Filme mostra criação do restaurante como ato revolucionário

"Delicioso" é um dos filmes em cartaz no Festival de Cinema Varilux, que começa nesta quinta

Uma cena que serve de resumo para o cenário histórico do filme “Delicioso” acontece perto do final. O Duque de Chamfort, que serve como um retrato da aristocracia francesa antes da revolução, fica sabendo que seu antigo cozinheiro quer abrir uma casa onde vai servir refeições para qualquer um que esteja disposto a pagar. O ponto do filme é que o duque acha isso patético: a verdadeira culinária, só pode ser apreciado pelo verdadeiro gastrônomo, é uma arte: o povo em geral não tem condições de apreciar isso, e portanto servir comida requintada para eles é um desperdício e uma tolice.

O filme é sobre isso: sobre o momento em que os nobres já não são os únicos com dinheiro para fazer certas coisas, já que a burguesia está em ascensão. E algumas coisas que eram privilégios de classe, como sair de casa para comer, passam a estar ao alcance de mais pessoas. O restaurante “Delicioso”, que serve no filme como um ícone desse ponto de virada – seria o primeiro restaurante do mundo – é um símbolo de que dar comida boa a todos também é um atol revolucionário.

Escolhido para abrir o Festival de Cinema Varilux 2021, que estreia nesta quinta (25) e prossegue por duas semanas em Curitiba, o filme é um retrato histórico importante, que consegue falar de temas sérios sem ser pedante. Para isso, mistura um cenário real pré-revolucionário e personagens fictícias que o espectador acompanha não no centro dos acontecimentos, em Paris, mas no campo, à beira da estrada, onde a taverna vai mudando na mesma velocidade que o país.

Evidente que o duque é um tanto caricato. Com uma peruca que lembra o personagem de Mozart em Amadeus, ele abre o filme demitindo seu cozinheiro por uma infração ao código de etiqueta esquisito do século 18 (ele serviu batatas aos amigos do duque; e nada que viesse debaixo da terra era visto com bons olhos), e termina sendo o alvo da fúria dos burgueses perto do final.

A trama mistura esse cenário histórico com a história do cozinheiro e sua ajudante, que aparece do nada se oferecendo para ajudar na taverna. Marceron, o chef, diz que mulheres com aquelas mão de pele lisa, que nunca trabalharam, só podem ser nobres ou prostitutas. Ela se finge de prostituta para esconder que está ali para se vingar do duque, mas sua história só vai ser revelada aos poucos.

O clima histórico também vem do filho do cozinheiro, o menino Benjamin, que ajuda na cozinha mas ao mesmo tempo lê Rousseau e outros iluministas; que gosta de se informar sobre os voos de balão, uma novidade da época, mas principalmente, que espera loucamente que a revolução venha logo.

O filme faz parte de uma boa tradição do cinema francês de tratar da vida com certa leveza, mesmo abordando uma sociedade que estava à beira. do precipício. Mais do que isso, é uma felicidade poder voltar. amostra de cinema francês em sessões presenciais, depois de um ano em que a pandemia forçou o festival a migrar para a internet.

Confira os horários das apresentações no site oficial da mostra.

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