Música salva vidas: os melhores álbuns de 2021 até agora

Little Simz, Linniker, Steve Gunn, Pino Paladino e Mdou Moctar entram na primeira parte da lista

Estou em casa, tarde chuvosa, um dia depois de ter tomado a segunda dose de AstraZeneca, esperando alguma reação além da dor leve no braço e escutando nos fones o disco novo da Liniker, quando recebo um alô do Rogerio Galindo pelo app de mensagens.

15:50 Bitcho, buenas, na paz?

Respondo com um “Opa, Beleza?”, e continuo ouvindo o disco. Nunca me chamou a atenção o trabalho dela com a banda os Caramellows, mas esse primeiro álbum solo é bem interessante, bom de ouvir, ela canta bem, o disco é cheio de balanço, arranjos de cordas, “uns par” de sambinhas, preciso ouvir mais algumas vezes, mas na primeira orelhada eu já incluo uma das faixas na minha lista de melhores do ano. Esse é o jeito que eu costumo ouvir música desde o advento das plataformas de Streaming, separo algumas faixas dos lançamentos que mais gosto numa playlist. Começo a escutá-la em modo aleatório, e a primeira que toca é uma faixa sensacional de Pino Paladino e Blake Mills; alguns diriam que é música de velho. Bom, eu diria que não sou mais jovem, e de uns tempos para cá tenho estado cada vez menos ativo nas redes sociais. Apesar disso, em dezembro pretendo compartilhar a lista com os meus álbuns do ano. Alguns amigos fazem o mesmo: o Felipe Hirsch, o Alessandro Andreola, e outros que entendem muito mais de música do que eu. Virou quase uma tradição natalina, compartilhamos os posts com as listas pessoais e esperamos que os amigos curtam, coraçõezinhos, carinhas enfezadas, discordem, agradeçam, festejem, comentem que odeiam listas, reclamem que faltou este ou aquele disco etc.

15:59 Rogerio está digitando…

Está longe de ser uma ideia original. Desde o início, a indústria fonográfica se alimenta de rankings, e não há veículo de música que não faça os seus. Toca Little Simz, disco que já nasceu clássico. E, sim, há na nossa brincadeira um pouco do clássico Alta Fidelidade, o livro das listas do Nick Hornby. O Felipe, aliás, foi o diretor da peça teatral “A Vida É Cheia de Som e Fúria”, baseada no livro, e eu integrei o elenco da estreia aqui em Curitiba, em fevereiro de 2000. Não foi à toa que a peça obteve grande sucesso: a minha geração desenvolveu uma relação muito intensa com a música que ouvíamos. Como a maior parte das pessoas com que convivo, escutei discos desesperadamente desde que saí das fraldas, dancei Michael Jackson de meias, gravei fitas para as namoradas, tentei me vestir igual o Robert Smith, tive bandas, gravei discos solo, fiz trilhas sonoras, programas de rádio, TV etc. Quase tudo deu meio errado, mas isso não vem ao caso agora, talvez outra hora.

16:00: Cara, queria te fazer um convite…

O que vem ao caso, Steve Gunn, é que algumas poucas almas prestam atenção na nossa brincadeira. E isso, penso, levou o Rogério a me convidar para publicar a bagaça aqui no PLURAL! Que honra! Não sou crítico, nem escritor, era para ser só um post, uma piada interna, um vício, uma maneira de chamar atenção, ganhar biscoito, sei lá o quê, mas seria mentira dizer que não tenho consciência de que, através disso, algumas pessoas se conectam com artistas que talvez não chegassem a elas de outra maneira e, gostando ou não, são afetadas por aquela música. E a música, para mim, tem uma efetividade inversamente proporcional à vacina que eu tomei ontem: 10% pode salvar sua vida, 90% é descartável. Mas, como a vacina, em quase 100% dos casos ela evita que as coisas piorem. 

Eu aceitei o convite, Mdou Moctar, e isso me fez sentir quase tão especial quanto esse blues do deserto. A partir deste mês, até sabe Deus quando, passarei a publicar por aqui sobre alguns dos discos que venho ouvindo. O único critério é que serão lançamentos ou reedições mais ou menos recentes, estão na playlist que ouço no momento em que escrevo, e talvez estejam na lista de fim de ano, que agora compartilharei também por aqui. Talvez isso não vá fazer diferença na vida de ninguém, mas a música sim, ela é capaz disso. A minha, ela salva todos os dias.

Litlle Simz – Sometimes I Might Be Introvert. Melhor álbum de Rap do ano até agora, é o quarto lançado pela rapper inglesa de ascendência nigeriana. Os arranjos têm momentos gloriosos, com metais e corais que se alternam com levadas mais intimistas, bateria acústica, guitarra, baixo, beats eletrônicos e samples costurados pelo flow intenso da voz. A produção é assinada por Inflo, do coletivo de música eletrônica SAULT.

Liniker – Indigo Borboleta Azul. Primeiro trabalho solo da cantora e compositora que ficou conhecida por seu trabalho com os Caramellows. Produção muito bem cuidada, excelentes arranjos de cordas e metais conduzidos por Ruriá Duprat. Participações de Milton Nascimento, Tassia Reis e Orquestra Rumpillez.

Steve Gunn – Other You. Último trabalho do guitarrista e compositor da Philadelphia, é também o ponto alto de sua extensa discografia. Indie folk rock, guitarras e violões bem tocados, belos timbres, boas canções, o que mais você precisa?

Pino Paladino & Blake Mills – Notes With Attachments – Isso aqui é coisa fina. Pino Palladino é um dos baixistas de estúdio mais requisitados da história, e apesar do nome Italiano, é galês. Suas linhas de baixo estão em faixas de Elton John, The Who, D’Angelo, Adele, Bryan Ferry, só para citar alguns. Blake Mills é um dos guitarristas e produtores mais interessantes da nova geração, já trabalhou com Fionna Apple, Phoebe Bridgers e Alabama Shakes. Os dois sidemen se juntaram para registrar alguns temas experimentais de Pino, que passeiam entre jazz, funk, música africana e caribenha.

Afrique Victime – Mdou Moctar. Sexto álbum do guitarrista e compositor Tuareg, é o primeiro lançado pelo selo independente americano Matador. O guitar-hero nigerino costuma dizer que suas principais referências são Eddie Van Halen e música tradicional do Sahara. Sua excelente banda alterna momentos de distorção e intensidade e outros de instrumentação acústica mais contemplativa. 

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14 comentários em “Música salva vidas: os melhores álbuns de 2021 até agora”

  1. Boa, Caio. Não sabia que você esteve no elenco de “A Vida é Cheia de Som e Fúria”, essa peça marcou minha vida! Ótima parceria com o Plural, grandes indicações, adorei conhecer. Já aguardando as próximas 🙂

  2. Marcelus Vinícius Klinguelfus Borges

    Muito massa Caio, obrigado por compartilhar seu conhecimento e seus gostos musicais. Como comentou ali, essa sua apresentação desses artistas faz com que as pessoas cheguem a até eles, de uma forma que não aconteceria de outra maneira. Me encluo entre essas pessoas. Tanks

  3. Obrigada Caio! Tá tocando na radio nova (França) Point and Kill, só não tinha retido o nome da artista. Agora tô escutando o álbum dela e guardo tuas indicações pros próximos momentos preciosos onde salvo minha vida!

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