Criando ‘constrangimentos’, curitibana vence prêmio de artes visuais

Erica Storer de Araújo foi uma das ganhadoras do "7º Prêmio EDP nas Artes" com instalação exposta no Instituto Tomie Ohtake

Um recorte de escritório corporativo suspenso: cadeira, computador, lixo, mesa, arquivo, ventilador, vaso decorativo, descanso de madeira para os pés. Tudo isso a dois metros e meio do chão, preso por cabos. A cena é improvável, mas foi composta de objetos reais – exposta ali no salão do Instituto Tomie Ohtake. Foi com a instalação “Sonhe alto, trabalhe muito, vá longe”, que a artista visual curitibana, Erica Storer de Araújo, se tornou uma das ganhadoras do “7º Prêmio EDP nas Artes”. 

A obra é recheada de significados – brinca com a ideia do trabalho como meio para à ascensão social e coloca esse espaço, literalmente, lá no alto. A ironia permeia a linguagem por alguns meios: na suspensão; na ameaça de fragilidade, já que tudo pode ruir sobre a cabeça do expectador; nos objetos antiquados que compõem a cena, revelando que – talvez – esse modelo esteja ultrapassado. 

Instalação rendeu à Erica uma residência artística fora do país. Foto: Instituto Tomie Ohtake

Araújo gosta de explorar essas dinâmicas no seu trabalho. Sua arte, que brinca com ironia, literalidade, e as possibilidades dentro do impossível, parece ser feita para deslocar significados. A artista chama de “constrangimento” esse incômodo, e a reflexão, que suas obras geram – mas é com um sentido positivo, daquilo que revela ou apresenta algo novo.

“Tem esse constrangimento do real: aquilo é impossível, mas não é tão impossível porque aquilo foi feito”, diz a artista ao explicar que esse sentimento aparece quando encontramos algo novo – como uma situação inusitada, em que um escritório está suspenso.

Aos 28 anos, Araújo – que tem afinidade com instalações e performances – já passou com seu trabalho por países como França, Itália e Alemanha. Ela cursou Artes Visuais na Universidade Federal do Paraná, e chegou a fazer intercâmbio para a Croácia. 

Artista curitibana tem 28 anos e é formada em Artes Visuais pela UFPR. Foto:  Lorenza Cini

A graduação teve início em 2012, mas foi apenas três anos depois que Araújo encontrou seu lugar no mundo das artes – ao apresentar uma performance no circuito universitário da Bienal de Curitiba. “Foi onde eu percebi que tinha uma trajetória de pesquisa que era interessante para mim, que fazia sentido, e que eu – ali – vi um caminho”, conta sobre os primeiros passos para se reconhecer – e entender – como artista.

Hoje, ela se vê em meio a um mar de possibilidades: “Eu me considero uma artista visual que trabalha com diversas linguagens. Então eu sou artista, e isso me possibilita explorar várias linguagens, várias possibilidades”.

Para a artista, a arte é uma forma de pensar e criar o mundo, e uma maneira de compartilhar e apreciar histórias e olhares. Assim, Araújo busca – com o seu trabalho – entender as nuances da vida, de onde vem o trabalho e as nossas organizações sociais. Enquanto segue explorando os imaginários criados pela dinâmica social contemporânea, a artista agora se prepara para mais uma residência fora do país – prêmio concedido pela obra descrita no começo deste texto. 

Futuro próximo

Para quem tiver interesse, e curiosidade, de conhecer o trabalho artístico de Araújo, a performance “Como fazer um buraco em uma pedra com uma colher” será apresentada, em 2021, no Museu Paranaense (MUPA). Não há, no entanto, uma data definida, em razão da pandemia. 

“Essa é uma performance onde eu tenho várias colheres e fico tentando abrir esse buraco, com uma marreta e a colher. Será que é impossível? Mas será que é tão impossível? Se eu ficar uma vida inteira tentando abrir um buraco com uma colher, será que eu vou conseguir?”, provoca. 

https://www.youtube.com/watch?v=fWw2-MjgmEY&feature=emb_logo
Na performance “FISHTANK Express”, artista abriu empresa por quatro horas. O vídeo da ficção de trabalho foi selecionado em um edital da Fundação Cultural de Curitiba.

A performance, primeira colocada no edital do MUPA, foi eleita pela artista para seguir existindo ao longo de sua vida: “Pretendo fazer até achar que ele foi feito o suficiente. Isso pode ser um ano, mas pode ser vinte, trinta anos”, explica. Haverá, uma única pedra, um acúmulo de colheres, e – ao que tudo indica – muitas horas de apresentação. Até lá, Araújo deve seguir realizando aquilo que faz melhor: materializando o improvável para criar bons ‘constrangimentos’.

Sobre o/a autor/a

3 comentários em “Criando ‘constrangimentos’, curitibana vence prêmio de artes visuais”

  1. Esta performance “exercício de autosabotagem, como furar uma pedra com uma colher, de Araujo, foi primeiramente apresentada na Boiler Galeria, inclusive sendo vendida para um colecionador. Adoro o trabalho da Erica, uma artista comprometida, merece sempre ir alem!

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