O que um desenho animado de 1984 tem a dizer sobre o mundo de 2020

“Nausicaä do Vale do Vento”, na Netflix, é um exemplo de como Hayao Miyazaki consegue fazer filmes divertidos e com consciência moral

Os desenhos animados de Hayao Miyazaki são coisa séria. Se você sabe um pouco sobre como o mundo funciona, ver um filme do cineasta japonês pode ser uma experiência intensa. Do tipo que faz pensar na vida.

Veja, por exemplo, “Nausicaä  do Vale do Vento”, em cartaz na Netflix. Um anime de 1984 que parece um comentário sobre a realidade atual.

Assim como ocorreu com certos livros e filmes, a obra de Miyazaki também tem traços proféticos. Na realidade, essas profecias são apenas hipóteses de 40 anos atrás, levantadas por um artista capaz de olhar para o mundo e perceber com antecedência coisas que o resto de nós leva mais tempo para entender e, às vezes, mais ainda para aceitar.

O cenário de “Nausicaä” é pós-apocalíptico. Um futuro desértico em que quase tudo é areia. As pessoas precisam usar máscaras para sair ao ar livre porque o ar é tóxico e o Mar Podre é outra ameaça à vida de todo mundo.

Não bastassem esses percalços, o que resta da humanidade está organizada em nações que não se dão umas com as outras. Nesse embate de forças, os grupos tomam decisões escabrosas, como tentar dominar o Vale do Vento, onde vive a princesa Nausicaä.

Uma mulher

A princesa é capaz de matar meia dúzia de soldados com uma mão nas costas, mas não gosta de violência. Ela se preocupa com a natureza (ou com o que sobrou dela) e entende que os problemas no ar, na terra e na água são consequências de barbaridades cometidas pelos homens (e aqui vale notar a escolha de Miyazaki: é uma mulher jovem que tem consciência dos estragos cometidos contra o ambiente).

A história trata de várias disputas de forças entre nações com nomes esdrúxulos – torumekianos e pejites aparecem bastante –, mas a questão aqui não é o enredo de “Nausicaä” e sim as ideias com que o desenho trabalha.

Quase quatro décadas atrás, em 1982, Hayao Miyazaki ainda não tinha completado 40 anos quando lançou o mangá “Nausicaä”. Ele mesmo adaptaria sua história em quadrinhos para o cinema, em 1984.

Apenas três anos antes da publicação do mangá, ocorreu a primeira Conferência Mundial sobre o Clima, em Genebra, na Suíça. Alguém que se preocupava com o meio ambiente em 1979 devia soar muito mais excêntrico do que alguém que hoje defende o fim do desmatamento na Amazônia.

Pois Miyazaki não só se preocupava com o planeta como resolveu criar uma obra permeada de questões que deveriam preocupar qualquer ser humano decente: a relação com os animais, os abusos cometidos contra a Terra, o papel de cada um nesse cenário deprimente. E mais: ele conseguiu criar uma obra com consciência moral que é também divertida pacas. 

Filme

“Nausicaä  do Vale do Vento” está em cartaz na Netflix, assim como outros filmes de Hayao Miyazaki.

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