“Em carne viva” narra uma história familiar intensa, de ler num fôlego só

Com escrita envolvente e personagens marcantes, Jacqueline Woodson fala também de escolhas e consequências

Que um livro de 144 páginas possa ferir tanto é algo difícil de imaginar. “Em carne viva”, de Jacqueline Woodson, mostra uma história familiar intensa, dolorosa e bonita. É de ler em um fôlego só.

A autora nasceu em Ohio, em 1963, e é uma das escritoras mais reconhecidas da atualidade. A tradução do livro é de Claudia Ribeiro Mesquita, que foi muito feliz em colocar notas de rodapé que contextualizam alguns eventos que podem ser desconhecidos para os leitores brasileiros.

Woodson apresenta a história de duas famílias negras cujos destinos se cruzam quando o casal de adolescentes Iris e Aubrey, que ainda estão no colegial, acabam engravidando. O romance começa anos depois, no Brooklyn de 2001, quando Melody, a filha deles, completa 16 anos.

A escrita não é cronológica e as personagens se alternam na narrativa. Para além de discutir gravidez na adolescência, questões sociais, educação e classe, Woodson mergulha na história afro-americana e, em especial, trata do massacre de Tulsa, ocorrido em 1921.

“Os brancos chegaram com tochas e raiva. Cercaram os carros, gritaram, xingaram de pretos como se chamassem pelo nome dele. Transformaram os sonhos da minha família em cinzas. Então minha mãe me ensinou a proteger o que me pertence. A gente se apega aos sonhos e ao dinheiro. E dinheiro de papel queima, então a gente tem que guardá-los em moedas, rolos de vinte e cinco, dez e cinco centavos. E quando forem muitos, a gente procura o homem que vende barras de ouro. E guardamos as barras de ouro sob as tábuas de madeira do chão e bem no alto dos armários. Dentro do congelador deixe que embranqueçam como gelo. E todo dia ao longo da vida a gente diz aos filhos: Não me deixe morrer sem contar que na casa inteira há algo para vocês. Algo que vocês vão precisar”.

Interessantes também são as amarras feitas pela autora. De Tulsa ao ataque do 11 de Setembro, a escritora não se intimida em tocar nas feridas da história dos Estados Unidos e, ao mesmo tempo, é respeitosa com aqueles que sentiram na pele a dor desses momentos. Neste trajeto, as referências e situações vividas pelas personagens se conectam de maneira perfeita ao longo da narrativa.

“Em carne viva” é ainda sobre escolhas e consequências. Toda história tem seu desfecho, porém esse desfecho seria diferente se eles tivessem agido de outra maneira? Esse questionamento é feito nas entrelinhas e a leitora precisa lidar com ele sozinha. Tenso e uma delícia.

Livro

“Em carne viva”, de Jacqueline Woodson. Tradução de Claudia Ribeiro Mesquita. Todavia, 144 páginas, R$ 59,90. Romance.

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