Bruno Maron, o carioca mais tímido do mundo

Benett entrevista quadrinista que vem a Curitiba neste sábado lançar seu novo livro, Dinâmica de Bruto II

Bruno Maron é um dos autores mais interessantes do quadrinho nacional. Seu desenho ao mesmo tempo em que é sofisticado consegue ser também “escangalhado”, como ele gosta de dizer, e nunca segue uma fórmula fácil predefinida. Há sutileza nos traços e nas cores, que remetem a Millôr Fernandes ou mesmo Fabio Zimbres, com uma certeira corrosão irônica que distorce olhares, sorrisos e expressões faciais – tornando todas as pessoas incrivelmente repulsivas.

Maron é um dos quadrinistas mais tímidos, também. Timidez que ele conseguiu transformar em um posto privilegiado como observador crítico da realidade. Sendo um bom tímido, não precisa interagir muito com os seres humanos, o que lhe permite criticá-los com isenção e distanciamento privilegiados. Seu blog Dinâmica de Bruto tornou suas neuroses conhecidas. Em 2016 publicou pela Lote 42 o Manual de Sobrevivência dos Tímidos, uma obra absolutamente inusitada para o convencional mundo dos quadrinhos nacionais.

Nesse sábado (9/02) Maron estará em Curitiba, na Itiban, para lançar Dinâmica de Bruto II, pela editora Maria Nanquim. O livro foi financiado via Catarse.

Abaixo, uma breve entrevista com o carioca mais tímido do mundo.

Bruno, você continua tímido? Acho que nunca conheci um carioca tímido. Uma vez participei de um programa de rádio sobre timidez e disse que “qualquer pessoa perto de um carioca é tímida”. Mas acho que seu caso foge a regra, não?

Meu pai inventou a timidez carioca, eu só tô continuando a obra. Acredito que seja muito difícil para um tímido mudar a – aí vem um termo problemático – natureza de sua timidez. É bem engraçado como as coisas são cíclicas. Publiquei o Manual dos Tímidos como uma espécie de exorcismo, deu certo durante um bom tempo, tive alguns anos de pseudoextroversão, mas acho que tô revisitando a timidez mais aguda ultimamente. Entretanto, três longnecks de cerveja já dão uma amortizada sensacional na timidez. Timidez é coisa de auto-obcecado. 

Seu texto tem muita qualidade, o que você gosta de ler, fora quadrinhos? Qual o escritor que mais te influencia?

O Millôr foi o cara que mais me influenciou na vida, sem dúvida. Tem um livro dele que é o Livro Vermelho dos Pensamentos de Millôr. Quando eu li aquilo, fiquei escangalhado da cabeça pra sempre. Tem uma coisa legal que é encontrar humor involuntário em pessoas supostamente sérias, com obras muito densas. Pode parecer estranho, mas já dei gargalhadas lendo trechos do Nietszche e da Hannah Arendt. Aquilo é tão sério, tão bem escrito, épico e grandiloquente, que fica numa zona meio limítrofe da galhofa. A estética irrompe, a sinuosidade da construção do argumento salta pro primeiro plano. Agora, falando de romances, até hoje eu nunca li um livro tão maravilhoso quanto o Pornopopeia, do Reinaldo Moraes. 

Não sei se dá para dizer que tem uma cena de quadrinistas novos -nem mesmo se há uma cena de quadrinhos – mas a sua geração é uma das mais divertidas que surgiu. Você, Andrício, Ricardo Coimbra, Rafael Correa, Cynthia Bonacossa. Tem bastante gente legal, falta lugar para publicar, não?

Eu já me considero meio velho, e até a minha lamúria por não ter muito lugar pra publicar parece coisa de velho. Acho que é meio irreversível a decadência dos veículos impressos. Considerando a quantidade de jornais e revistas que estão sumindo, tendo a achar que a autopublicação é a saída mais viável. Eu e a Luciana Foraciepe, do selo Maria Nanquim, conseguimos financiar uma coletânea pelo Catarse. Foi uma grata surpresa.

Está achando engraçado esse novo governo? Ou trágico? Ou as duas coisas?

Eu não tô entendendo porra nenhuma, ainda não processei que o Bolso é presidente. É uma figura bem tristonha, com um discurso caquético. Poderia dizer que está um ótimo momento pra fazer humor, porém assumo resignado que a realidade tá bem mais engraçada que a fabulação da realidade. Falam sobre a automação ameaçando a força de trabalho, né? Pra mim já chegou: o governo é uma espécie de automação do humor, os humoristas não precisam mais fazer nada.

Tem medo que o retrocesso que se insinua com a “nova era” possa vir a ameaçar, de alguma maneira, autores críticos ao governo?

Não faço ideia do que possa acontecer. Até agora, o governo me pareceu incompetente até pra ser incompetente. A articulação da safadeza e da crueldade requer uma organização que talvez esse pessoal tosco não tenha. O idiota do Bolsonaro é um cara que só fala grosso com mulher e criança, lembra um pouco dessa valentia de Internet, saca? A pessoa te ameaça de morte usando um boné pra trás com o dedo sujo de Doritos. Mas é cedo pra avaliar, o bagulho pode ficar tenso sim. 

Deixaria a Damares levar seu cachorrinho para dar uma volta na praia?

Seria um insulto à inteligência canina, acho que meu cachorrinho recusaria o convite.

Não acha que tá faltando mulheres, aqui no Brasil, que façam quadrinhos com esse estilo de humor, crítico e corrosivo – para usar duas descrições simples e batidas – nessa geração de vocês? Ou eu sou ignorante e não conheço?

As últimas mulheres que me chamaram a atenção fazendo ótimos quadrinhos se chamam Aline Zouvi (@alinezouvi) e Bruna Maia (@estarmorta)

Serviço: Lançamento do livro Dinâmica de Bruto II, 168 páginas, editora Maria Nanquim, com a presença do autor. Sábado, a partir das 16h00 na Itiban Comic Shop. Av. Silva Jardim, 845 – Rebouças, Curitiba. Tel: 3232-536

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