Café no Rebouças homenageia personalidades de esquerda e fomenta os pequenos produtores

Manifesto Café, em Curitiba, reabriu com atendimento presencial após dois anos

O barista curitibano Rafael Suzuki, 36 anos, despeja água quente no coador de café. Espera o líquido descer pelo filtro de papel e, em seguida, serve a bebida numa canequinha com o rosto de Mao Tsé-Tung.

Atrás dele, o balcão é decorado com uma bandeira vermelha do MST (Movimento Sem Terra) e, no resto do local, imagens de ícones de esquerda como Chico Mendes, Marighella, Socrates, o cacique Raoni Metuktire e, claro, Che Guevara, enfeitam as paredes.

Nas mesas, adesivos com o rosto de Karl Marx com boca e nariz cobertos relembram que o uso de máscara ainda é recomendado no local. Como é óbvio, o nome da cafeteria faz referência ao Manifesto do Partido Comunista, escrito por Marx e Friedrich Engels, em 1848.

Rafael Suzuki, 36, sócio do Manifesto Café. Foto: Andrea Torrente/Plural.

“Somos um café socialista”, resume Suzuki, um dos cinco sócios da casa ao lado de Bruno Goy, Fernando de Liz, Fábio Meger e Guilherme Penteado. “A ideia é valorizar o produtor, a torra, o atendimento e os clientes por meio de nossas ideias políticas”, explica o barista.

Segundo ele, o ideal socialista se concretiza no dia a dia por meio do respeito aos insumos e ao trabalho seja dos baristas e dos produtores de café. A casa compra grãos apenas de agricultores familiares e cafeicultores das principais regiões do país: do Norte Pioneiro do Paraná à Bahia, passando por São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo.

Ícones da esquerda e da revolução comunista decoram o local. Foto: Andrea Torrente/Plural.

“Não pechinchamos no preço, pagamos o que o produtor está pedindo e compramos só de produtores pequenos que, às vezes, produzem apenas oito ou dez sacas. Os maiores produtores são de porte médio, com 2 mil a 3 mil sacas”, explica o barista.

Os grãos são torrados no laboratório, que fica nos fundos da cafeteria, e de lá vão direto para a extração pelos mais diversos métodos: da tradicional máquina para espresso aos cafés preparados na prensa francesa, Hario V60 e Chemex.

Além dos cafés especiais, cardápio tem torradas e doces como cookies. Foto: Tami Taketani/Plural.

O café torrado, em grãos ou moído, também é comercializado sob a marca Flama e está disponível para ser levado para casa ou à venda no clube de assinatura: são dez planos a partir de R$ 48 ao mês com entrega para todo o Brasil.

Suzuki garante que os preços são mais acessíveis que em outras cafeterias da cidade que trabalham com o mesmo conceito de cafés especiais (categoria que engloba as bebidas que recebem pelo menos 80 pontos numa escala até 100, segundo a metodologia de avaliação sensorial da SCA, a Specialty Coffee Association).

Thaina, Rafael, Arick e Fernando: equipe do Manifesto. Foto: Tami Taketani/Plural.

O coado de 240 ml custa R$ 4,85. O espresso, que na verdade é um duplo ristretto, sai por R$ 6, valor que segundo Suzuki é cerca de 30% mais barato que em outras casas. Para acompanhar tem torradas de pão artesanal e outros quitutes como cookies e empadinhas.

O respeito ao meio ambiente também é uma marca da casa que instalou filtros na torrefação para evitar que fumaça e fuligem do café poluem o ar. Já o lixo orgânico é encaminhado para a horta urbana da Associação Casa da Videira, no bairro São Francisco.

Café funciona nesta portinha na Av. Silva Jardim. Foto: Tami Taketani/Plural.

A cafeteria inaugurou em janeiro de 2018, quando o país já estava polarizado politicamente. Mas de lá para cá, com a eleição de Jair Bolsonaro à presidência em novembro daquele ano, a distância só aumentou, avalia o empresário.

“Como estamos sempre de porta aberta, entram pessoas de todos os posicionamentos políticos. A maioria nos apoia, mas eventualmente tem um ou outro cliente que, quando se dá conta de onde está sofre o mesmo efeito do cordão de alho para os vampiros, vira as costas e sai. Outros só percebem depois de fazer o pedido, mas como aí é tarde demais, tomam o café e vão embora”, explica divertido o barista.

Apesar do posicionamento ideológico escancarado, a casa nunca sofreu ameaças a não ser alguns ataques esporádicos nas redes sociais.

Café é extraído pelos mais diversos métodos: do espresso ao coado. Foto: Andrea Torrente/Plural.

“Marx e Engels são nossas maiores referências. Todos dia tentamos colocar essas ideias dentro do negócio, mas é um desafio aplicar nossa ideologia no sistema capitalista”, reconhece Suzuki.

Após dois anos fechado por causa da pandemia da Covid-19, o Manifesto Café reabriu há pouco mais de um mês com atendimento presencial. Por ser pequeno e ter pouca ventilação, o espaço ficou fechado todo esse tempo para preservar a saúde de funcionários e clientes, mas agora uma minirreforma no local passou a a garantir uma melhor circulação do ar.

Serviço

Av. Silva Jardim, 837 – Rebouças, Curitiba – (41) 99919-1973. De segunda a sexta das 9h30 às 18h30; sábado das 10h às 16h30. Instagram: @manifestocafecwb.

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