“Belle” leva o conto de fadas “A Bela e a Fera” para o metaverso

Novo filme de Mamoru Hosoda, um dos mestres da animação japonesa, estreia nos cinemas nesta quinta-feira (27)

O metaverso é um conceito antigo e bastante explorado em histórias de ficção científica, mas nunca realizado completamente fora da fantasia – apesar das promessas feitas por certos bilionários da internet. Um ambiente virtual de possibilidades infinitas, cujas fronteiras são definidas pela imaginação do usuário. A animação “Belle” oferece uma perspectiva positiva sobre essa ferramenta que, com frequência, aparece como metáfora para a alienação de uma sociedade.

“Belle” acompanha Suzu, uma adolescente que perdeu a mãe na infância. Introvertida e com poucos amigos, Suzu evita a companhia do pai e não consegue participar de atividades que costumava dividir com a mãe. Ao receber um convite para participar de “U”, um universo digital que permite ao usuário assumir uma identidade anônima, Suzu se torna Belle.

Nesse mundo virtual, Suzu descobre que consegue cantar novamente, algo que ela não fazia desde a morte da mãe. Belle se torna uma celebridade, se destacando em “U” por sua beleza e suas músicas, que acabam por atrair um violento jogador conhecido como Dragão. Suzu não se deixa intimidar e percebe em Dragão alguém com dores reais que ela talvez possa ajudar off-line.

“Belle” faz uma interpretação nova e tecnológica do conto de fadas “A bela e a fera”, um clássico francês do século 18, abordando temas como perda, luto e aceitação. No universo fantástico do filme, uma baleia jubarte coberta por alto-falantes serve de palco para espetáculos musicais que hipnotizam 5 bilhões de pessoas.

Hosoda-san

Mamoru Hosoda, um dos mestres dos animes (as animações japonesas), cria uma dimensão digital cuja textura lembra a nossa não tão evoluída internet e, de forma semelhante à nossa versão, o ruído pode ser sufocante, mas aqueles que conseguem navegar esse oceano de conteúdo são recompensados com acesso sem precedentes a conhecimento, informação e artes.

Em “Belle”, o metaverso alcança seu potencial utópico de conexão. Através de seu avatar em “U”, a confiança de Suzu é restaurada e seus traumas começam a ser tratados e curados. Essa nova consciência sobre si mesma permite que ela reconheça os efeitos que o trauma pode ter naqueles a sua volta – inclusive no temido Dragão.

Com visuais encantadores e personagens carismáticos, o anime de Hosoda não se preocupa muito com o lado negativo do metaverso. As críticas ao “U”, quando feitas, são satíricas e podem passar despercebidas. Mas o roteiro alfineta as infindáveis propagandas que inundam qualquer ambiente virtual, fictício ou não.

“Belle”

Novo filme de Mamoru Hosoda estreia nos cinemas nesta quinta-feira (27).

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