Laboralivros lança mão de financiamento coletivo para publicar obras independentes

Projeto tem a força de um negócio local: desenvolve o senso de comunidade e busca o reconhecimento de seu público

A curitibana Laboralivros é mais um laboratório de livros e menos uma editora, no sentindo convencional do termo.

Lua Bueno Cyríaco e Tarik Alexandre, a dupla por trás do projeto, conseguiu entender a base do que é ser um negócio local ao desenvolver um senso de comunidade e buscar o reconhecimento de seu público.

Sem capital para investir em publicações, mas com disposição para trabalhar nos projetos que achavam interessantes, os dois optaram por um caminho já conhecido – o do financiamento coletivo.

O projeto da Laboralivros, nascido em 2016, envolve as editoras Urso e Bururu, oferece uma série de serviços editoriais (como diagramação e preparação), funciona como uma incubadora editorial e publica uma revista virtual.

Lua é natural de Brasília, mas vive em Curitiba, onde começou sua segunda graduação, em Letras – Japonês, na Universidade Federal do Paraná. Ela é quadrinista, ilustradora e artista visual. O amor pela leitura – e por cultura – se misturam em sua trajetória profissional, que envolve a edição de livros, o trabalho com animação e aulas de desenho.

Tarik é da Filosofia, com um pezinho na literatura: atua com revisão e leitura crítica (o que algumas editoras chamam de preparação). Hoje ele cursa Psicologia e já atuou dentro da Fundação Cultural de Curitiba. Os dois se conheceram por indicação de uma amiga em comum. “Na área cultural é assim, a gente tem uma função mas faz cinco coisas”, diz Lua.

As primeiras publicações, e o CNPJ de editora da Labora, no entanto, só vieram em 2018: já em meio à crise pela qual passa o mercado editorial.

Agora, a Labora conta com nove publicações bem-sucedidas no catálogo. “O financiamento tem uma coisa muito interessante que é comunidade. Então, as pessoas estão ali porque elas acreditam que podem fazer a diferença para alguém, por algum projeto, e porque gostam daquilo que financiam”, diz a quadrinista.

Lua Bueno é editora da Labora, além de quadrinista, ilustradora e artista visual. Foto: Arquivo Pessoal

A ideia é criar uma conexão entre leitores e livros, o que implica em um trabalho com tiragens baixas e preços acessíveis. “Esse livro vai encontrar uma casinha. Ele não vai ficar ali, no nosso estoque, ou no estoque de uma loja, porque as pessoas realmente estiveram interessadas em financiar aquilo”, afirma Lua.

É essa perspectiva que, por hora, tem feito da Labora uma editora possível: “Não vale a pena para gente fazer um livro que não vai encontrar leitores. […] Prefiro me concentrar ali, naquelas pessoas, e ir expandindo aos pouquinhos, porque não faz sentido para gente fazer diferente”.

Da academia para o mundo

Outro ponto interessante do trabalho do laboratório editorial é a transposição de trabalhos acadêmicos para o “mundo lá fora”.

A primeira publicação como editora, inclusive, foi uma tradução de 13 poemas japoneses. “Jûsan’nin Isshû – Treze poemas do Ogura Hyakunin Isshû” é o resultado do trabalho de pesquisa de uma colega de faculdade de Lua.

“Sempre falo que o problema da academia é que ela produz muita coisa para ficar lá, entre ela. […] Acredito que o que está na academia precisa sair um pouco também, para as pessoas saberem a importância disso”, afirma.

No forno da Labora está também o trabalho de uma professora do departamento de Letras – Japonês da UFPR. Dessa vez, a tradução será de vários contos, alguns pouco conhecidos até mesmo no Japão. “Irui Kon’in: contos fantásticos do Japão”, será finalizado e entregue aos apoiadores em setembro.

Tarik Alexandre é da Filosofia, mas trabalha na área cultural. Foto: Arquivo Pessoal

A proximidade do projeto com as narrativas da cultura oriental, claro, se deve aos estudos de Lua. No catálogo da Labora ainda constam: um livro de contos orientais de horror, narrativas fantásticas orientais sobre raposas, e contos fantásticos coreanos.

Buscando financiamento, está no ar um livro de horror inédito – traduzido direto do polonês –, e um projeto em parceria com outra editora, para viabilizar a autobiografia “H. H. Holmes, o primeiro serial killer americano”.

Independentes

Seja nas publicações ou nos serviços ofertados, a Labora se foca em projetos independentes. “A gente se encontrou no nosso trabalho, é uma forma de trabalhar com o que a gente gosta – e que faz diferença”, afirma.

A editora, por si, ainda não se sustenta. Apesar disso, a dupla quer seguir trazendo projetos interessantes, que possam ser feitos nesse ritmo mais tranquilo.

Mesmo sem ter um salário com as publicações, e do terreno incerto do mercado em meio a uma pandemia, a ideia no longo prazo é estabelecer o nome da editora. Enquanto isso não acontece, Lua e Tarik seguem atuando em múltiplas frentes editoriais. “Não é mais nosso foco principal, porém é uma parte importante porque é o trabalho que – pessoalmente – nos sustenta também”. 

Na web

Confira a página da Laboralivros.

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