Sindicatos da Saúde denunciam condições de trabalho em hospitais 100% lotados

Faltam profissionais, EPIs, leitos, remédios, respiradores e oxigênio, em jornadas de trabalho exaustivas

Condições de trabalho precárias de médicos, enfermeiros e demais profissionais no atendimento à Covid-19 no Paraná foram denunciadas ao Ministério Público do Trabalho (MPT) nesta terça-feira (17), por sindicatos de trabalhadores da Saúde de todo o Estado. Ao todo, quatro sindicatos participaram da audiência virtual: Sindicato dos Médicos no Estado do Paraná (Simepar), o Sindicato dos Trabalhadores da Saúde Pública do Estado do Paraná (SindSaúde-PR), o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba (Sismuc) e o Sindicato dos Servidores Municipais de Enfermagem de Curitiba (Sismec).

Os pontos denunciados foram a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) nas UPAs e Unidades Básicas de Saúde de Curitiba; não emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) nos casos relacionados a Covid; jornadas de trabalho e plantões excessivos e muito extensos; assédio moral em algumas unidades; falta de máscaras, oxigênio, medicamentos e fisioterapeutas. Além disso, o excesso de pacientes e a falta de leitos de UTI também foi assunto da reunião. Segundo o Simepar, 50 médicos já morreram de Covid-19 no Paraná.

Conforme mostrou o Plural, respiradores e medicamentos utilizados na intubação de pacientes já estão em falta em Curitiba. A cada 9 leitos, 25 pessoas precisam de internação hospitalar. Segundo dados da Secretaria de Saúde do Paraná (Sesa), a taxa de ocupação dos leitos de UTI exclusivos para Covid-19 é de 97%. Em Curitiba, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a ocupação dos leitos UTI SUS Covid chegou a 100% nesta quinta (18). As UPAs estão lotadas e os leitos abertos já foram ocupados. Nos hospitais particulares também faltam respiradores, remédios e leitos, o que obrigou muitos a suspender o Pronto Atendimento.

Claudia Aguilar, secretária-geral do Simepar, ressalta que não há profissionais suficientes para atender a demanda do aumento no número de leitos. “O SUS deve contratar mais médicos e equipes de apoio, essa é a única forma de ampliar a rede de atendimento. Os médicos estão se sentindo desvalorizados, estão sem reajuste, trabalhando sobrecarregados, muitas vezes sendo mudados de função e de local de trabalho, sem horários de descanso e sob intensa pressão psicológica.”

Outras reinvindicações

O Sismuc relata que outro problema é o termo imposto pela Prefeitura, que responsabiliza os servidores por terem contraído Covid-19. “No documento, a gestão tenta se isentar de responsabilidades decorrentes da contaminação pelo novo coronavírus. Um absurdo, já que os trabalhadores de linha de frente estão expostos aos riscos decorrentes do exercício da sua profissão.”

O sindicato não recomenda a assinatura do documento e orienta aos servidores fazerem a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) assim que possível. “Caso você tenha assinado o termo entre em contato com o Sismuc e cobre da Prefeitura uma cópia do documento.”

Além da reunião no dia 17, o SindSaúde-PR se reuniu com a Sesa no dia anterior, para reivindicar o teletrabalho imediato a todos trabalhadores e trabalhadoras da Secretaria que possuam fatores de risco da Covid-19. Outra solicitação foi a de adoção imediata de regime de trabalho em escalas a todos servidores e servidoras, visando redução de 50% no número de pessoas circulando diariamente nos prédios administrativos da Sesa.

Foi encaminhado para protocolo o novo documento elaborado pela categoria. O secretário de saúde do Estado, Beto Preto, não atendeu ao grupo de servidoras. 

De acordo com o Simepar, o Ministério Público Trabalho irá convocar os gestores das Secretarias Municipal e Estadual da Saúde, bem como representantes do Ministério da Saúde para prestar esclarecimentos sobre as denúncias e procurar sanar os problemas enfrentados pelos profissionais. “Caso não haja solução, as demandas seguem para a Justiça do Trabalho.”

Veja a ata da audiência aqui.

Respostas

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba afirma estar trabalhando para garantir que os profissionais tenham as condições adequadas para desenvolver suas funções nesse momento crítico da pandemia da Covid-19. “Todos os esclarecimentos serão prestados, no prazo devido, assim que o Ministério Público do Trabalho faça a solicitação.”

A Secretaria de Saúde do Estado do Paraná foi procurada pelo Plural, mas não houve resposta até o fechamento desta reportagem. 

Colaborou: Matheus Koga

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