Com a curitibana Nena Inoue no elenco, “Fogaréu” estreia no Festival de Berlim

Inspirado em história real, filme com direção de Flávia Neves fala de neurodiversidade, opressão e agronegócio

O filme “Fogaréu” estreia no Festival Internacional de Cinema de Berlim nesta terça-feira (15). No elenco, produção conta com a presença da atriz curitibana Nena Inoue, que viajou à Alemanha para participar da exibição. Competindo na Mostra Panorama, o filme brasileiro transita entre o real e o fantástico, entre o passado colonial e a modernidade do agronegócio. A diretora goiana Flávia Neves conta a história da submissão dos chamados “bobos”, pessoas neurodiversas escravizadas pelas famílias abastadas de Goiás.

Quando estava a caminho de Berlim, entre um aeroporto e outro, Nena Inoue conversou com o Plural. “O filme tem um excelente roteiro, excelentes atores e fala de uma realidade que é nossa, mas que fica um pouco escondida e travestida de uma outra coisa”, diz a atriz. “[O filme] traz uma relação de poder, de abuso, de patriarcado, uma relação violenta em vários níveis. Se a gente se preocupa com a exploração do ser humano e com a sua condição libertária, acho que tem que assistir. E dizem que o filme está lindo.”

O primeiro filme de Flávia Neves conta com atores e personagens da cidade, uma equipe neurodiversa e majoritariamente feminina. No material preparado pela assessoria do filme, a diretora defende que o cinema feito por mulheres talvez seja o que de melhor o Brasil tem a oferecer hoje. “Nós, mulheres, temos que nos preparar muito mais para disputar um lugar num mercado hostil, altamente complexo, que não foi pensado para nós”, diz a Neves. “Temos que provar a todo instante nosso talento, temos que ter projetos melhores que a maioria, para se destacar. Não nos é permitido errar e nem fazer o esperado, temos que surpreender e superar as expectativas sempre.”

A personagem Fernanda vai a Goiás Velho em busca de suas raízes. (Foto: Divulgação)

Fogaréu

O fogaréu, procissão de origem cristã reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do estado de Goiás, é realizada sempre nas primeiras horas da Quinta-Feira Santa. A retratação litúrgica da perseguição e prisão de Jesus é embasada no teatro. Ao som de tambores, os farricocos – que representam os soldados romanos – andam descalços pela cidade com tochas nas mãos, vestindo túnicas e capuzes semelhantes aos da Ku Klux Klan, porém coloridos.   

A procissão acontece em Goiás Velho desde 1745. A cidade é palco do encontro entre a jovem Fernanda e suas raízes secretas. Ela volta para a casa de um tio rico, após a morte de sua mãe adotiva, a fim de implodir certezas e deixar surgir a dolorosa verdade sobre sua origem. 

Inspirado na história de Neves, o filme trata o assunto de forma íntima. O processo de conhecer a própria história é muito semelhante entre a diretora e a personagem Fernanda. Questionada sobre o assunto, Neves diz que a história a perturbou por muito tempo até que decidisse fazer o filme.

Para Inoue, “Fogaréu” trata de uma questão universal – a relação entre opressores e oprimidos. “É a terra do agronegócio, do coronelismo. O filme é sobre isso também. Se a gente colocar a questão simplesmente dos oprimidos e os opressores, não precisa estar necessariamente nesse lugar para lidar com esse tema. É uma questão universal. Acho até que é por isso que o filme teve essa repercussão, a abordagem é feita com muita propriedade”, diz a atriz.

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