Nova mostra do MAC Paraná reúne artistas contemporâneos locais e franceses

A exibição que traz para o debate as crises contemporâneas acontece de 3 de dezembro a 6 de março em duas sedes do MAC

A arte tem se colocado no centro da disputa simbólica do Brasil: seja para reescrever a história, seja para construí-la, artistas parecem retomar com veemência o caráter político da linguagem poética. Essa é uma das premissas da nova exposição apresentada pelo Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR), intitulada “Enquanto tudo queima”. A exposição, que trata da temática da pandemia, provoca o espectador a questionar os eventos enquanto eles acontecem. A exibição fica em cartaz de 3 de dezembro de 2021 a 6 de março de 2022 em duas sedes do MAC: na sala 9 do Museu Oscar Niemeyer (MON), onde o museu funciona temporariamente devido à reforma de sua sede, e na sala da Alice Araújo, no prédio da Secretaria Estadual de Comunicação e Cultura do Paraná (SECC).

Eixos

Construída a partir de três eixos, a mostra traz para o debate as crises contemporâneas e ajuda a esboçar respostas para perguntas atemporais. Ana Rocha, diretora do MAC e curadora da exposição, explica que o primeiro eixo coloca a ideia dos projetos interrompidos e da solitude, situações vividas intensamente pela maioria das pessoas durante o período da pandemia e do isolamento social: “Um museu fechado, para nós, foi muito forte. Tivemos que pensar como manter um diálogo com o público apesar do isolamento e seguir pensando as atividades do museu. Então a gente buscou artistas, no acervo, que de alguma forma pensassem essa ideia de impossibilidade.” 

A condição dos artistas brasileiros no século 21 e a crise social que decorre também da pandemia são o tema do segundo eixo. “Todos conhecemos alguém que faleceu de Covid-19 ou temos amigos que perderam entes queridos. Foram 600 mil mortos, ainda contando. E para pensar essa crise social, a gente tem que pensar que existe uma herança colonial muito forte ainda na sociedade, e pensar como a gente convive com isso e como isso reforça os problemas sociais”, afirma Ana. 

O terceiro eixo é a crise climática que assola a vida em todo o planeta. Nesse sentido, os artistas trazem reflexões sobre a relação dos humanos com a paisagem, com o meio ambiente, em épocas diferentes. Foi a partir desses desses três eixos que a curadora começou a selecionar artistas que pudessem trazer perguntas, mais do que respostas. 

A mostra de 30 obras é parte de uma série de exposições em que a equipe coloca o acervo do MAC para dialogar com artistas contemporâneos que não estão no acervo. A curadoria traz obras de artistas convidados, seguindo a lógica da remixagem. Nascida em 2019, a ideia da série é pensar o acervo do MAC como algo vivo, em constante diálogo com outros artistas e com questões contemporâneas e urgentes.

Cena do filme de Seumboy Vrainom. Foto: MAC-PR

Artistas convidados 

Os artistas convidados a compor a exposição/exibição são os paranaenses Emanuel Monteiro, Milla Jung, Isabelle Catucci e Francisco Mallmann, além dos franceses Seumboy Vrainom e Jacques Perconte, que se conectaram ao MAC-PR por meio de uma parceria inédita promovida através da Aliança Francesa Brasil, Consulado Geral da França de São Paulo e Embaixada da França no Brasil. As instituições apoiaram a mostra com o empréstimo de duas obras do Centre Pompidou, de Paris. Segundo Coline Lefèvre, diretora da Aliança Francesa de Curitiba, a missão das Alianças Francesas no Brasil é favorecer os encontros entre artistas da cena francesa e brasileira, criando pontes entre as instituições culturais francesas e os espaços culturais brasileiros.


Arte paranaense 

O trabalho da fotógrafa Milla Jung questiona a ideia que se tem da fotografia. “Ele rebate a nossa presença. É muito importante ver a obra pra entender o que estou falando, mas é interessante que a gente não tem essa dimensão utópica de uma profundidade ou da fotografia como uma janela ou registro do mundo. Ela traz de volta pra nós essa ideia da nossa presença diante da obra de arte”, diz a curadora.

