“Azor” vê a sombra dos militares que paira sobre a Argentina

Em cartaz na MUBI, “Azor” apresenta um conturbado momento político da Argentina de forma pouco comum

“Azor”, em cartaz na MUBI, tem como cenário a Argentina do início dos anos 1980, quando o país estava sob o domínio militar. O diretor do filme, o estreante Andreas Fontana, apresenta esse conturbado momento de uma forma pouco vista. Aqui, não há violência física e perseguições explícitas a jovens, jornalistas e artistas.

Primeiramente, “Azor” olha para o mundo de pessoas ricas e influentes, e o que vê, e faz sentir, é uma “sombra” que paira sobre o país. Então as pessoas estão tensas, falam baixo, escolhem bem as palavras e, muitas vezes, comunicam-se por meio de códigos. Além disso, há questões sobre as quais é melhor nem pensar.      

Sinistros

Há, também, a elite dos militares. Em uma sala de um clube militar, o espectador conhece alguns integrantes do grupo: homens sinistros, que fumam, tomam seus destilados e explicam, serenamente, sobre a necessidade de “limpar” o país. São figuras fantasmagóricas no comando.

Contudo, não podemos acusar o diretor de “pesar a mão” na concepção desses personagens. Sabemos que, na “vida real”, sujeitos assim são, muitas vezes, caricaturas de si mesmos.

Esse universo nos é apresentado por meio de Ivan de Wiel (Fabrizio Rongione), protagonista da história. Ele é um banqueiro suíço que chega a Buenos Aires para dar continuidade aos negócios interrompidos por seu antecessor, René Keys, que desapareceu.

Extravagância

Considerado um homem brilhante em sua atividade de orientar os clientes nos investimentos, Keys era ousado, tinha uma personalidade sedutora e extravagante, talvez um pouco extravagante demais para o gosto de uma ditadura. “Ninguém quer o Keys por perto”, diz um figurão.

Em conversas com Ivan de Wiel, que é tímido e muito cauteloso nos negócios, os clientes lembram as qualidades de Keys de maneira exaustiva. Todos parecem lamentar que, agora, têm de confiar seus milhões a Ivan.

Dilema

A sombra humilhante de Keys e a curiosidade de descobrir que fim levou o parceiro levam Ivan a penetrar mais fundo nas dinâmicas do país ditatorial e subdesenvolvido. E Ivan, mais do que nunca, precisa encarar um dilema: a riqueza de seu banco suíço depende, também, de assassinos.

O diretor Andreas Fontana morou na Argentina e chegou a trabalhar com cinema no país. Mas sua conexão e interesse pelo período totalitário argentino deu-se, também, com a leitura de um diário de seu avô, que passou um período na Argentina, no início dos anos 1980. O cineasta conta, em entrevistas, que, no texto do avô, há muitas informações sobre o país, mas não há uma palavra sequer sobre o essencial.

Azor

A propósito: azor, título do filme, é uma enigmática expressão em francês que significa “ficar quieto”, “cuidado com o que diz”. A definição do termo é discutida entre duas personagens durante uma festa em homenagem aos suíços que estão em Buenos Aires.  

Onde assistir

“Azor” (2021) está em cartaz, com exclusividade, na MUBI.

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