O estranho caso do homem que confundiu uma árvore com um vizinho

Luís Henrique Pellanda lança hoje novo livro de crônicas

Uma árvore caiu em Curitiba nesta segunda, derrubada pela chuva. Era uma árvore bonita, bem no Centro, ao lado do mais importante teatro da cidade, e milhares de pessoas passaram diariamente por ela, respiraram seu oxigênio todos os dias, durante quatro décadas.

Seu obituário, porém, foi dado pelos jornais sem que nem mesmo se lembrasse seu nome. O que se destacou foi o susto dos moradores, o problema para o trânsito dos carros e o risco que essas malditas árvores continuam nos causando.

Por sorte temos entre nós Luís Henrique Pellanda, que sabia da árvore seu nome e muito mais. É um guaporuvu, ensina o cronista da cidade. Aliás, Pellanda já escreveu sobre a árvore.

“Mais de duas décadas depois, continuo a passar por ali, de manhãzinha, com minha filha, rumo à natação, e encontro a árvore ainda em seu posto, mais bonita do que nunca. Sei que estamos bem mais velhos, o guapuruvu e eu, ambos plantados em Curitiba no início dos anos 70, só que ele, agora protegido pelas leis ambientais, goza a garantia de que jamais será derrubado”, dizia o texto de 2015.

A árvore não está mais lá, mas a crônica de Pellanda será lida sabe-se lá por quantos anos, deixando para os leitores de gerações a memória daquilo que a cidade é – daquilo que já foi.

Pellanda lança nesta terça seu quarto livro de crônicas, uma coletânea dos três volumes anteriores. Calma, estamos perdidos mostra a trajetória do cronista, que lá no final da década passada começou a transformar seus passeios pela cidade em palavras impressas.

No começo, diz ele, não havia uma forma preferencial. Foi só quando a primeira filha nasceu e Pellanda começou a andar com a garotinha no colo que, segundo ele, tudo mudou. Mudou para ele e para os outros. As pessoas que o ignoravam passaram a vê-lo e a cumprimentá-lo. De repente ele não era mais invisível, e isso mudou sua interação com a cidade.

Jornalista formado, Pellanda já era escritor pronto quando formou sua banda, a fenomenal Woyzeck, que tinha letras misturando religiões afro, críticas ao machismo e citações de Cervantes. Letras ácidas, críticas, bem-humoradas.

Mas o Pellanda cronista não é assim. Também não é como nos contos de seus dois livros, nem como o Pellanda repórter. O cronista é um sujeito plácido que passeia pelo centro de uma grande cidade e relata o que vê. Que passeia com suas duas meninas. Que conversa com os bebuns. Que anda pela Pracinha do Amor. E que reconhece as árvores do caminho, uma a uma.

No novo livro, Pellanda diz gostar do texto de orelha, de Luiz Ruffato. A apresentação diz que Pellanda se solidariza com a fragilidade humana. E ele se sente confortável com a definição. É preciso ter alguém que faça isso, afinal, não? Principalmente em um país tomado pelo ódio e pelo rancor.

Nas crônicas do novo livro você não vai encontrar ódio. Vai encontrar amor pela cidade e pelas pessoas que habitam nela. Pelas duas garotinhas que ele carrega no colo. E até pelas árvores. Por que não? Alguém precisa nos lembrar que os guaporuvus existem, e que não são só um empecilho para o trânsito.

Que Pellanda continue nos lembrando de nossa humanidade é algo que devemos a ele.

Serviço
Lançamento do livro “Calma, estamos perdidos”
Autor: Luís Henrique Pellanda
Ilustrador: Raro de Oliveira
Data: 17 de dezembro de 2019, às 19h.
Local: Livraria da Vila (Shopping Pátio Batel, Av. Batel 1868, Loja 314)

Sobre o/a autor/a

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