Em “Jesus Kid”, Aly Muritiba faz uma comédia com tutano

Inspirado no livro de Lourenço Mutarelli, “Jesus Kid” estreia no Cine Passeio e na plataforma de streaming Olhar Play

“Jesus Kid” faz parte de uma espécie rara: a das comédias com tutano. A começar pelo livro na origem do filme, escrito pelo paulistano Lourenço Mutarelli. Por ser capaz de criar tramas incríveis e personagens fascinantes, seus livros funcionam no cinema. Prova disso são “O cheiro do ralo” (2006) e “Natimorto” (2009). E agora, também “Jesus Kid”.

A história foi adaptada por Laura Malin e Aly Muritiba (que também dirige o filme). Nela, um escritor de livros de faroeste – ou western, como prefere o personagem – vive um momento difícil na carreira, que já não era assim tão fácil. Ele criou Jesus Kid, um caubói bonitão e forte que resolve os problemas na base do tiro. Enfim, uma figura típica do gênero.

Paulo Miklos

Pelas mãos de Eugênio, o escritor, Jesus Kid protagonizou dezenas de livros. Quando finaliza seu 38º título, o escritor vai até a editora para entregar o trabalho e receber seu pagamento. Em seguida, uma série de infortúnios desaba sobre a cabeça de Eugênio, interpretado por Paulo Miklos (da banda Titãs). A começar pelo governo do país.

Pressionado por um general de nome Olavo, o editor de Eugênio (vivido por Mauro Zanatta, um dos vários atores de Curitiba que aparecem no filme) diz que westerns não são cristãos o suficiente, ou algo assim. O fato é que ele perde a chance de publicar o livro, mas é sondado por Olavo para escrever a biografia do presidente.

Jesus Kid

Destrinchar a trama do filme muito mais que isso é roubar um dos prazeres de “Jesus Kid”. Então Eugênio aceita uma proposta para escrever o roteiro de um filme mesmo sem ter nenhuma experiência na área. Para isso, ele deve ficar trancado em um hotel chamado Prora por três meses, sem sair nem para tomar um ar, o que configuraria quebra de contrato.

“Barton Fink”

A certa altura, Jesus Kid vira um personagem de carne e osso (ao menos para Eugênio e para o público). O recepcionista do hotel, chamado Arlindo e apelidado de Chet (Leandro Daniel Colombo), parece determinado a transformar a vida de Eugênio num inferno. Nesse contexto, as barbaridades se acumulam uma atrás da outra.

A história do escritor atormentado – pela falta de dinheiro, inclusive ­– que se tranca num hotel para escrever remete a “Barton Fink” (1991), dos irmãos Joel e Ethan Coen. Aliás, uma referência que o filme admite, quando o diretor do filme dentro do filme – aquele cujo roteiro Eugênio precisa escrever – diz que ao roteirista de primeira viagem que quer uma coisa “meio Barton Fink”.

A piscadinha para os irmãos Coen não se limita a essa referência e a história é permeada por acontecimentos bizarros. Assim os personagens vão perdendo o controle da situação, às vezes de maneira trágica. É mais ou menos isso que acontece em “Arizona Nunca Mais” (1987), “Fargo” (1996) e “O Grande Lebowski” (1998), todos dos irmãos Coen.

Aly Muritiba

Porém, o diretor Aly Muritiba – nascido na Bahia e radicado em Curitiba – consegue se inspirar nos Coen da mesma forma como se inspira na política nacional: sem deixar que as citações tomem conta de tudo. Elas estão lá, mas fazem parte de algo maior. E esse algo maior é um filme inusitado e divertido pacas.

Onde assistir

“Jesus Kid” estreia no Cine Passeio nesta quinta-feira (9), às 20h15. O filme está em cartaz também na plataforma de streaming Olhar Play, por R$ 14,90.

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