Museu Paranaense investiga as relações entre seres humanos e plantas

Projeto vai até maio com programação gratuita que envolve mesas-redondas, atividades práticas e ações artísticas

O projeto “Se enfiasse os pés na terra: relações entre humanos e plantas” toma conta da programação do Museu Paranaense (MUPA) nos próximos meses. A programação começou em janeiro e vai até maio com mesas-redondas, atividades práticas e ações artísticas gratuitas. A série de eventos promove o encontro entre pessoas que têm uma relação estreita com as plantas e o público em geral.

Fazem parte do programa coletivos indígenas, artistas e pesquisadores, além de mestres da cultura e sabedoria popular. Arquitetos, cozinheiros e produtores locais ligados à agroecologia também participam da programação. 

As plantas têm lugar de destaque no projeto. Dentre elas, estão a mandioca, o tabaco e o pau-brasil, além das sementes crioulas quilombolas, ervas medicinais e plantas ligadas a rituais religiosos de matriz africana.      

“Lembro do urucum. Quando criança, ia na chácara do meu avô, tinha aquelas sementes que sujavam tudo. Aí adulto, comecei a olhar para o urucum como uma possibilidade plástica. E tem a araucária, que é a paixão da minha vida. Verdadeiramente me emociona ver aquela semente do pinhão que se transforma nessas árvores incríveis”, diz o artista Alex Cerveny, que expõe suas obras relacionadas ao reino vegetal no MUPA.

Exposição de Alex Cerveny no MUPA. Foto: Rafaela Moura

Para a antropóloga Karen Shiratori, é urgente ter exposições que deem centralidade para as plantas, para os animais, para o universo não humano: “Todo mundo acompanha as notícias, vê as mudanças climáticas e o caos ecológico. Mas urgência não se trata somente de questões técnicas, talvez falte também reflorestar o deserto da nossa imaginação. A gente precisa pensar de outras formas, imaginar que outros mundos são possíveis”.

As plantas não existem sozinhas, tampouco a gente.

Karen Shiratori, antropóloga.

Também estão no MUPA as obras do piauiense Santídio Pereira. O artista cresceu com as plantas, no meio da caatinga. Plantava milho, comia manga no pé, deitava à sombra do marmeleiro. Quando se mudou para São Paulo, percebeu que as plantas eram essenciais em sua vida. “Faço meus trabalhos numa tentativa de ter essas plantas perto de mim de alguma maneira. Elas me alegram, me deixam feliz”, diz o artista, que se assombrou ao conhecer um adulto que não sabia que melancia dava em rama.

Somos muito alienados com relação à natureza, às plantas. (…) Se a gente não tiver as plantas, a gente vai ser qualquer coisa, mas não humano.

Santídio Pereira, artista plástico.

Mesa redonda de abertura do Programa Público “Se enfiasse os pés na terra: relações entre humanos e plantas”. Ao fundo, obras de Santídio Pereira. Foto: Rafaela Moura

Oficina e roda de conversa com benzedeiras

No próximo sábado (5), entre as 15 e as 18h, o MUPA realiza a oficina “Plantas e modos de benzimento”. No evento, as benzedeiras do Movimento Aprendizes da Sabedoria (MASA) demonstram o uso de plantas medicinais no benzimento. A prática inclui a preparação de medicamentos em forma de chá, banho e pomadas etc. por meio de partes vegetais que fazem parte de suas práticas tradicionais de cura. Serão 25 vagas e as inscrições devem ser feitas com antecedência neste link.

No domingo (6), às 10h, as benzedeiras Dona Agda e Dona Evinha participam da roda de conversa “Trajetória e práticas de benzedeiras e curadores naturais do Paraná”. O casal de curadores naturais do litoral paranaense, Aparecida Camargo e Gilson Anastácio, também compartilham suas experiências de saúde e cuidado com as plantas. Eles falam sobre o feitio do “Margoso”, garrafada preparada tradicionalmente na Sexta-feira Santa, e sobre o Gervão. Os pesquisadores Taísa Lewitzki e Zé Muniz fazem a mediação do evento.

A roda de conversa ocorre no jardim do MUPA e não é necessária a inscrição. A liberação dos lugares será realizada a partir 9h45, por ordem de chegada, até completar a capacidade do local.

Artes visuais

“Se eu enfiasse meus pés na terra: relações entre humanos e plantas”. Museu Paranaense – MUPA (Rua Kellers, 285, São Francisco). Confira a programação completa aqui. Entrada gratuita.

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