Um livro para esquecer o mundo sem culpa

Em O Enigma do Quarto 622, um escritor se vê envolvido numa investigação de assassinato

Se há algo que nos une no momento é o sentimento comum de querer escapar, nem que por um momento, da dor da realidade. A humanidade é pródiga em criar formas de fazer exatamente isso: drogas, álcool, sexo com estranhos, videogames, pura e simples alienação. Mas dadas as severas limitações orçamentárias, o veto à promoção de métodos ilegais de desconexão e a necessidade de distanciamento social, a literatura segue como boa opção. Basta achar um título que entregue uma narrativa minimamente desafiadora e cativante, com dramas e reviravoltas interessantes, mas sem profundidade capaz de estimular grandes debates interiores.

O Enigma do Quarto 622, de Joël Dicker, pontua extremamente bem nesses quesitos. Quinto romance do autor suíço, o texto conta a história de um escritor às voltas com sua nova obra e a necessidade de digerir a morte de seu editor e mentor. Trancado em casa, Joël (o personagem tem o mesmo nome do autor) só é retirado da frente do teclado pela insistência de sua assistente e pelo interesse romântico por uma de suas vizinhas.

Mas o envolvimento com a vizinha não acaba bem e o livro parece empacado. Então Joël decide tirar férias uns dias de férias no sofisticado hotel Palace de Verbier, nos Alpes Suíços. Lá acaba hospedado do quarto 621 bis, uma nomenclatura que chama sua atenção. Ocorre que, anos antes, um assassinato ainda sem solução aconteceu justamente neste quarto, que acabou mudando de numeração. Apenas um pouco curioso, Joël acaba levado por outra hóspede, uma mulher que aproveita as férias para superar um divórcio, a um mergulho na investigação do caso.

Dicker é muito eficiente em criar personagens interessantes e em entregar punhados da histórias aos poucos, mantendo o leitor entretido e interessado até o fim. Em O Enigma do Quarto 622 o leitor tem mais de uma trama para acompanhar e, curiosamente, a do autor é a menos interessante. Joël – o autor-personagem – é simplório, autocentrado e pouco cativante no papel. Mas na trama ele atrai a dedicação da assistente e o interesse de duas mulheres.

Se você relevar o protagonista, o restante é uma boa desculpa para esquecer da vida por algumas horas. Sem culpa nenhuma.

Serviço

O Enigma do Quarta 622, de Joël Dicker. Tradução de Carolina Selvatici e Dorothée de Bruchard. Intríseca, 522 páginas, R$ 64,90 (papel) ou R$ 44,90 (e-book).

Sobre o/a autor/a

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