Entre tapa e prêmios, “No ritmo do coração” leva Oscar de melhor filme

E “Drive My Car” venceu como filme estrangeiro numa noite de poucas surpresas – até Will Smith dar um tabefe em Chris Rock

Na segunda metade da cerimônia do Oscar, no domingo (27), o comediante Chris Rock subiu ao palco para apresentar o prêmio de melhor documentário. Como de hábito, ele fez umas piadas antes de anunciar os indicados. Rock brincou primeiro com Javier Bardem e Penélope Cruz, dizendo que Bardem estava torcendo para não levar o prêmio de melhor ator – porque, se ele ganhasse e Cruz não, seria um problema para a relação.

Por isso, disse Rock, Bardem deveria estar torcendo para Will Smith vencer. Tendo puxado Smith para a conversa, Rock emendou uma piada com a mulher do ator, Jada Pinckett-Smith. “Amo você, Jada. Mal posso esperar pra ver ‘G.I. Jane 2’”, disse. Ele fez referência a um filme de 1997, “Até o limite da honra” no título em português. Nele, a atriz Demi Moore aparece de cabeça raspada para interpretar uma agente paramilitar.

Dois anos atrás, Jada Pinckett-Smith anunciou que tinha sido diagnosticada com alopecia, uma doença que causa queda de cabelo. Por causa do problema, ela passou a raspar a cabeça. Rock fez a piada – que foi não foi particularmente engraçada – sugerindo que Jada já tem o visual pronto para estrelar uma sequência do filme.

A princípio, Will Smith riu. Mas a expressão de Jada deixou evidente que ela não gostou da piada. Rock riu, disse “Essa foi boa” e seguiu em frente. Ou quase. Quando estava prestes a anunciar os indicados de melhor documentário, Smith subiu no palco, caminhou até Rock e deu um tapa na cara dele.

Imediatamente, o público que assistia à cerimônia – no Kodak Theatre ou em casa – se perguntou se a cena era ensaiada ou não. Houve algumas risadas. Então, para não deixar dúvida, Rock reconheceu o que todo mundo tinha acabado de ver: “Will Smith acabou de me dar uma sova”, disse.

Não satisfeito com o tapa, Smith voltou para o seu lugar e, de lá, gritou para o palco algo como: “Não use sua boca suja para falar da minha mulher!”. Rock ficou perplexo e respondeu: “Cara, foi uma piada de G.I. Jane”. Smith repetiu a frase, gritando de novo, dessa vez pausadamente. Dava para ver como parecia alterado.

Rock respondeu: “OK, cara”, olhou para o lado e devem ter pedido para ele seguir com o show. Porque foi o que ele fez. O prêmio de melhor documentário foi para “Summer of Soul”, mas, àquela altura, o clima no teatro parecia péssimo.

Pouco depois disso, Will Smith venceu o prêmio de melhor ator pelo papel de Richard Williams, pai de Venus e Serena, no filme “King Richard: Criando campeãs”. Subiu ao palco e fez um discurso confuso. Chorou, pediu desculpas para a academia, mas não para Chris Rock. Disse que esperava ser convidado de novo para uma cerimônia do Oscar.

A cineasta

Jane Campion já havia feito história como a primeira mulher a ser indicada duas vezes para o Oscar de direção. A primeira foi por “O piano”, nos anos 1990. Quase 30 anos depois, ela foi indicada de novo por “O ataque dos cães”, e dessa vez levou. Sua revisão do gênero faroeste e do machismo dos caubóis lhe valeu a cobiçada estatueta.

CODA

Mas “O ataque dos cães” não levou o prêmio de melhor filme. Este foi para “No ritmo do coração” (“CODA”, no título em inglês, a sigla para “criança de pais surdos”). Jessica Chastain foi a melhor atriz por “Os olhos de Tammy Faye”. Foi política, defendeu a diversidade e o respeito de “ser quem somos”.

Filme estrangeiro

Havia a expectativa de que “Drive My Car”, do japonês Ryûsuke Hamaguchi, levasse o prêmio nas quatro categorias em que estava indicado – as mesmas que o sul-coreano “Parasita” venceu dois anos atrás: melhor filme, melhor filme internacional, melhor direção e roteiro.

Apesar de ser considerado por boa parte da crítica o melhor filme dessa edição do Oscar, “Drive My Car” acabou vencendo “apenas” na categoria de filme estrangeiro.

O momento

A saga da família de surdos de “No ritmo do coração” tocou os votantes da Academia de uma forma particular. Pouco antes, Troy Kotsur havia feito história como primeiro ator surdo a ganhar o Oscar de coadjuvante. Kotsur dedicou o prêmio à comunidade de deficientes, não apenas auditivos. “É o nosso momento!”, disse.

“Belfast”

Indicado sete vezes ao longo de sua carreira, Kenneth Branagh finalmente levantou um Oscar, o de roteiro original, por “Belfast”, inspirado por suas experiências de menino na guerra da Irlanda.

A Academia, por sinal, valeu-se de um letreiro para tomar partido na guerra que se trava na Ucrânia. O apoio deveria incluir fitas azuis em defesa dos refugiados, mas poucos as usaram.

A Academia prestou homenagem a vários filmes amados dos cinéfilos. Um deles foi “O poderoso chefão”, que completa 50 anos. Cercado por Al Pacino e Robert De Niro, o diretor Francis Ford Coppola fez questão de reconhecer a importância do escritor Mario Puzo e do produtor Robert Evans para que o filme fosse realizado. Foi um momento bonito da noite.

Os vencedores

Filme: “No ritmo do coração”
Direção: Jane Campion (“O ataque dos cães”)
Atriz: Jessica Chastain (“Os olhos de Tammy Faye”)
Ator: Will Smith (“King Richard: Criando campeãs”)
Atriz coadjuvante: Ariana DeBose (“Amor, sublime amor”)
Ator coadjuvante: Troy Kotsur (“No ritmo do coração”)
Filme estrangeiro: “Drive My Car” (Japão)
Roteiro adaptado: Siân Heder (“No ritmo do coração”)
Roteiro original: Kenneth Branagh (“Belfast”)
Figurino: Jenny Beavan (“Cruella”)
Trilha sonora: Han Zimmer (“Duna”)
Animação: “Encanto”
Curta-metragem de animação: “The Windshield Wiper”
Curta-metragem de ficção: “The Long Goodbye”
Documentário: “Summer of Soul (…ou, quando a revolução não pode ser televisionada)”
Documentário de curta-metragem: “The Queen of Basketball”
Som: “Duna”
Canção original: Billie Eilish e Phinneas, por “No Time to Die” (“007 – Sem tempo para morrer”)
Maquiagem e cabelo: “Os olhos de Tammy Faye”
Efeitos visuais: “Duna”
Fotografia: “Duna”
Edição: “Duna”
Design de produção: “Duna”

Com informações do Estadão Conteúdo.

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