Lucas Estevan Soares filma “Coração de Neon” no Boqueirão e sai para o mundo

“Coração de Neon” mostra um bairro curitibano como síntese de um Brasil que pouco se vê nas telas; é o "Novo Cinema Popular Brasileiro"

“Coração de Neon” é um filme é, no mínimo, peculiar. O enredo narra a história de um sonhador, Fernando, que dirige um carro de mensagens ao lado de seu pai. A ambição da dupla é levar o “Boquelove” (apelido do veículo) para os Estados Unidos. Porém, uma tragédia muda tudo. A partir daí, a trama se torna uma jornada alucinante em nome do amor. A estreia do filme no Brasil está confirmada para o ano que vem, mais precisamente no dia 23 de fevereiro de 2023. 

A data (23/02/23) é tão ímpar quanto vários aspectos do longa-metragem, a começar pelo cenário. Tudo acontece no “Boquera”, para quem não está familiarizado, a gíria é o codinome de um dos bairros mais populosos de Curitiba, que já teve até slogan tirando uma onda com movimentos separatistas: “O Boqueirão é o meu país”. Isso traduz um pouco do que é ser do Boqueirão, algo muito distante de viver no Centro ou nascer no Batel. 

Lucas Estevan Soares

Diretor, roteirista e ator principal do filme, Lucas Estevan Soares explica que o enredo se passa nesse bairro porque o lugar está ligado à construção de suas memórias. “É muito importante, como roteirista, escrever sobre o que você sabe. Eu acredito que sei ‘um pouquinho’ sobre o lugar em que nasci, o bairro em que cresci”, diz ele. 

A história tem tudo a ver com o lugar, é como se a gente pudesse dizer que Soares até saiu do Boqueirão, mas o Boqueirão nunca saiu dele. O sucesso nasceu ali, em um clipe onde o cineasta atacou de rapper para brincar com o orgulho de ser do “Boquera”. O vídeo viralizou e logo a International House of Cinema (IHC), produtora de audiovisual de Soares em sociedade com Rhaissa Gonçalves, desembarcou nos Estados Unidos. Hoje a empresa também é uma distribuidora. 

E o dinheiro?

A “pegada” da IHC sempre foi o cinema de guerrilha (filmes com orçamento curto e criatividade alta), porém a sobrevivência vinha de projetos comerciais, realizados também nos Estados Unidos. Foi então que surgiu uma espécie de patrocínio surpresa. “Tivemos uma grande vantagem porque o dólar subiu muito. Recebíamos em dólar e reinvestíamos no Brasil, com uma vantagem cambial interessante. Isso ajudou muito”, afirma o diretor.

Foi esse dinheiro e algumas economias que pagaram “Coração de Neon”, produção totalmente independente e 99% curitibana. Elenco, equipe técnica e de apoio são daqui, a exceção são poucos profissionais da pós-produção. Além do câmbio favorável, novamente o Boqueirão foi fundamental, conforme explica Soares. “Existiram várias facilidades pelo fato de eu conhecer muita gente no bairro e minha família morar lá. A gente conseguiu vários apoios para a produção, que seria muito complexa em outra localização”, diz.

Investimento rendeu 

Mas afinal, quanto custa rodar um filme aqui para tentar ganhar o mundo? A IHC investiu 300 mil dólares no filme (mais de 1,5 milhão de reais), entre produção e lançamento em festivais, contudo a expectativa é arrecadar mais do que isso e garantir o ingresso dos produtores no mundo de quem faz cinema, e só cinema. A valuation (estimativa de valor) da obra hoje é de 500 mil dólares. Nos cálculos do diretor, a cifra ainda é baixa, a equipe aposta em 1 milhão de dólares diante do interesse internacional no longa e das premiações conquistadas.

“Coração de Neon” ganhou o prêmio especial do júri no Worlfest Houston, festival criado em 1968 nos Estados Unidos que revelou talentos como Steven Spielberg e Ang Lee. Ainda em território norte-americano, foi finalista de outros festivais como o Big Apple Film Festival. Mais recentemente, na França, esteve no Marché du Film, uma espécie de feira de negócios que ocorre durante o Festival de Cinema de Cannes.

Novo Cinema Popular Brasileiro 

Após a exibição em Cannes, o filme foi apontado como um exemplo do “Novo Cinema Popular Brasileiro”. Segundo Soares, o termo faz referência ao cinema novo no Brasil, que partia da máxima “uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”. “No nosso caso, também fomos independentes, desbravamos esse cinema sem recursos públicos e usando nosso próprio capital. Isso fez com que a gente tivesse liberdade criativa e pudesse apresentar nossa própria linguagem”, diz. 

Para ele, quando afirmam que “Coração de Neon” é um título do “Novo Cinema Novo”, estão na verdade colocando o filme num ponto entre as produções comerciais e as obras autorais. “É um cinema que conversa com públicos diferentes, com o que gosta de um cinema mais crítico – para levantar debates e gerar questionamentos – e também com aquele que vai para o cinema para esquecer do mundo, para esquecer dos problemas.”

Filme “Coração de Neon”

Estreia prevista para o dia 23 de fevereiro de 2023. Diretor e roteirista: Lucas Estevan Soares. Produtora: Rhaissa Gonçalves. Diretor de fotografia: Eduardo Ribeiro. Diretora de arte: Mariana Pires. Diretor de som: Gustavo Andriewiski. Elenco principal: Lucas Estevan Soares, Wawa Black, Ana de Ferro, Paulo Matos e Wagner Jovanaci.

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