#piratasnaproa: TUDO ISSO, por ‘isso’?

“Anima-te por teres de suportar as injustiças; a verdadeira desgraça consiste em cometê-las.” Pitágoras   Uma das grandes dificuldades que passamos na história moderna da humanidade, desde que nos tornamos mercantilistas, é justamente precificar corretamente o trabalho do outro. Fatores […]

“Anima-te por teres de suportar as injustiças; a verdadeira desgraça consiste em cometê-las.”

Pitágoras

 

Uma das grandes dificuldades que passamos na história moderna da humanidade, desde que nos tornamos mercantilistas, é justamente precificar corretamente o trabalho do outro. Fatores econômicos e sociais ditam o processo de valor na força de trabalho de pessoas, grupos e nações.

 

A cultura política influencia, em sua forma justa ou injusta de entendimento.

Por exemplo, mesmo em nossos atuais tempos de mais pleno esclarecimento, ainda existem legislações que permitem o trabalho semi-escravo em fábricas de eletrônicos em diferentes partes do mundo.

 

Apesar disso, algo que nunca deveria ocorrer é a falta de respeito pelo trabalho alheio.

Tem uma historinha famosa (em diferentes versões), mas que entendo ser muito valioso contá-la novamente para falar sobre o tema que destaco hoje.

 

“O dono de uma grande fábrica teve uma de suas máquinas danificadas e por isso parou a produção gerando um prejuízo quase que imensurável. 

Vários técnicos foram chamados e nenhum deles resolveu o problema.

Desesperado pelo tamanho do prejuízo acumulado por conta do equipamento parado, procurou o melhor técnico do mercado.

 

Depois de alguns dias, o técnico chegou.

Olhou a máquina por alguns minutos, alisou algumas peças, fez algumas perguntas.

Tendo isso feito, deitou no chão, pediu para lhe alcançarem uma chave tamanho 13, apertou um parafuso na base da máquina. Ao sair debaixo dela, ligou-a e a fez voltar ao trabalho. Todos ficaram maravilhados com a velocidade e o fato da máquina voltar a produzir. O mais feliz de todos foi o dono da máquina

.

Enquanto comemoravam, o técnico se concentrava em escrever a ordem de serviço e de pagamento.

 

– O que é isso? TUDO ISSO, POR ISSO? Cobrar USD 50 mil por apenas um aperto de parafuso?

– Não senhor, o senhor não entendeu. Para apertar o parafuso cobrei apenas USD 100,00. Os outros USD 49.900,00 é pelo meu conhecimento exclusivo de saber qual o parafuso apertar.

Calado e envergonhado, o homem pagou pelo serviço.

 

O universo da tecnologia vive dois extremos absolutos: um é a grande movimentação de dinheiro quando uma solução é validada como necessária e outro extremo é quando os profissionais precisam fazer muito para mostrar os resultados e com isso, ter o “direito” de receber por seu trabalho, muitas vezes já realizado.

 

Para me fazer entender, vou citar duas situações que ocorreram em minha carreira como profissional em Tecnologia da Informação.

 

Primeira, aos meus 17 anos. Eu CODEI (desenvolvimento de software pela atividade de digitar códigos de computador que resolvem diversos e complexos problemas) um sistema que resolvia a entrada e saída de carne vinda do abatedouro particular da dona de um pequeno supermercado na cidade de Colombo, onde eu morava e estudava. Este desenvolvimento foi encomendado pela própria dona, depois de seu neto falar sobre minha capacidade de resolver este tipo de problema, apesar de minha pouca idade e experiência.

No dia que ela me recebeu e explicou o problema, eu comentei que levaria uns 2 meses para desenvolver e cobraria (trazendo para valores atuais) R$ 2 mil reais (o que é muito barato por um software). Ela concordou e com isso comecei os trabalhos. Dentro do prazo especificado, entreguei a solução com requintes de simplicidade e designer de produto. Deu certo, tanto que o pessoal da açougue começou a usar imediatamente a solução. Entretanto, mesmo reconhecendo que o problema foi resolvido, algo que ela não acreditava que eu conseguiria, na hora de efetuar o pagamento ela questionou o valor e a valorização do meu trabalho. Questionou o fato de eu não ser um especialista e por este motivo eu não poder cobrar como um, mesmo todos sabendo que ela tinha concordado e que o valor estava baixo (mesmo em valores de hoje). 

Quando seu neto veio em minha defesa, ela disse: como vocês querem que eu pague TUDO ISSO, POR ISSO de trabalho?

Eu trabalhei horas. Eu estudei 3x mais para acertar as equações. Estudei 5x mais horas para entender o problema e pesquisar sobre as demais soluções que tinham no mercado e como eram tratadas (todas bem mais caras, por isso ela nunca contratou). E mesmo assim aquela linda e gananciosa senhora, achava que não valia o meu trabalho.

Depois de muita insistência, ela aceitou pagar o que foi antecipadamente combinado. E me incomodou por mais de um ano para ficar treinando seus funcionários.

Parece natural isso acontecer com o menino e sua inexperiência profissional, mas veja a segunda situação.

Hoje eu sou empresário no ramo de soluções de inteligência artificial. A mais conhecida é o Robô Laura, uma solução que salva mais de 10 vidas por dia.

Apesar de reconhecidos os resultados, passamos por um problema idêntico com uma grande fábrica de motores no mercado em Curitiba.

Eles nos procuraram para desenvolver uma solução para a equipe de manutenção do parque de máquinas. Pediram para minerarmos os dados (que segundo eles seriam muitos) para identificar com PREDITIVIDADE os riscos de uma máquina parar por causa de problemas de manutenção.

Topamos o desafio e frisamos que precisávamos dos dados.

Combinamos os valores antecipadamente, montamos o escopo de trabalho e delimitamos as responsabilidades.

Já no começo dos trabalhos, percebemos a dificuldade cultural de “entenderem” o que estávamos construindo e mesmo com a determinação do diretor da área, os caras boicotaram absurdamente as nossas solicitações.

Levamos 3x mais tempo para conseguir os supostos dados em grande quantidade e, quando os recebemos, não passava de 10 GB em planilhas eletrônicas. Isso não daria nem para trabalhar num BI, imagine num modelo de Inteligência Artificial.

Mesmo assim fizemos os trabalhos, complementados os dados com informações públicas, incrementamos os valores com dados de fornecedores, fizemos a “lição de casa” para entregarmos o combinado.

 

Quando o fizemos, todos reconheceram a entrega e que tínhamos conseguido desenvolver a solução. Entretanto, novamente por não sermos uma grande empresa, fomos desqualificados pelo compras da “grande fábrica de motores” com a seguinte e surpreendente frase: TUDO ISSO, POR ISSO de projeto? 

 

Eu não acreditei na coincidência. 

Entretanto, desta vez, não tinha o neto de alguém para nos defender.

Recebemos menos da metade do que foi combinado na prova de conceito, pois era isso ou brigar na justiça por anos contra a “grande fábrica de motores”.

 

Não importa o tamanho do contratante. Quando as pessoas querem cair na desgraça de cometer uma injustiça, seja ela qual for, isso vai acontecer e ninguém vai medir o dano.

Isso é matéria prima pronta para o descaso e abuso.

É essência para o dano social de explorar o próximo.

Faz parte de um DNA imoral, justificado pelo comportamento comercial de gerar negócios e suportá-los.

 

E vc SER HUMANO livre, conectado e inovador, considera-se justo ou injusto frente o trabalho alheio?

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima