Autor curitibano discute corpo e território em novo livro

"Vertigem do chão" de Cezar Tridapalli será lançado neste sábado (30) na Livraria da Vila

Cezar Tridapalli é uma figura esguia, o óculo de grau de tonalidade escura contrastando com as feições claras. Se descreve como “um sujeito bastante sem graça (risos)”, que teve uma infância plena, recheada de lembranças brincando na rua, raia, bolinha de gude e outras brincadeiras mais que lhe ocuparam o tempo. “Não era uma coisa estabelecida em casa o contato com os livros, por isso eu digo que sou um leitor tardio”, explica o escritor curitibano. 

A relação com o livro mais às mãos veio da lista de leitura obrigatória na escola, e só tomou corpo na vida de Cezar já na faculdade. “Como todo adolescente que não sabe muito bem o quer, faz as escolhas meio no entusiasmo, escolhi Letras”, relembra ao comentar o impacto que a descoberta da Semana de Arte Moderna de 1922 teve em sua vida. Também na adolescência chegou a manter cadernos de poesia, nunca publicados: “Aquela coisa do adolescente que guarda na gaveta”, diz. 

Graduado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Cezar foi professor, leu romances, se apaixonou pelos clássicos. Mas foi só por volta de 2007, ou 2008, que a relação com a escrita tomou novos moldes: a princípio foi um desafio intelectual, será que o leitor seria capaz de manter uma grande história nos trilhos? 

Em 2011 veio o primeiro romance, “Pequena biografia de desejos” (Editora 7Letras). Em 2012, o premiado “O beijo de Schiller”. O terceiro e mais recente romance é “Vertigem do chão”, que será lançado neste sábado (30), na Livraria da Vila. Para o autor, é a experiência narrativa mais ousada até aqui: primeiro pela forma que escolheu para contar a história dos protagonistas – o bailarino brasileiro Leonel, e o atleta holandês Stefan. Embora distintos, os dois personagens, e os cenários que os cercam, se mesclam sem muito aviso. “Vou precisar de um leitor atento”, alerta. 

Parte da sacada de “Vertigem do chão” é justamente isso: mostrar como essas histórias que partem de sujeitos individuais podem, no fim, se misturar. “Via os sistemas musculoesqueléticos sob as roupas de quem passava. Nos jovens, os sistemas se fortaleciam, nos velhos a decadência franca, a míngua”, descreve o autor durante as primeiras observações dos personagens sobre o corpo. O corpo é, inclusive, tema da investigação de Cezar, que se debruça sobre uma série de limites – geopolíticos, físicos, de crenças e valores – para falar de identidade. Aqui mora a segunda ousadia, abordar  – de um ponto de vista humano e múltiplo – questões como xenofobia, homofobia, islamofobia. “Tenho que ler o suficiente para transformar isso em um material ficcional crível, verossímil, isso torna ele [o livro] mais arriscado”, salienta. 

A questão, para Tridapalli, não é levantar uma bandeira ou tomar um partido, mas sim, reproduzir uma espécie de arena em que acontecem os conflitos humanos – uma simulação fictícia da vida real. “A literatura está aí para falar de um indivíduo, como é que a experiência se dá no indivíduo, no sujeito mesmo”, afirma o escritor. No fim das contas, “Vertigem do chão” quer nos mostrar, justamente, os conflitos e contradições de todos os lados, fazendo-nos sentir o aturdimento de ser humano mesmo com os dois pés firmes no chão.

Serviço
Lançamento do livro “Vertigem do chão”
Quando: 30 de novembro (sábado), das 16h às 19h
Onde: Livraria da Vila, no Shopping Pátio Batel

Sobre o/a autor/a

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