Chineses estão dominando o mundo, e um filme explica como

“Indústria Americana”, em cartaz na Netflix, explora contraste entre trabalhadores da China e dos EUA

A coisa mais impressionante do documentário “Indústria Americana” é que ele mostra na prática como os chineses lidam com questões trabalhistas. A China, basicamente, ignora coisas como folga e fim de semana e, quando não podem ignorá-las, fazem tudo para passar por cima delas. Como um trator.

O comportamento chinês impressiona ainda mais por aparecer no filme em contraste com as regras e hábitos do Ocidente. “Indústria Americana”, na verdade, é sobre esse contraste.

O bilionário chinês Cho Tak Wong é dono da Fuyao Glass. Segundo a revista “Forbes”, Cho é hoje o milionésimo quinquagésimo quarto homem mais rico do mundo (e o 114º da China), com uma fortuna estimada em US$ 2.2 bilhões, quase R$ 9 bilhões. Sem querer entupir o texto de números, mas para dar uma ideia: o homem mais rico do mundo, lembre, é Jeff Bezos, dono da Amazon e de uma fortuna de U$S 131 bilhões (pouco mais de meio trilhão de reais).

Em 2014, Cho tomou uma decisão ousada – ou mesmo inconsequente, na opinião de alguns conterrâneos. Ele comprou uma fábrica da General Motors que havia fechado em meio à crise de 2008 em Cleveland, no estado de Ohio. Foi notícia no mundo inteiro. Um empreendedor chinês investe US$ 500 milhões em território americano, cria mais de mil vagas de emprego do dia para a noite e vira uma espécie de herói local em Cleveland.

Cho fabrica vidros automotivos e vende para fábricas da Fiat, da Ford e da Audi, entre outras. Para tocar a filial americana, ele envia aos Estados Unidos vários homens de confiança e dezenas de empregados chineses. O objetivo é fazer com que a fábrica comece a dar lucro o mais rápido possível. Os chineses entendem do riscado e precisam ensinar e supervisionar os americanos.

É quando as coisas se complicam (e o documentário fica ainda melhor).

Os chefes chineses acham absurdo dois dias de folga na semana. Na China, os empregados da Fuyao estão acostumados a folgar dois dias no mês. Quando folgam!

Em pouquíssimo tempo, os chefes percebem que os americanos não estão dispostos a trabalhar tanto quanto os chineses e nem a ganhar tão pouco. Eles começam a reclamar da pressão, da cobrança e da falta de contrapartidas da empresa. E planejam organizar um sindicato. A decisão de criar ou não uma entidade para brigar pelos direitos dos trabalhadores divide os funcionários (muitos não querem perder o emprego mais uma vez) e faz com que os dirigentes da empresa apelem até para uma empresa especializada em convencer trabalhadores a não formar sindicatos (existe isso na América e os caras ganham fortunas).

O diretor Steven Bognar e a diretora Julia Reichert, por algum motivo que não fica claro no filme, conseguiram ter acesso privilegiado à empresa, aos funcionários e até ao bilionário Cho. E tudo isso funciona muito bem em favor da história.

O que os chineses entendem como obrigação de um trabalhador é tão diferente das ideias ocidentais que os chefes orientais não se importam de aparecer na frente da câmera dizendo que os americanos são preguiçosos, que as pessoas devem, sim, sacrificar sua vida pessoal, sua saúde física e também a mental para aumentar os ganhos da Fuyao. (A rima foi sem querer.)

No fim, você entende por que – e como – os chineses estão dominando o mundo.

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