A obra selecionada de Emanoel Monteiro é um desenho, a representação de uma paisagem em ruínas. Ana comenta que a obra tem “a materialidade aquosa da aquarela representada como escorridos e essa paisagem meio que vai se desmanchando. É muito interessante o diálogo que ele faz com a obra do Jacques Perconte, que fica do outro lado da sala.”

O escritor e dramaturgo Francisco Mallmann apresenta na exposição uma série de três bandeiras que remete à potência da palavra como materialidade performativa. As palavras que estão representadas nas bandeiras trazem a dimensão política da linguagem.

Isabele Catucci traz uma instalação feita de carvão e cerâmica, uma espécie de mapa desenhado no chão com pequenas peças que remetem a planetas, em uma representação entre micro e macro. De acordo com Ana, o objeto do carvão é representativo do momento em que houve queimadas no Pantanal e na Amazônia, e o elemento carbono, que está presente em todos os seres vivos, faz pensar sobre a finitude e a continuidade das coisas. “Como continuar, o que fazer, a partir desse dessa terra arrasada?”, questiona a curadora.

Cena do vídeo de Jacques Perconte. Foto: MAC-PR

Arte francesa

O francês Seumboy Vrainom se autodenomina um ecologista decolonial. A obra apresentada na exposição Enquanto tudo queima é uma produção audiovisual feita a partir da colagem de vídeos do YouTube. O artista se apropria de imagens da internet para construir uma reflexão sobre a extração do lítio, que alimenta as baterias dos celulares. O vídeo faz um trajeto desde o uso dos telefones até a extração, e das relações sociais e de poder que envolvem a remoção de um mineral em países como o Congo, na África.

Jacques Perconte, no filme O Fazedor de Tempestades, faz uma interpretação digital de imagens meteorológicas. Em filme homônimo à obra de Jean Epstein, o artista capta imagens da tempestade e do mar, fazendo pequenas distorções na câmera e no processo de filmagem, o que resulta em uma imagem que se desconstrói, como uma paisagem que está em permanente instabilidade.

“Quando recebemos a proposta de trazer obras visuais do Centre Pompidou, uma das maiores referências francesas em arte contemporânea, pensamos que o MAC Paraná era o lugar ideal para expor esses trabalhos e proporcionar os encontros com artistas locais. Ficamos felizes de saber que o público curitibano vai ter acesso à nova geração de artistas franceses. Esperamos que seja o início de parcerias mais amplas”, afirma Lefèvre. 

Para Ana Rocha, o intercâmbio com outras instituições é importante para difundir a coleção do MAC e para estabelecer pontes de circulação de artistas paranaenses. 

Artistas participantes

Participam da mostra Alfi Vivern, Alice Yamamura, Elvo Benito Damo, Emanuel Monteiro, Francisco Mallmann, Hebert Rolim, Hélio Leites, Isabelle Catucci, Iolanda Gollo, Jacques Perconte, Jussara Age, Marcelo Gobatto, Marcelo Scalzo, Maria Cheung, Milla Jung, Paulo Bruscky, Raul Cruz, Seumboy Vrainom, Didonet Thomaz, Antônio Henrique Amaral, Estela Sandrini, Gilvan Samico, Guita Soifer, Jacqueline Adam, Luciano Zanette, Márcia Parahyba, Orlando Azevedo, Wilma Martins e Wilson Alves.

Serviço – Exposição “Enquanto tudo queima” 

Data: 3 de dezembro de 2021 e 6 de março de 2022

Local: Sala 09 do MAC no MON (R. Marechal Hermes, 999, Centro Cívico – Curitiba) e Sala Adalice Araújo, localizada no hall da SECC (Rua Ébano Pereira, 240, Centro – Curitiba). 

Mais informações: www.mac.pr.gov.br

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