Alain Delon, o símbolo de uma geração

Ator francês decidiu fazer suicídio assistido após carreira emblemática no cinema

As notícias tristes sobre o ator Alain Delon nos últimos dias causaram um choque no mundo todo – especialmente na geração que hoje está acima dos cinquenta anos e que viu o ator no seu auge. Delon, hoje com 86 anos, convive desde 2019 com as sequelas de um AVC e anunciou que pretende realizar um suicídio assistido.

Para os mais jovens (especialmente para os não-cinéfilos) talvez o nome de Alain Delon não chame mais tanta atenção, e pode ser que tenham se interessado pela notícia mais pela discussão que se seguiu sobre a validade ética do suicídio assistido (permitido na Suíça, onde vive hoje o ator). A busca “Quem é Alain Delon” subiu no Google e outros mecanismos do gênero – o que deve causar espanto para quem viveu os anos 60.

Delon talvez tenha sido o homem mais belo da história do cinema. Seus traços eram tão marcantes que chegaram a ser uma espécie de sinônimo para homem bonito, como prova a música “Balada do louco”, dos Mutantes. “Se eles são bonitos, sou Alain Delon / Se eles são famosos, sou Napoleão”, afirmava a letra, de 1972.

A carreira de Delon no cinema começou 15 anos antes disso, em 1957. Até ali, aos 22 anos, ele tinha feito vários tipos de trabalho, começando como aprendiz de açougueiro. O início da trajetória artística aconteceu de maneira curiosa. Depois de fazer amizade com alguns atores, o jovem Delon resolveu ir assistir aos filmes do festival de Cannes. E claro que num ambiente daqueles muita gente percebeu que alguém com aquele rosto precisava estar na tela.

Logo no mesmo ano veio o primeiro filme. Mas foi em 1960, com “O Sol por Testemunha” que a carreira dele decolou. O filme, levemente inspirado no livro “O Talentoso Sr. Ripley, de Patricia Highsmith, que depois renderia outras adaptações cinematográficas explodiu. E a partir dali Delon seria chamado para estrelar os filmes dos diretores mais importantes da França e da Itália.

Nos anos seguintes, trabalhou Visconti, Antonioni e com Louis Malle, entre outros. Fazia muitos filmes e se tornou rapidamente um astro daqueles que só com o nome é capaz de arrastar o público para as salas de cinema. Também estreou no teatro em 1961 e, já como estrela internacional, assinou um contrato com a MGM, um dos maiores estúdios de Hollywood.

O público americano, porém, nunca se encantou com Delon tanto quanto os europeus, e foi fora dos grandes estúdios de Hollywood que ele seguiu com sua carreira. Nos anos 60 e 70, ficou conhecido também por namorar várias estrelas de cinema – a imprensa insistia que ele tinha um romance com a igualmente bela Brigitte Bardot, mas os dois sempre negaram.

A carreira de Delon sofreu abalos com alguns escândalos. O set de filmagens de “A Piscina”, um thriller de 1969, em que ele contracenou com uma de suas namoradas, a atriz Romy Schneider, foi abalado quando o guarda-costas do ator foi encontrado morto. O escândalo só piorou quando se descobriu que além do assassinato o local tinha sido palco de festas lascivas com participação de Delon e do futuro primeiro-ministro Georges Pompidou.

Em 2001, depois de mais de 80 filmes, Delon anunciou que não queria saber mais do cinema. Além de atuar como empresário, passou a fazer trabalhos para a tevê. Mesmo assim, em 2019, já aos 84 anos, recebeu uma Palma de Ouro Honorária em Cannes, o festival que o descobrira 62 anos antes. Embora tenha sido uma consagração, o prêmio também causou polêmica, especialmente com feministas e ativistas de direitos humanos reclamando da homenagem ao ator, que havia admitido ter batido em mulheres.

O AVC de 2019 tirou Delon de vez da vida pública. Já idoso, ele se retirou em sua casa em Genebra e só voltou a ser notícia agora, quando informou aos filhos que gostaria de realizar o suicídio assistido. Não se sabe ainda se isso de fato ocorrerá e quando, mas certamente será um marco na história do cinema francês: o maior astro das telas do país terá chegado a seu fim.

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