As inusitadas discussões em pleno 2021 sobre a necessidade e a segurança de vacinas contra a Covid fez com que muita gente recuasse no tempo para falar de um dos episódios mais famosos da saúde pública nacional: em 1904, a decisão do governo de vacinar a população contra a febre amarela causou uma rebelião no Rio de Janeiro.
A Revolta da Vacina tinha outras causas associadas (como a terrível reforma urbana que expulsava os pobres da região central). Mas a população de fato tinha medo de ser inoculada com um vírus – algo que não deveria mais ser o caso 117 anos depois, com tantas provas de que o processo é seguro.
Para dar uma noção mais clara de como foi o processo, o jornalista curitibano Eduardo Aguiar foi atrás do meio mais eficaz que a imprensa tem de comunicar suas ideias para o leitor: as charges e os cartuns. Na Hemeroteca da Biblioteca Nacional, ele pesquisou os principais veículos de comunicação do Rio, então capital federal, na época da vacina.
Foram selecionados 60 cartuns que mostram o clima que a cidade vivia: medo, desconfiança, revolta. Para cada um, Eduardo fez um texto explicando o que estava envolvido, contextualizando algumas imagens que para o leitor do século 21 talvez hoje façam pouco sentido (boa parte dos personagens da política da época, por exemplo, sumiu do imaginário popular).
O resultado é o livro Revolta da Vaccina, disponível de graça na Internet e que ajuda a entender as semelhanças e as diferenças entre aquele momento e o Brasil de hoje.
A diferença mais importante, talvez, está na inversão de papel dos atores. No início do século 20, era o governo, baseado na ciência do sanitarista Oswaldo Cruz, quem forçava a vacinação obrigatória, para impedir uma epidemia que poderia matar milhares de pessoas. Mas a imprensa e a população estavam contra (assim como muitos intelectuais e políticos, incluindo Rui Barbosa).
Hoje, o que se dá é o contrário: a população em geral implora pela vacina, embora alguns grupos, que aderiram à paranoia e às teorias da conspiração, resistam. E o governo, ao invés de seguir os ensinamentos de Oswaldo Cruz, nega à população as vacinas que podiam atenuar a catástrofe (já são mais de 200 mil mortos no país).
Possivelmente, os cartuns de hoje serão vistos daqui a cem anos como material para entender o período da Covid e do bolsonarismo. Quem sabe haverá um novo Eduardo Aguiar na época para explicar esse momento inusitado e terrível de nossa história.
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De acordo com seus comentários tenho certeza que este livro é muito interessante.
Como estou no Doutorado e o assunto é correlato gostaria muito de ter acesso a este livro. E o livro não está disponível na internet.
Boa noite
O livro citado não está disponível na internet. De acordo com seus comentários tenho certeza que este livro é muito interessante.
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Boa noite