Festival de Curitiba começa nesta terça celebrando o “direito à arte”

Curadores dizem que peça francesa da estreia serve como comentário à crise vivida pelo Brasil

Num país que não é muito dado a preservar tradições culturais, um evento que completa 28 edições anuais chamaria a atenção de qualquer jeito. Com as proporções que o Festival de Curitiba tomou, o espanto deve ser ainda maior. Depois de começar como um projeto pequeno de amigos, o festival hoje reúne mais de 400 atrações vindas de toda parte e movimenta o público e a economia da cidade com data marcada: sempre no fim de março e começo de abril de cada ano. Por duas semanas, parece que o curitibano vive em Edimburgo.

Dessa vez, o festival começa com a estreia no Brasil do espetáculo “Celui qui Tombe – Aquele que Cai”, apenas para convidados. Uma peça que, além de chamar a atenção pela ousadia artística, tem a ver com o difícil momento do país, segundo os curadores.

Para o ator e curador Guilherme Weber, a escolha da obra do coreógrafo, bailarino e acrobata francês Yoann Bourgeois, tem tudo a ver com o momento vivido pelo país: “[O espetáculo] é também uma alegoria à capacidade que os artistas têm de resistir em tempos de crise. Nada mais adequado para abrir o Festival, em um momento de crise nacional”. Este é o quarto ano de Weber na curadoria da Mostra, sempre ao lado do diretor Márcio Abreu.

Ambos entendem que o processo de escolha e seleção dos espetáculos é um trabalho contínuo. Segundo Abreu, o Festival de Curitiba é uma celebração do direito à arte: “Nossa curadoria é uma narrativa, insistimos nas mesmas questões e vamos desdobrando, aprofundando. Criamos possibilidades plurais e diversas de manifestação no teatro”, explica.

A ideia é dar espaço e valorizar produções diversas, com um olhar diferenciado às problemáticas ainda sem voz. “O mundo finalmente está descobrindo produções que não tinham espaço, e o Festival, que acompanha o movimento do mundo, abre as portas para essas produções. Estamos descobrindo coisas maravilhosas”, complementa Weber.

Guilherme Weber explica que não há uma distinção entre a produção local e a nacional. “Olha-se para a produção como um todo. Acompanhamos artistas da cidade assim como acompanhamos o país. Vamos dialogando, provocando esses artistas – e sendo provocados por eles”, comenta o curador. Para ele, a produção cultural da cidade sempre foi muito intensa, vanguardista – “Sempre foi um lugar muito poderoso de produção, e continua sendo. Com companhias muito jovens, ações de micropolítica muito fortes, e festivais e mostras que se organizam ao longo do ano todo. Acho que Curitiba está vivendo um dos momentos mais férteis na sua produção”, salienta.

A quarta-feira (27) começa com estreias de “Fedra”, na Casa Hoffmann; “Do Convento à Sala de Converto”, na Capela Santa Maria; “As Comadres”, no Guairinha; “Mississipi” (Mostra Satyros), no Zé Maria, e a exibição aberta ao público do espetáculo “Celui qui Tombe – Aquele que Cai”, no Guirão. A programação completa e informações sobre ingressos podem ser conferidas no site do Festival de Curitiba.

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