“Encontros” mostra Paris na era do amor virtual

Filme do francês Cédric Klapisch, mesmo diretor de “Albergue Espanhol”, é divertido e inteligente

O diretor Cédric Klapisch é a prova de que os franceses também sabem fazer comédias românticas para ver no domingo à tarde, bem feliz. Ou ele é a exceção à regra, dependendo do ponto de vista. Seu filme mais famoso, “Albergue espanhol”, de 2002, marcou uma geração (OK, talvez isso seja um exagero, mas o filme é bacana).

Uma das estreias desta semana, “Encontros” é daquelas coisas raras de se encontrar no cinema: uma comédia romântica divertida e com cérebro. O filme lembra o argentino “Medianeras” (2011), que aqui ganhou um subtítulo de livro de autoajuda: “Buenos Aires na era do amor virtual”.  

Nesse contexto, “Encontros” seria “Paris na era do amor virtual”. E, assim como o exemplo portenho que dei aqui, o francês também segue separadamente dois personagens, Rémy e Mélanie. Eles não se conhecem, embora vivam em edifícios contíguos. É razoável supor que vão se encontrar em algum momento, mas, até que isso aconteça, o negócio é acompanhar as desventuras amorosas de cada um deles.

Rémy, interpretado por François Civil (de “Amor à segunda vista”), trabalha em um depósito, mas não fica claro de quê. Ele trocou a vida no interior por Paris e vive absolutamente sozinho, sem namorada nem amigos. Apesar de ser um jovem de quase 30 anos, ele é um ludista, detesta tecnologia e ignora a existência de redes sociais.

Em algum momento, a solidão começa a incomodar, Rémy se rende e entra no Facebook. Mas a contragosto.

Mélanie (Ana Girardot, de “Na próxima, acerto o coração”) levou um fora há mais de um ano e ainda não se recuperou. Ela trabalha para uma empresa farmacêutica e também tem uma vida social pífia. Diferente de Rémy, ela não se incomoda com traquitanas tecnológicas e, estimulada por uma amiga, experimenta a vida dos aplicativos de relacionamento (Tinder é mais famoso, mas ela sua Happn).

A certa altura da história – e aqui que ela começa a ficar interessante –, os dois decidem fazer terapia (com terapeutas distintos: ela busca uma mulher e ele, um senhor que está prestes a se aposentar). As sessões escapam dos clichês que costumam aparecer em filmes e só por isso “Encontros” já vale a pena. Os diálogos são inteligentes e, mesmo quando algo engraçado acontece (e existem vários momentos assim), não é um engraçado-rará. É um tipo de humor que faz você rir por dentro.

A questão aqui não é se os dois vão ficar juntos, mas sim como. E nisso o filme é bem bonitinho. A explicação por trás do título original, “Deux moi” (dois eus), é dada pela psicanalista de Mélanie e nunca uma comédia romântica foi tão… certeira.

Além de tudo, são duas horas vendo Paris de um ponto de vista nada óbvio: o mercadinho comandado por árabes é um dos pontos altos. “Existem pestos e pestos”, diz Mansour, o dono do estabelecimento (e tenho que concordar com ele).

Serviço
“Encontros” está em cartaz no Espaço Itaú, às 16h30 e 18h50 (na sala VIP), e no Cineplex Batel, às 15h05 e 19h10. (Confira os horários antes de sair de casa. Vai que…)

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