava: meu nome constava no topo, do lado direito da tela; a pequena sineta de notificações já estava com quatro avisos sobre conteúdos adicionados e disponíveis; e ao longo da tela uma série de avisos e comunicados aos estudantes. 

Abaixo de “Minhas disciplinas”, um único retângulo – mostrando uma bela paisagem – indicava “Ciência da Felicidade e Bem-estar”. Cliquei e fui direcionada a uma série de links, cada um levando a uma sala de aula virtual. Adentrei na primeira. Indiquei meu nome – gravado como “Ana #6” – e levei alguns minutos para permitir o acesso à minha câmera e ao meu microfone, ainda que isso me desse arrepios. Segundo o portal, a permissão é necessária para que você possa – inclusive – ouvir a aula. 

Quando encontro a possibilidade de desligar meu microfone (graças aos deuses da videoconferência, mesmo dando permissão, minha câmera não funciona) na barra do próprio navegador, suspiro aliviada. Faltam 20 minutos, há cerca de 90 pessoas na sala. Cada um explora a plataforma como pode – apertando o botão de “levantar a mão”, e esquecendo de apertar novamente para abaixá-la; entrando e saindo da conferência; apertando os botões de “status” que podem demonstrar coisas como concordar, discordar, satisfeito, insatisfeito, “mais rápido” e “mais devagar”. Há também um espaço de bate-papo, que não é usado. 

Enquanto a aula não começa, apenas a capa da apresentação de slides – preta, com o nome do curso em letras brancas – é visível. Na lateral, não param de aparecer pequenos retângulos brancos informando usuários que entraram ou saíram da sessão (um recurso que permanece ativo mesmo durante a aula). “Ana #8 entrou na sessão”. Ao longo dos minutos, o número de usuários só cresce: 188, 190, 197. Cinco minutos antes e já estamos em quase 330 pessoas na primeira sala. 

Pontualmente, às 20h, a imagem de Gustavo Arns – claramente sentado em uma pequena cabine – aparece na tela. “Curso ao vivo, sabem com é, estamos aqui elaborando alguns detalhes com a tecnologia”, diz ele quando um técnico abre a porta da cabine diversas vezes, mexendo no computador, ou apenas falando pelo walkie-talkie. Ao que tudo indica, Arns estava em quarentena, mas teve de ir até a universidade para a gravação da aula, já que sua conexão residencial não deu conta da transmissão. 

Arns avisa que a aula será gravada, e ficará disponível depois – meu primeiro pensamento é que faz mais sentido acessar o portal quando me for conveniente, do que assistir à meia hora de problemas técnicos que estou presenciando ali. O palestrante dá início ao conteúdo, enquanto o técnico tenta resolver o problema com os slides, que não passam. Fazer perguntas durante o curso é outra via-sacra: para aumentar o engajamento nas redes sociais, é preciso fazer uma fotografia de “como você está assistindo à aula”, e marcar os perfis da universidade. 

Enquanto fala sobre depressão e ansiedade, e faz propaganda do congresso que organiza, a imagem de Arns some da tela, volta a aparecer, o técnico entra e sai da diminuta sala, o palestrante para, pergunta se a conexão caiu, uma moderadora responde: “não, estou te ouvindo”. A fala segue, sem slides. Já não olho mais para a tela, percorro uma timeline qualquer no meu celular. 

São 20h27 quando Arns recomeça exatamente o mesmo falatório de antes – os mesmos agradecimentos, comentários ensaiados e analogias engraçadinhas – para que a aula gravada não inclua todos os problemas técnicos. Agora, com os slides, o discurso flui melhor, com menos pausas. 

Pelos próximos sessenta minutos, Arns ressalta a importância do tema. Cita dados e relatórios de instituições sérias, como a Organização das Nações Unidas (ONU); lista países que passaram a investir no tema de forma institucionalizada; lembra de filósofos e pensadores que se dedicaram ao tema; e valida uma série de coisas que já penso há anos: 

– materialidade e conquistas externas são apenas parte do que nos faz felizes; 

– é importante saber se você sofre de doenças como depressão e buscar tratamentos; 

– sucesso é um efeito de estar bem; 

– há um limite para a felicidade que o dinheiro pode trazer; 

– é preciso cuidar do nosso estado emocional e mental. 

Em meio à fala, para que os participantes experimentem alguma interação, o palestrante faz algumas enquetes simples (como “quanto você se considera feliz?”, ou “quanto você se compara ao seus colegas?”), e avalia os resultados. O recurso só funciona na sala de aula à qual Arns está diretamente conectado – a transmissão é vista por todos, mas as interações só são possíveis em uma única sala. Algumas poucas perguntas, feitas pelas redes sociais, são lidas e respondidas. Antes de desligar, às 21h33, o palestrante faz uma rápida prática de respiração (cada aula deve terminar com um exercício prático).

Quando a imagem de Arns finalmente some, constato que a equipe esqueceu de desligar o microfone do professor. Enquanto os alunos deixam a sala, uma série de palmas, sonorizadas por vários “ÊÊÊÊÊÊÊÊ” celebram o fim da primeira transmissão. “Todos vivos?” pergunta Arns, antes que o áudio suma.

(*A repórter vai acompanhar as quatro aulas do curso e escrever sobre cada uma delas aqui. Esta foi a primeira.)

Serviço
Curso on-line “Ciência da Felicidade e Bem-Estar”, com Gustavo Arns, ofertado pela Universidade Positivo. Dias 09, 16 e 23 de abril, sempre às 20h. Gratuito. Inscrições pelo site. (Se você perdeu a primeira aula, ainda pode se inscrever para ver as outras três.)

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