Dietland é thriller da revanche feminina

Protagonista vai das dietas infalíveis ao feminismo quando um grupo de mulheres terroristas passa a perseguir assediadores

Um grupo terrorista de mulheres realiza ataques violentos contra homens. Um conhecido pedófilo, um fotógrafo de moda com famosa tendência a “namorar” suas modelos. A agressividade dos ataques choca, mas também arrebanha admiradoras e partidárias ao finalmente punir o comportamento misógino.

Indiferente a isso, a redatora Plum Kettle sabe que cada ciclo de dieta tem um final previsível. A cada fórmula milagrosa, depois de semanas de absurda restrição ela acaba invariavelmente traída pela fome, pelo cansaço e pela sensação de fracasso. O resultado são cada vez mais quilos na balança e uma eterna sensação de incapacidade. Agora ela está prestes a fazer uma cirurgia de redução de estômago que irá drenar todas as suas economias, mas – espera – irá salvá-la de uma vida invisível.

Mas a onda de punição a homens tóxicos e a frustração de Plum estão destinados a se encontrar. A partir daí ela vai começar a pensar na injustiça de ser mulher num mundo pensado por homens e se envolve com diversas mulheres que parecem decididas a virar o jogo num espécie de irmandade do submundo do feminismo. E até mesmo embarca num desafio para se tornar “fodível” (e que termina como uma série de encontros horríveis).

As novas amigas de Plum incluem a herdeira de uma famosa (e milionária) criadora de uma dieta “infalível”, que era um sucesso, exceto pela falta de “força de vontade” das clientes. Com a morte da mãe, a filha usa o dinheiro ganho com o bem-sucedido negócio de fazer mulheres se odiarem, para promover o tal empoderamento.

“Dietland” é um daqueles livros que é muito mais divertido de ler do que assistir. Uma versão televisiva está disponível no Prime Vídeo com dez episódios da primeira temporada. Mas a série já foi cancelada depois de terminar numa linha muito mais nonsense do que redentora. A única vantagem da série sobre o livro é a forma como ela trata, no início, a onda de ataques terroristas contra abusadores e a forma como as mulheres passam a tomar para si a tarefa de confrontar todo tipo de comportamento misógino.

No livro a trama é mais bem construída e leva Plum a um processo de autoconhecimento e libertação cheio de boas tiradas. Mas apesar da temática pesada, o texto não tem tom de militância nem discurso. É uma narrativa bem-humorada, típica da gorda que aprendeu a rir de si mesma.

Mesmo que a leitora (porque, convenhamos, não vamos ver homens lendo esse livro) não seja fã da política de extermínio de abusadores e assediadores, há muitos momentos A-há no texto, desde a hora em que Plum percebe que não, não é culpa dela a dieta não dar certo e sim parte da “estratégia do negócio” a relação dela com sua função de ghostwriter de editora de revista para adolescentes.

Sem tradução no Brasil, Dietland (Sarai Walker) tem uma boa edição em formato e-book na Amazon (Kindle) por R$ 27,90. Muito embora de uma maneira meio estranha, acaba sendo uma leitura para se sentir bem e rir entre amigas.


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