Guaratuba oferece belo mar e praias, mas deixa a desejar na comida

À beira-mar é difícil encontrar opções que vão além de peixe frito, porções e torre de chope

Oito da noite num dos principais restaurantes da Avenida Atlântica, centro de Guaratuba. Indagado se há alguma sugestão da casa, o garçom abre o indicador e o polegar e faz um sinal no ar: “O mignon, oh, assim, dessa altura”. Afinal, curitibano gosta de filé, e errado ele não está.

Naquele instante uma fresca brisa marinha cruza a avenida, invade a mesa e traz uma proustiana memória de lulas e camarões frescos. O filé mignon, obviamente, está descartado. Optamos por moqueca de peixe (espécie não informada, mas pela textura parecia cação). A única coisa memóravel do prato foi o preço (R$ 170). Serviu duas pessoas, sem sobrar.

Nas 72 horas que passamos na cidade foi difícil encontrar opções que fossem além de porções fritas, torres de chope ou variações do mesmo prato em que o que muda é apenas o filé do peixe: linguado e congrio, geralmente.

Moqueca servida num dos restaurantes à beira-mar em Guaratuba. Foto: Andrea Torrente/Plural.

No mais antigo hotel da cidade, localizado a uma quadra da praia, o extenso cardápio à la carte só traz duas opções à base de peixe: a clássica lula à dorê e um fettuccine ao molho Alfredo e camarões. Para um italiano, misturar creme de leite e manteiga com o delicado sabor do crustáceo soa um pouco como um sacrilégio. Mas, sobretudo, um desperdício de sabor.

O resto do menu tem hambúrguer, filé mignon e umas massas, como alho e óleo. O carro-chefe parece ser a costela assada servida aos domingos, como avisa o carro de som que circula pelas ruas.

Foi aqui que pela primeira vez provei um Aperol Spritz feito com Moscatel no lugar do Brut. O cardápio não avisou sobre a troca e o resultado foi um drink extremamente adocicado e enjoativo, o que me fez entender porque este clássico é feito com espumante seco e não doce, o que traz acidez e frescor.

Nove da noite do segundo dia, em outro dos principais restaurantes da Avenida Atlântica. Uma cover band de pop e rock toca no terraço. A brisa marinha abre o apetite e é mais um convite para aproveitar as iguarias que o mar oferece. O pedido seria um prato surf (R$ 95), uma espécie de PF com linguado à milanesa, casquinha de siri, molho de camarão, salada, arroz, feijão e fritas, que serve duas pessoas. Como é difícil escapar das frituras, apostamos todas as fichas nos acompanhamentos.

Mas o garçom chega com um balde de água fria. E não foi para manter o espumante gelado. “Ih, isso aí vai demorar uma hora e meia para sair”, avisa. Desistimos e apostamos numa porção de lula à dorê. O molusco era macio por dentro e tinha um fino empanado: o que estragou foi o tempero com orégano (ou talvez fosse tomilho).

Bolinho frito recheado de camarão (R$ 6) do Kitutes da Mirna. Foto: Andrea Torrente/Plural.

Atrás do Morro do Cristo, no início da Praia Brava, um barzinho tem uma localização privilegiada. Afastado da muvuca, tem a sorte de poder aproveitar a sombra da Mata Atlântica. É o início da tarde e a fome, mas sobretudo o cardápio, convidam para petiscar: novamente lula à dorê (R$ 60).

Sem avisar, o garçom só traz meia porção (R$ 30) porque, diz, era o que sobrava na cozinha. Melhor assim: estava dura por dentro e esturricada por fora. Tivesse perguntado se podia complementar com meia porção de qualquer outra coisa – camarão, fritas, aipim – a resposta teria sido sim.

Não foi um caso isolado. Falta de atenção e escasso interesse em oferecer mais opções foi o que mais se viu por aí, com prejuízo para os clientes e para os próprios estabelecimentos, que poderiam lucrar mais.

No almoço, a solução para matar a fome gastando pouco foi apostar nos quitutes da Kitutes da Mirna, uma simples barraquinha de frente para o mar, perto do Morro do Cristo. Peixe frito por peixe frito, preço vira critério de desempate. Valem a pedida o bolinho de camarão (R$ 6), frito claro, e o pastel de camarão (R$ 10). Frito, óbvio.

A água do mar estava quente e transparente, e admirar o pôr-do-sol de cima do Morro do Cristo é um espetáculo. A subida é fácil e não leva mais que cinco minutos.

Muitas casas servem salmão e bacalhau que, obviamente, são importados e chegam congelados. Pena que não se encontrem melhores opções gastronômicas em Guaratuba, sobretudo de peixe fresco. Um ceviche, talvez. Ou um filé levemente grelhado. Que tal algum prato com toque asiático?

O mar está aí. O peixe que sai das redes pela manhã cedo, já poderia estar na mesa no almoço. Para comer cru mesmo, só com umas gotas de limão e uma pitada de sal. Fornecedores não faltam. A Olha o Peixe! é um deles.

Barcos de pescadores na praia Central de Guaratuba. Foto: Andrea Torrente/Plural.

PS: Me recomendaram o restaurante Marina Morena, na Baía de Guaratuba, mas não deu tempo de conhecer.

PS2: O que surpreendeu foi o Sítio Sambaqui com suas ostras fresquíssimas. O problema é que fica na estrada do Cabaraquara, do outro lado do ferry boat, que não vive uma boa fase. Mas as outras ficam para a próxima.

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