Cartas e fotos revelam a dor da doença mental

Livro de Isabella Lanave, conta dez histórias em parceria com quem passou pelo problema

Doenças mentais não são visíveis, mas é preciso vê-las. O sofrimento mental muitas vezes é silencioso, mas é preciso lhe dar voz. A arte pode ser um bom meio de colocar fim a esses tabus e a dar o nome correto aos problemas.

É o que a fotógrafa curitibana Isabella Lanave está fazendo em seu novo projeto, “Leve a sério o que ela diz”. Nele, dez pessoas que passaram pelos mais diferentes tipos de problemas contam suas histórias em cartas. E Isabella transforma isso em imagens.

Há histórias de quem tenha tido crises de pânico – e casos mais graves em que a pessoa precisou de internamento em clínicas psiquiátricas. Os personagens aqui não são meros personagens: são observadores de si mesmos, porta-vozes de uma situação.

Tatuagem de Xênia Mello. Fotos: Isabella Lanave

Mais do que personagens, Isabella diz que as dez pessoas cujas histórias estão no livro são coautores. “As pessoas foram aparecendo, uma ia indicando a outra. Eu não sabia quantas histórias seriam, mas acabamos achando que dez era um bom número”, diz ela.

Uma das histórias contadas, por exemplo, é da advogada Xênia Mello, conhecida por ter disputado a prefeitura de Curitiba em 2016. A ativista conta de sua internação e do relacionamento com o filho pequeno durante o processo.

“O seu lugar não é aqui, o seu lugar é em casa, mamãe”, o menino teria dito ao visitar a mãe na clínica, segundo Lanave. A fotógrafa e a ativista se encontraram várias vezes a partir de 2018 e, além da parceria, criaram uma amizade.

Bosque que ocupa lugar do antigo hospital Bom Retiro. Foto: Isabella Lanave

“Ela foi uma das primeiras pessoas que eu encontrei para esse trabalho. Conversamos muito e nos conectamos de uma forma muito profunda e sincera desde o primeiro encontro”, diz a fotógrafa.

Segundo Lanave, depois de alguns encontros, Xênia escreveu uma carta. “Você não é o seu desespero”, dizia o texto.

Além de Xênia, contaram suas histórias Lúcia Porto, Roseli de Mello, Taís Sanson, Lua D’Avila, Luiz Solda, Victor Hugo Turezo, Vino Carvalho, Stilo e Lucas Fier.

Fotógrafa premiada, Lanave nunca tinha feito um livro do começo ao fim. Agora, para que o projeto chegue de fato ao estágio final, o que falta é atingir a meta de financiamento coletivo: para remunerar todas as pessoas envolvidas, são necessários R$ 55 mil. Quem quiser participar e ganhar as recompensas pode colaborar acessando aqui.

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