“Pedestre”, a dupla de rap curitibana, transforma pensamentos em música

Rodrigo Pinto e Gabriel Muller lançam segundo álbum, "Desperte", que trata de desejos mais terrenos

“O pedestre tem um pouco disso: é um cara que tá passando, despercebido, ali na redondeza. Às vezes ele não se identifica, ou as pessoas não se identificam. Tem um pouco dessa coisa obscura”, define Rodrigo Pinto, o jornalista por trás das letras e da voz da dupla curitibana de rap “Pedestre”. O mesmo conceito, cheio de bordas difusas, se aplica ao projeto musical feito em parceria com o músico e produtor Gabriel Muller. 

Para o vocalista, o projeto musical reflete – e é definido – por esse tom de quem não sabe exatamente aonde vai chegar, mas eventualmente, chega. Este mês, a dupla lançou seu segundo álbum. “Desperte”, um anagrama do nome da banda, e – na visão de Pinto – um despertar para temas, e desejos, mais terrenos e reais. “No primeiro CD a coisa é muito onírica, muito abstrata, lúdica”, afirma. As novas músicas são uma espécie de transcrição dos pensamentos da voz, como se acompanhássemos um pedestre e suas meditações ao longo de uma caminhada.  

Trabalho é o segundo álbum da dupla

O trajeto

O “Pedestre” deu seus primeiros passos em uma viagem entre o fim de 2018 e o começo de 2019. Na época, os amigos se conheciam por conta de um selo musical que Pinto ajudou a fundar, e do qual não faz mais parte. Muller estava em uma das bandas dentro do selo, e durante a viagem mostrou algumas batidas nas quais vinha trabalhando. “Quando a gente viu, estávamos nos vendo toda semana para fazer som”, diz o vocalista. 

Dos encontros no estúdio em casa de Muller, saiu o primeiro CD da dupla, homônimo, ainda em 2019. O nome, da dupla e do primeiro álbum, veio do processo de criação de Pinto, que é um pedestre por preferência: “Muito das coisas vem quando estou nesse processo de andar pela rua, pelas coisas que observo”, afirma. 

A escrita, e a admiração pelo rap, acompanham o vocalista desde a adolescência: “O ritmo do pensamento e das palavras [no rap] me remetiam ao jeito como eu pensava”, diz. O encontro com Muller aconteceu sem muito planejamento, quase como dois amigos que se esbarram por acaso na rua, andando pelos mesmos lugares. Apesar disso, Pinto afirma que o trabalho da dupla não pode ser exatamente classificado como “despretensioso”: “Acho que isso é diminuir muito o que a gente fez e o nosso amor pelo que estamos fazendo. A gente faz com muita dedicação”. 

A pretensão, nesse caso, não é ter fama ou viver de música – ela fica mais no âmbito de demonstrar o afeto da dupla pela música, e tentar tocar pessoas por meio da arte. “Se for uma pessoa, que sinta esse amor e essa dedicação, para gente já é missão cumprida”, afirma. 

Sério, mas sem obrigações

A dupla parece caminhar no espaço entre quem sabe que não ocupa o posto de estrela, falando para milhões, mas que ainda assim busca fazer o trabalho com qualidade. Não há cronogramas e metas a cumprir, mas existe estudo e dedicação. 

“A ideia é mostrar também que dá para fazer – a gente tá fazendo de dentro de um quarto, e quando a gente vê tá no Spotify. Claro que tem muita experiência e estudo, não diminuindo as nossas habilidades, mas as pessoas podem se expressar”, diz Pinto. 

Quando pergunto se esse tom de indefinição é parte do caminho, ou característica final do projeto, a resposta é direta: “Se o Pedestre chegar em algum lugar, ele acaba. A gente tem que manter ele andando. Essa dúvida e todas essas questões, de para onde chegar, é um pouco a essência da parada”, afirma.

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