Madona com casaco de pele, um clássico chega ao Brasil

Livro de Sabahattin Ali é lançado pela primeira vez depois de 80 anos pela Tabla

Se a literatura turca até recentemente era mal servida no Brasil, com esparsas traduções de obras importantes – penso em Memed, meu Falcão, de Yaşar Kemal, pela editora Marco Zero, nos anos 1980, e os romances de Orhan Pamuk publicados pela Companhia das Letras, logo após seus Prêmio Nobel (e somente por causa do prêmio), todos com traduções indiretas –, esse panorama tem sido mudado graças a um tradutor de turco: Marco Syrayama de Pinto.

Desde a metade dos anos 2000, Syrayana tem feito um trabalho notável vertendo O Livro de Dede Korkut (editora Globo, 2008); As Preces São Imutáveis, Tuna Kiremitçi (editora Sá, 2010); Paisagens humanas do meu país, de Nâzım Hikmet (editora 34, 2015). E agora nos brinda com o primeiro livro turco da Tabla, editora recém-nascida focada no Mundo Árabe e que promete preencher de vez esta lacuna por aqui. Madona com casaco de pele (1943), de Sabahattin Ali (1907-1948).

Acompanhamos Raif Efêndi, primeiro velho e decadente tradutor de alemão vivendo na Turquia. Todos gostam dele no escritório, apesar de seu jeito reservado e apático. Trabalha sem ânimo, cumpre todas as suas tarefas mecanicamente. Não se importa de ganhar pouco, não tenta conseguir um aumento, nada. Com sua família, mesma coisa. Contenta-se com a vida que tem. Quando cai doente, confia a um amigo uma autobiografia que escreveu sobre sua juventude.

Somos levados à Berlim dos anos 1920, para onde o jovem Efêndi se muda em busca de uma vida melhor. Lá, vemos um Raif oposto: enérgico e amoroso.  Ele aprende alemão, vive a vida corrida da metrópole europeia, e, ao se inteirar da vida artística local, fica perplexo com a pintura anônima de uma linda mulher de casaco de pele. A moça retratada lembra-lhe a Madonna delle Arpie, de Andrea Del Sarto, e ele fica quase obcecado com aquela Madona com Casaco de Pele. Um dia, por acaso, Raif encontra na rua Maria Puder, a pessoa retratada em seu quadro favorito e, aos poucos, os dois criam uma amizade e um sentimento a mais. Contar mais do que isso seria um spoiler e a intenção aqui é fazer o(a) leitor(a) correr atrás deste maravilhoso livro. De estilo límpido e fluído, é uma excelente pedida para quem quiser se iniciar na literatura turca. Desde já, um dos melhores livros do ano.

Publicado originalmente num jornal entre 1941/1942, e em formato de livro em 1943, Madona com Casaco de Pele, aos poucos, tornou-se um clássico da literatura turca; foi adaptado para o teatro e cinema. O romance tem sido cada vez mais traduzido e ganhado o devido reconhecimento no exterior. Sabahattin Ali é, por exemplo, o segundo escritor turco a ser publicado pela Penguin Classics. A história pessoal de Ali, ícone da resistência turca, é resumida num curto mas muito informativo prefácio de Renato Roschel. Que a Tabla nos traga mais Sabahattin Ali.

Serviço

Madona com Casaco de Pele, de Sabahattin Ali. Tradução do turco de Marco Syrayama de Pinto. Tabla, 232 páginas. R$ 63,00 (papel) ou R$47,25 (e-book).

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