Sete décadas com Minduim

Há 69 anos estreava a mais famosa e bem-sucedida tirinha do mundo

Há 69 anos, no dia 2 de outubro de 1950, estreou em sete jornais impressos dos EUA uma tira em quadrinhos que mostrava a vida nem sempre fácil de um simpático garoto de cabeça redonda e camiseta amarela, dono de um beagle escritor e líder de um time de beisebol que nunca venceu um jogo na sua história: Peanuts.

Seu autor, Charlie Monroe Schulz, o alter-ego do garoto melancólico e frustrado conhecido como Minduim aqui no Brasil, a desenhou até seus últimos dias de vida, em fevereiro de 2000, quando a tira já era há muito tempo a mais famosa, adorável e bem sucedida dos quadrinhos no mundo. Mais do que isso Schulz criou, como diria Umberto Eco, algo muito maior do que um inócuo divertimento feito para crianças. Peanuts é um microcosmo, uma pequena comédia humana para todos os bolsos.

A rotina de Charlie Schulz foi a mesma por décadas, desenhando diariamente a tira do dia, desde o esboço à lápis até as letras. Na sua caminhada de casa até o estúdio surgiam as histórias que comporiam a sequência de seis tiras da semana. Talvez a mais célebre delas seja uma em que a turma está deitada debaixo de uma árvore olhando o formato das nuvens. Linus diz que o formato de uma delas parece o retrato de Thomas Eakens. Outras lembram o mapa de Honduras. E aquelas mais à frente parecem o apedrejamento de Estevão com o apóstolo Paulo, ao lado. E Lucy, então, pergunta para Charlie Brown o que ele vê nas nuvens. Eu ia dizer um patinho e um cavalinho, mas mudei de ideia, lamentou o bom e velho Charlie Brown.

O cineasta Hal Hartley escreveu que desconfia que Charlie Schulz era mais um conservador do que um liberal. Um trabalhador modesto. Talvez ele não soubesse, mas Schulz dava aulas de religião e ensinava o Evangelho em uma paróquia de Sebastopol. No entanto, Sparky, como era conhecido na infância, acima de tudo era um cartunista. Quando entrevistado por Whoopy Goldberg em seu talk-show, ela lhe mostrou os peitos para que ele visse um Woodstock que ela havia tatuado quase trinta anos antes. “Você quer que eu pinte a tatuagem?”, responde ele, com um senso de timing magnífico para o humor.

Schulz é daquela estirpe de gênios que encontrou no humor uma maneira honesta de lidar com a infelicidade. A felicidade, afirmava, não era fonte de humor. Pessoas felizes não têm histórias, dizia Tolstoi, ao voar pelo ar depois de tentar chutar uma bola de futebol, tirada do lugar no momento exato por Lucy Van Pelt.

Bill Watterson, o recluso autor de Calvin e Haroldo, disse certa vez que a importância de Peanuts estava no fato de que “uma tira cômica podia conter um toque emocional e podia falar dos grandes temas da vida de modo sensível e perspicaz”.

Nada mal para quem achava que as histórias em quadrinhos constituíam um negócio razoável. “Você tem que ser razoavelmente inteligente, pois se fosse mesmo inteligente, estaria fazendo outra coisa. Você tem de desenhar razoavelmente bem, pois se desenhasse bem mesmo, seria um pintor. Você tem que escrever razoavelmente bem, pois se escrevesse bem mesmo, estaria escrevendo livros. É formidável para quem é razoavelmente uma pessoa, como eu”.

A série Peanuts teve 17.896 tiras, 15.390 delas diárias e 2.506 dominicais. Todas desenhadas inteiramente por Charlie Schulz. Abaixo, selecionei algumas das minhas realmente sensacionais. Todas elas foram publicadas pela editora L&PM, na coleção Peanuts Completo. Você foi realmente incrível, Charlie Schulz.

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