Guillermo del Toro refaz um clássico do filme noir com “O Beco do Pesadelo”

Produção que estreia nos cinemas dia 27 revê o gênero que marcou a Hollywood dos anos 1940 e 1950

Um filme noir tem sempre a femme fatale, o detetive cínico e muito, muito dinheiro envolvido na história. A maioria das produções do gênero é sobre ganância. Sobre alguém que não aceita dividir o espólio de um assalto, ou que planeja matar o marido de uma cliente para embolsar o seguro, ou que deseja viver uma história de amor e planeja matar o marido que nega o divórcio (filmes noirs também podem ser românticos).

“O Beco do Pesadelo” não tem um detetive cínico, mas o personagem ganancioso é Stanton Carlisle. Sobre ele, a história revela muito pouco: é um homem com passado sombrio e nenhum lugar para ir. Até que ele encontra por acaso um parque de diversões e, no parque, um emprego que parece quebrar um galho na falta de algo melhor.

É o final dos anos 1930 e Hitler está prestes a invadir a Polônia. Parques de diversão eram um ramo importante da indústria de entretenimento, um submundo controlado por pilantras que exploravam pessoas tidas como aberrações e que ganhavam dinheiro com a ingenuidade alheia.

Stanton (Bradley Cooper) é um pilantra que se acha muito melhor do que o parquinho de diversão em que trabalha. Ele quer ter o próprio espetáculo e extorquir dinheiro dos ricaços da cidade e não da gente simples do interior que paga 25 centavos para ver “O Selvagem!”, em que um homem visivelmente insano ataca uma galinha viva para “beber seu sangue como se fosse um bebê mamando na mãe!”, diz o mestre de cerimônias Clem (Willem Dafoe), que também é o dono do parque. (No esforço de atrair público, todos os números são vendidos de maneira entusiasmada, com várias exclamações.)

Pois Stanton vai dar um jeito de se tornar um mentalista e, de olhos vendados, adivinhar os objetos que sua assistente extrai dos integrantes do público em um clube chique de uma cidade que parece ser Nova York. A assistente é Molly (Rooney Mara), jovem que tinha seu próprio número no parque como uma mulher que suporta “descargas elétricas mortais!”. Molly é a romântica.

Na sua ascensão aos salões da sociedade, Stanton vai conhecer uma femme fatale, a psiquiatra Lilith Ritter (Cate Blanchett). Ela o desafia durante uma apresentação e logo de cara é difícil dizer qual dos dois é menos confiável, qual dos dois é mais perigoso.

“O Beco do Pesadelo” é a refilmagem de um clássico de 1947. E não é de qualquer clássico. “O Beco das Almas Perdidas” tinha Tyrone Power no elenco e Edmund Goulding na direção. Goulding é da nobreza hollywoodiana, um britânico veterano de guerra que trabalhou com Greta Garbo e Joan Crawford em “Grande Hotel” (1932). 

Tyrone Power (de pé) em cena do clássico “O Beco das Almas Perdidas”, de 1947.

Então não é como se o filme original fosse ruim. Ainda assim, Guillermo del Toro quis dar sua versão do clássico. E o que ele entrega é um filme com um visual estupidificante. Os detalhes da reconstituição de época são tão bons que, às vezes, chegam a ser uma distração (e isso é um elogio).

Porém, há algo que parece fora do lugar. Talvez seja o fato de trazer para os anos 2020 um tipo de filme que é a cara do cinema americano dos anos 1940 e 1950. “O Beco do Pesadelo” é mais árido do que o filme anterior de Del Toro, “A Forma da Água” (2017). Neste, a misteriosa história de amor entre uma mulher comum e uma criatura anfíbia (um monstro!) tinha um certo otimismo que iluminava tudo. Mais mórbido, “O Beco do Pesadelo” não deixa nenhuma pontinha solta. Mas a amarração não satisfaz.

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