“Foi tudo muito súbito”: livro de Rodrigo Garcia Lopes sobre Leminski ganha nova edição

Em entrevista ao Plural, o escritor fala do sucesso da obra, que foi premiada e esgotada há dois anos

Esgotado há dois anos, o ensaio sobre Paulo Leminski escrito por Rodrigo Garcia Lopes está prestes a ganhar uma nova edição pela Kotter Editorial, de Curitiba. A obra, originalmente lançada pela Biblioteca Pública do Paraná, dentro da coleção Roteiro Literário, foi uma das três vencedoras da categoria Ensaio Literário do Prêmio da Biblioteca Nacional em 2019. 

Sob o título “Foi tudo muito súbito: um ensaio sobre Paulo Leminski”, a nova – e ampliada – edição acaba de entrar em pré-venda. A previsão é de que seja lançada no começo do ano que vem, com foto de capa de Carlos Roberto Zanello de Aguiar e orelha de Luci Collin. 

Em entrevista, o escritor celebra sua passagem pela vida de Paulo Leminski e fala das novidades reservadas para o livro, além fazer o balanço de 2021, um ano bastante movimentado em sua carreira, e que lhe rendeu uma semifinal do Prêmio Oceanos.

Plural: Conta pra gente um pouco mais da sua relação com o Leminski? Quando vocês se conheceram e como surgiu o interesse por estudar a vida e a obra dele?

Rodrigo: Como conto no livro, na última parte, “Encontros com Paulo Leminski”, eu já tinha ouvido falar de Leminski e lido alguma coisa na antiga 8ª série, pelas páginas da Folha de Londrina. Depois, em janeiro de 1982, li uma grande matéria sobre ele na Veja. Aos 15 anos, picado pela poesia, leitor voraz e curioso, eu acompanhava os artigos que Leminski publicava nos áureos tempos do “Folhetim”, da Folha de S.Paulo, e as resenhas que ele assinava na Veja. Tinha lido um ou outro poema de Leminski e ouvido “Verdura” e “Promessas demais” no rádio e na TV. Em 1983, com 17 anos, eu cursava o segundo ano de Jornalismo na Universidade Estadual de Londrina quando caiu em minhas mãos um exemplar de Não fosse isso e era menos não fosse tanto e era quase (1980). Em julho de 1983 peguei o ônibus e fui para Curitiba, com o falso objetivo de fazer uma entrevista com ele para um jornal-laboratório que não existia (posteriormente publicada na Folha de Londrina e na revista Coyote). A entrevista, aliás, fecha esta nova edição do livro e está na íntegra. Depois foram muitos encontros e conversas até sua morte, em 1989, ano em que me aproximei mais dele por estar em Curitiba, trabalhando no Nicolau, e ele tinha acabado de voltar da temporada em São Paulo. Como afirmo logo no começo do livro, o Leminski foi um dos nomes mais importantes da literatura brasileira da segunda metade do século 20. Passou por nossa cena cultural como um meteoro, marcando o céu da literatura e imprimindo-o em nossa memória. Mesmo tendo morrido muito jovem, aos 44 anos, viveu intensamente e deixou uma obra vigorosa, atual, múltipla e relevante. Eu sabia que, cedo ou tarde, teria que encarar o desafio de escrever sobre sua obra, e o convite veio, finalmente, pela Biblioteca Pública do Paraná, em 2018.

Crédito: Kotter

Um dos capítulos foca no diálogo entre a obra do poeta e a cidade. De que maneira você observa essa troca com Curitiba?

Além da seção “Biogeografia literária”, onde fotos acompanham sua trajetória por lugares de Curitiba que ele frequentava, há um capítulo que discute essa relação, “Besta dos pinheirais”. Impossível falar de Leminski sem falar também da cidade onde viveu boa parte de sua vida: onde nasceu, estudou, trabalhou, cultivou amizades, se divertiu, enlouqueceu, amou, sofreu e, sobretudo, criou. Ele tinha com Curitiba uma relação visceral, mas a mantinha sob foco crítico constante. Leminski, como escreveu seu biógrafo e amigo Toninho Vaz, “foi um dos mais mordazes e críticos que a cidade já conheceu”. Leminski viveu intensamente a cidade, era um flâneur, tinha uma relação de amor e ódio com Curitiba, claro que sempre exagerando.

O livro foi premiado e esgotado – excelentes testemunhos de sua qualidade. Como é pra você ter essa obra reeditada pela Kotter?

O livro foi um dos três vencedores do Prêmio da Biblioteca Nacional, na categoria “Ensaio Literário”. Inicialmente, ele foi um pedido da Biblioteca Pública do Paraná,  para a coleção Roteiro Literário. É uma grande alegria, porque pude revisá-lo, acrescentar algumas coisas, com autonomia total para opinar sobre escolha de fonte, diagramação, discutir a capa com a Kotter etc. Ficou um livro belíssimo, à altura de Leminski. A bela foto da capa, de Carlos Roberto Zanello de Aguiar (o Macaxeira), captura seu astral, ele de quimono, os óculos meio tortos no rosto, soprando um dente de leão. Também criei uma galeria de fotos, com vários fotógrafos importantes e amigos de Leminski colaborando para esta edição, e manuscritos de meu arquivo pessoal e de amigos.  Outro diferencial desta edição é um Apêndice que traz uma entrevista que fiz com o Leminski quando o conheci. E tem ainda o fac-símile com uma “ementa” que ele distribuía na oficina de criação literária que fiz com ele, em 1988, em São Paulo.  

Eu vi que o título mudou. A nova edição também traz outras novidades?

O livro, a princípio, ia se chamar Habitante da linguagem, que acabou dando nome a um dos capítulos. Porém, como seria publicado dentro de uma coleção, ele tinha que se chamar Roteiro Literário – Paulo Leminski. Como tive liberdade de agora fazer um livro mais com a minha cara, fiz uma seleção de versos que poderiam dar um bom título e, trocando ideia com o Maurício Arruda Mendonça, fechei com “Foi tudo muito súbito”. Parece-me que expressa bem a urgência de viver, sua carreira meteórica, interrompida precocemente, aos 44 anos.

Crédito: Elisabete Ghisleni

O anúncio chega no fim de 2021, ano em que você também foi semifinalista do Oceanos. Pra você, qual é o saldo do ano?

Muito positivo. Pude avançar bastante no romance policial que estou escrevendo e que pretendo acabar no primeiro trimestre do ano que vem. Compus algumas canções e fechei o repertório do terceiro disco de composições autorais, que penso em gravar em 2022. Também trabalhei intensamente na edição deste livro, organizei seis plaquetes (traduções de Beckett, Kerouac, Mark Strand, Derek Walcott, Arthur Rimbaud, poemas de Fernando Alexandre), que saíram pela valorosa Galileu Edições, de Londrina. Tem também uma nova tradução, de poesia, para sair no primeiro semestre, pelo selo Penguin Companhia das Letras. Além disso, O enigma das ondas foi semifinalista do Prêmio Oceanos e está para sair em Portugal, pela Editora Officium Lectionis. E a Kotter Editorial publica ainda este ano meu Poemas Coligidos 1983-2020, que reúne, na íntegra, meus sete livros de poesia num único volume. 

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