Caso Cartas Marcadas: o jornalismo alternativo vem melhorando o Brasil

The Intercept Brasil faz parte de uma boa safra de veículos independentes à qual o Plural se orgulha de pertencer

É famosa a frase de Thomas Jefferson: melhor ter jornais sem governo do que governo sem jornais. Um exagero, claro, mas esclarecedor – sem debate, não há democracia, e os governos tendem à ditadura. Jefferson conhecia um modelo de jornais bem diferente do nosso tempo, mas talvez ficasse ainda mais empolgado se soubesse que hoje é muito mais fácil fazer um jornal. O processo ficou mais barato e mais democrático.

Claro que a Internet pode ser uma praga, com notícias falsas e campanhas de difamação. Mas foi esse mesmo ambiente que permitiu o surgimento de um novo tipo de jornalismo que vem causando uma profunda transformação na imprensa mundial. No Brasil, os veículos da nova safra – muitas vezes distantes de grandes grupos econômicos, feitos na base da coragem e do pouco dinheiro – vêm fazendo uma diferença tremenda na democracia do país.

Por décadas, o país viveu um oligopólio na comunicação. Seis ou sete famílias (Marinho, Mesquita, Abravanel, Saad, Frias, Civita, Sirotsky) dominavam os meios de comunicação. Esses grupos continuam fortes, em geral. Mas hoje não podem mais se arrogar a exclusividade, que permitia inclusive pequenas (e grandes) manobras para esconder informações. Afinal, se eles não dessem, em tese ninguém ficava sabendo que algo aconteceu. Deu errado nas Diretas, mas quantas vezes terá dado certo?

Mesmo na Internet, há gigantes ligados a esses grupos, como G1, Uol e R7. Mas começaram a surgir também os pequenos. Jornalistas começaram a dominar o processo e a criar veículos próprios. E o resultado é uma impressionante geração de sites, que vão do Nexo ao Jota, do Intercept ao Poder 360, passando pelo Congresso em Foco. Uma safra à qual o Plural tem orgulho de pertencer.

Esses veículos em geral têm menos dinheiro, sim. Mas a falta de grandes financiadores também significa maior liberdade, menor compromisso com grupos econômicos. Baseados em financiamento coletivo, assinaturas ou venda de conteúdos (como newsletters aprofundadas e revistas), esses novos meios dependem mais da adesão do leitor do que das grandes empresas. Sua fidelidade é com quem assina ou clica. E se o leitor se sentir traído, tchau. Acabou.

Essa independência tem servido a bom propósito. As reportagens iniciadas pelo Intercept neste fim de semana são só o exemplo mais recente e mais chamativo dos serviços prestados. O próprio Intercept já fez belíssimos trabalhos denunciando desde crimes contra o poder público até abusos que em geral passam despercebidos: as mazelas da própria imprensa, agressões de jornalistas contra mulheres, discussões de temas importantes como gênero e pobreza.

O Congresso em Foco já vinha fazendo reportagens de peso antes disso, descobrindo a farra das passagens em Brasília e os supersalários no Senado, por exemplo – isso com uma redação reduzidíssima na comparação com os jornalões, que precisaram correr atrás do furo.

Outros não se dedicam tanto ao investigativo, ao furo, mas aprofundam discussões de uma maneira que não é vista na mídia convencional. O Nexo é uma referência nesse sentido: cada matéria traz gráficos, dados,  uma pesquisas incansável. O Jota e o Conjur fazem o mesmo pelo meio jurídico. Ponte e Agência Pública são outros bons exemplos.

À medida que o público se acostumar à ideia de que pode se unir para manter esse tipo de jornalismo e perceber a vantagem que isso traz para o bom funcionamento da sociedade, a perspectiva é de que os bons exemplos se multipliquem causando uma verdadeira revolução na política e na mídia brasileiras. O Plural faz votos de que isso aconteça o quanto antes.

 

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