Duna é uma ópera espacial de escala intergaláctica

O capitalismo é o Grande Mal em Duna, encarnado no enredo pelo Barão Vladimir Harkonnen

Publicado pela primeira vez em 1965, o romance de ficção científica Duna, de Frank Herbert, inspirou sequências, prelúdios, graphic novels e adaptações. A primeira tentativa feita por Hollywood veio em 1984 num filme escrito e dirigido por David Lynch, que recebeu críticas predominantemente negativas. O complexo mundo criado por Herbert foi rotulado como “inadaptável” e abandonado por décadas. Agora, uma nova expedição ao mundo de Duna, comandada por Denis Villeneuve, busca construir a primeira grande franquia hollywoodiana dos anos 2020.

Dirigido por Villeneuve, que também atua como roteirista ao lado de Jon Spaihts e Eric Roth, Duna é protagonizado pelo jovem Paul Atreides (Timothée Chalamet), herdeiro da poderosa Casa Atreides. Paul é preparado pelos pais, Duque Leto Atreides (Oscar Isaac) e Lady Jessica (Rebecca Ferguson) para assumir um importante papel no futuro da própria Casa e do Império. Ele começa a ter sonhos proféticos quando o imperador concede à Casa Atreides o domínio do planeta Arrakis e de seu principal recurso natural, a Especiaria. Este presente, porém, desperta a ira da Casa Harkonnen, que dominou Arrakis por décadas. Uma guerra se forma entre as Casas, e neste cenário, Paul tenta entender seu papel no futuro do Império e decifrar o significado de visões que parecem levá-lo para junto dos Fremen, povo nativo de Arrakis.

Duna é uma opera espacial de escala intergaláctica. Com uma mitologia complexa que envolve povos de diferentes planetas, impérios, religiões, ordens, exércitos e novos idiomas, o roteiro dedica a primeira parte do filme à exposição, estabelecendo quem é quem neste universo intrincado. Esta exposição nem sempre encontra uma forma orgânica de se apresentar, provocando algumas quebras de ritmo no primeiro ato do longa-metragem. A história passa a se mover com maior fluidez a partir da chegada da Casa Atreides a Arrakis, quando os conflitos já estão estabelecidos.

É impossível ignorar o paralelo com a nossa própria geopolítica quando a Especiaria é citada como a fonte de energia mais poderosa – e lucrativa – do universo. Sua exploração desenfreada deixa poucos obscenamente ricos e mantém os Fremen na miséria. No planeta desértico, a água também emerge como um bem extremamente precioso, lembrando que Duna tem raízes cravadas num contexto bastante real.

Embora o capitalismo seja o Grande Mal em Duna, ele é encarnado no enredo pelo Barão Vladimir Harkonnen (Stellan Skarsgård) e sua Casa. O vilão, que se eleva artificialmente acima de seus companheiros de cena, flutua no ar com a desenvoltura de uma aparição em uma história de terror. Sua presença causa horror e, como o capitalismo, ele é um glutão que devora o que encontra pela frente.

Cercado de estrelas e veteranos, Chalamet torna Paul um personagem carismático que suscita preocupação no espectador a cada passo que dá em Arrakis. Outro personagem de destaque é o espadachim Duncan Idaho, interpretado com imponência por Jason Momoa. Chani, vivida por Zendaya, tem um destaque predominantemente imagético. Ela é uma esperança para os capítulos que podem vir a ser.

Com 2 horas e 35 minutos de duração, Duna se interessa mais em preparar uma história épica do que em explorar grandes temas, talvez por sua clara intenção de se tornar uma franquia ao subtitular-se “parte um”. É uma obra grandiosa para telas gigantes, ambiciosa em suas pretensões e generosa em suas promessas.

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima