“Adeus, Idiotas” é uma comédia pastelão com muito a dizer

Violência policial e consequências do trabalho excessivo são temas de comédia francesa

Com direção de Albert Dupontel, que também roteiriza e atua no filme, Adeus, Idiotas teve uma estelar carreira na Europa antes de vir para o Brasil. Foram 12 indicações ao César e 7 vitórias incluindo Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Ator Coadjuvante para Nicolas Marié. O filme também recebeu indicações aos prêmios Goya e Lumière.

Em Adeus, Idiotas a cabelereira Suze Trappet (Virginie Efira) descobre que, aos 43 anos, tem uma doença grave e sem cura. Ela decide procurar o bebê que foi forçada a abandonar quando tinha 15 anos e, para isso, precisa enfrentar a infindável burocracia do sistema de adoção da França. Para ajudá-la em sua busca Suze recruta Jean-Baptiste (Dupontel), um técnico de TI caçado pelas autoridades depois que sua tentativa de suicídio foi confundida com um atentado terrorista, e Serge Blin (Nicolas Marié), um arquivista cego com pavor da polícia.

Adeus, Idiotas é uma comédia pastelão com muito a dizer. O roteiro assinado por Dupontel, Marcia Romano e Xavier Nemo trata de uma variedade de assuntos. O histórico de Blin com a polícia, embora retratado de forma bem-humorada, é um óbvio aceno aos crescentes casos de violência policial ao redor do mundo. A doença de Suze é consequência direta de seu trabalho, bem como o plano de Jean-Baptiste para tirar a própria vida. Ele se dedicou incansavelmente por décadas apenas para perder uma oportunidade de avanço profissional por conta da idade. A morte como consequência do trabalho é um retrato mais verdadeiro da nossa sociedade do que gostaríamos de admitir. E todo esse discurso sombrio está nas profundezas de Adeus, Idiotas, proferido de forma que, em alguns momentos, é difícil acreditar que o filme realmente se utiliza destes temas para contar sua história.

Para além da crítica social, Adeus, Idiotas conta com personagens cativantes pelos quais torcemos a cada minuto. Mesmo os coadjuvantes, como o doutor Lint (Jackie Berroyer), que fez o parto de Suze, são encantadores em suas pequenas aparições. O sistema, banalmente mau, também tem seu momento no holofote. Sua comicidade deriva de sua incompetência, exatamente o que de Jean-Baptiste tentava remediar quando era parte da organização.

Entre os diversos prêmios que acumulou desde sua estreia está o merecido César de melhor fotografia para Alexis Kavyrchine, que cria composições vivas e vibrantes, um interessante contraste com a jornada que os personagens seguem.

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