Em “Casa Gucci”, o excesso conduz a trama

Novo longa de Ridley Scott sobre intrigas familiares tem Lady Gaga em papel principal

Do drama à ficção científica, a versatilidade do octogenário Ridley Scott brilhou em 2021. Em pouco mais de um mês, o diretor lançou dois filmes radicalmente diferentes: o negligenciado O Último Duelo, que recebeu pouca atenção do público (e de sua própria distribuidora) e Casa Gucci, que estreia nesta quinta-feira no Brasil.

Casa Gucci tem direção de Scott e roteiro de Becky Johnston e Roberto Bentivegna, baseado no livro The House of Gucci: A Sensational Story of Murder, Madness, Glamour, and Greed de Sara Gay Forden, que por sua vez é inspirado nos acontecimentos que devastaram a família Gucci na década de 90. A história acompanha o relacionamento de Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e Maurizio Gucci (Adam Driver), do promissor início ao trágico fim, arquitetado pela própria Patrizia que, inconformada com o divórcio, encomendou o assassinato do marido.

Com 2h34, Casa Gucci se apoia principalmente na problemática dinâmica entre os membros da família Gucci para construir seu enredo. O filme transita entre o drama e uma comédia baseada nas atuações excessivas que compõem os personagens coadjuvantes. Enquanto todos residem em um universo onde fala-se inglês com diversos sotaques italianos, há atuações contidas como a de Adam Driver e as exageradas, como as de Al Pacino, que interpreta Aldo Gucci, e Jared Leto, que encarna Paolo Gucci. Lady Gaga prefere um eficiente meio termo, já que sua personagem pode ser encantadora em uma festa em uma sequência e vilanesca ao tentar intimidar uma rival na próxima cena.

O relacionamento de Patrizia e Maurizio é o aspecto mais interessante de Casa Gucci. O primeiro ato do filme ilustra um romance apaixonado que, a medida em que o enredo avança, se transforma com o casal. Se as intenções de Patrizia sempre parecem ter um toque de ambiguidade, a transição de Maurizio da paixão à frieza é inquietante de observar.

Em Casa Gucci, cujo nome deriva da grife de luxo homônima, a ambição emerge como a maior inimiga dos personagens, responsável pela ruína de todos eles. Apesar de ricos, eles querem mais riquezas; apesar de poderosos, eles almejam mais poder; apesar de influentes, eles exigem mais influência. Patrizia é apenas o estopim para uma guerra já declarada que coloca primo contra primo, separando parentes que se gabam de sua tradição medieval, mas não conseguem colocar as diferenças de lado para garantir a continuidade dos negócios centenários da família.

Com o elenco complementado por Jeremy Irons e Salma Hayek, Casa Gucci é um filme biográfico que funciona melhor se ignorarmos que seus eventos têm base na realidade e o considerarmos pelo que ele entrega: entretenimento descompromissado.

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