Série mostra tudo que pode dar errado quando você quer ser milionário

Em cartaz na Globoplay, "Como se tornar uma divindade na Flórida" se passa nos anos 1990, quando os esquemas de pirâmide prometiam dinheiro fácil

Travis Stubbs era alcoólatra. Grávida, Krystal Stubbs, sua esposa, decidiu dar a ele um ultimato: ou ele encontra um caminho na vida e consegue prover para a família, ou ela e a criança iriam embora. Foi quando ele encontrou a salvação: criar seu próprio negócio e investir na chance de se tornar um milionário.

Stubbs vira a estrela da equipe de vendedores de Cody Bonar, seu melhor amigo. Todo dia, depois do trabalho numa seguradora, ele pega o carro e vai cada vez mais longe para recrutar novos vendedores para a Founders American Merchandise (FAM), cujos produtos cobrem todos os itens de uso doméstico, do banheiro até a cozinha.

O que o mantém empolgado e focado (e longe do álcool) são as fitas inspiradoras de Obie Garbeau II, o multimilionário líder dos representantes da FAM na Flórida e o sonho de ser um Washington, o topo da cadeia alimentar da empresa. Para tanto, precisa recrutar 50 representantes que vão trabalhar abaixo dele.

https://youtu.be/rpxhCX47lZg

Se o esquema da FAM parece familiar, é porque é familiar. A série “Como se tornar uma divindade na Flórida”, em cartaz na Globoplay, apresenta Kirsten Dunst como Krystal Stubbs e a FAM claramente inspirada em empresas como Amway e a febre dos esquemas de pirâmide nos EUA dos anos 1990. Além de Dunst, a série conta também com a cantora Beth Ditto no papel da esposa do chefe de Krystal.

Logo no primeiro dos dez episódios, Travis larga o emprego para se dedicar só a FAM, mas acaba enfiando o carro num pântano e é comido por um crocodilo. Viúva, Krystal descobre que não só a situação financeira da família é grave, como a extensão com a qual Travis investiu na FAM, comprando e estocando produtos, é ainda maior do que ela imaginava.

As cenas de garagens cheias de caixa lembram muito outras similares em “Betting on Zero”, documentário sobre a Herbalife (que esteve em cartaz na Netflix, mas hoje não está disponível em nenhum serviço de streaming no Brasil).

Mas “Como se tornar uma divindade na Flórida” não é sobre desvendar grandes esquemas de enriquecimento. Como Krystal, Dunst não está interessada em ser uma Washington nem em denunciar fraudes. As preocupações dela são mais mundanas: garantir teto e comida para a filha bebê, Destinee.

É para isso que ela, por um lado, se torna uma representante FAM no lugar do marido, mas por outro continua à procura de sobrevivência fora desse mundo.

As caixas de produtos FAM são onipresentes na série.

Mas não espere uma série dramática. O tom é de humor negro que usa e abusa do ridículo (não só da estética típica dos anos 1990) das convenções da FAM, do discurso sacerdotal do líder e da fé inabalável de Cody Bonar nas palavras de Obie Garbeau II.

E, é claro, a série se ambienta na Flórida, mais precisamente nos arredores de Orlando, com toda aquela estética kitsch típica da região. Em uma cena clássica, um Washington reúne coragem para perguntar a Obie por que, apesar de ter chegado ao topo, não está ganhando “seis dígitos” por mês, como o esperado. E recebe como resposta que ele está vivendo como um Washington Ouro, mas só é Washington Prata.

Independente de cutucar não só as promessas vazias do marketing multinível, mas o próprio discurso econômico/religioso de que só é rico quem se esforça para tanto, “Como se tornar uma divindade na Flórida” é divertidíssima.

O único problema é acabar rápido. Mas a segunda temporada já foi confirmada, muito embora a estreia, prevista para o ano que vem, ainda não tenha data certa.

Streaming

Beth Ditto é a esposa que sabe que o marido está entrando numa fria.

“Como se tornar uma divindade na Flórida” está em cartaz na Globoplay.

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