Um Nelson Rodrigues para encerrar o Festival

Remontagem traz a Curitiba "Os Fodidos Privilegiados", a célebre companhia fundada por Antônio Abujamra

Digam o que disserem, Nelson Rodrigues é o grande clássico do teatro brasileiro. Um festival de teatro sem uma montagem de algum texto dele vai sempre parecer manco. Mal comparando, é como um evento de dramaturgia na Inglaterra que não tivesse nada de Shakespeare. Ponto.

Por isso, é sensacional que a edição comemorativa de trinta anos do Festival de Curitiba tenha em seu último fim de semana “O Casamento”, com Os Fodidos Privilegiados. O texto originalmente é um romance, mas 25 anos trás João Fonseca, um dos diretores da companhia, adaptou a história para o lugar em que Nelson Rodrigues sempre deve estar, o palco.

A remontagem que o público vê neste sábado (9) e domingo (10) no Teatro da Reitoria é também uma homenagem ao próprio festival e ao histórico do grupo, um dos mais importantes da cena brasileira. Em 1997, ainda sob direção do gigante Antônio Abujamra, foi em Curitiba que a peça começou sua carreira, que levaria a multidão de atores a uma temporada incluindo apresentações fora do Brasil.

Guta Stresser, que faz o papel de Glorinha, a noiva que à beira do casamento descobre que o futuro marido é gay, diz que a peça foi um divisor de águas na carreira dela e na própria trajetória dos “Fodidos”. Para ela, na época com 25 anos, foi uma chance de aparecer como protagonista de um drama de primeiro nível, chamando inclusive a atenção de Guel Arraes, que a levou para fazer a Bebel de “A Grande Família” na Globo.

Para a Companhia, também foi um marco. Segundo Guta, Abu, que além de diretor e ator de gênio era uma figura adorada no meio cultural, nunca esteve tão feliz dirigindo uma peça. Aliás, difícil penar em alguém com um humor tão cáustico e inteligente quanto o de Abujamra para casar com o texto de Nelson Rodrigues.

Várias pessoas da montagem de 1997 continuam na companhia e voltam a fazer o espetáculo duas décadas e meia depois ainda “ouvindo a voz” de Abu ao dirigi-los. Segundo Guta, os atores hoje estão todos grisalhos (inclusive ela, aos 49), mas bem. “Só o vestido da Glorinha que precisou ser refeito porque não serviu mais”, diz rindo.

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