Paraná aposta que não haverá explosão de casos da variante indiana

A pasta também descartou que a nova cepa já esteja em transmissão comunitária no estado. Já foram identificados quatro casos e duas mortes pela variante

O secretário da Saúde do Paraná, Beto Preto, disse acreditar neste momento que o Paraná não deve ter uma explosão de casos provocada pela variante delta da Covid-19, também chamada de indiana ou B.1.617. A pasta também descartou que a nova cepa já esteja em transmissão comunitária no estado, apesar de uma nova morte e de dois novos casos confirmados nesta quarta-feira (7). Mesmo assim, 119 paranaenses estão sendo monitorados pela possibilidade de terem sido contaminados pela nova derivada.

Os novos resultados positivos para a variante indiana no Paraná vieram de dois homens, um de 74 anos e outro de 58 anos, respectivamente marido e filho da primeira paciente a ter comprovada infecção pela delta no estado. O idoso chegou a ser internado, mas passa bem, enquanto seu filho de 58 anos morreu no dia 14 de maio, cerca de um mês após os primeiros sintomas. Ele é o segundo paciente que não resistiu às consequências da contaminação. A primeira foi uma gestante de 42 anos que veio do Japão e que teve contato com a filha do casal de idosos contaminados. O exame da grávida, que morreu em 18 de abril, apontou infecção pela nova cepa.

Como todos os quatro casos confirmados, incluindo as duas mortes, são de um mesmo núcleo familiar e ocorridos em uma mesma cidade – Apucarana, no Norte do Paraná –, a Sesa diz não ter como afirmar que já existe transmissão comunitária. Em entrevista, o secretário Beto Preto disse ainda que o estado não deve viver uma explosão de casos, como a provocada pela derivada P.1, que teve seus primeiros contágios registrados no Amazonas no início deste ano.

“Neste momento, eu não acho que teremos uma explosão [de casos provocadas pela variante delta]. Claro, não existe nem sim nem não em saúde, principalmente nesse mundo invisível dos vírus. Nós vamos ter circulação dela, daqui a pouco vamos estar também em transmissão comunitária, porém tudo indica que não vamos ter explosão de casos pela variante delta”, afirmou.

O respaldo usado pelo secretário para a projeção é o avanço da aplicação de doses da vacina, cuja marcha ele disse estar “acontecendo de maneira correta”. Das 4.931.989 pessoas consideradas vacináveis, incluindo faixas etárias acima de 18 anos sem comorbidades ou outras singularidades prioritárias, 1,43 milhão estavam completamente imunizados no Paraná até o início da tarde desta quarta, fatia que representa menos que um terço da população-alvo da campanha nacional de imunização.

Hoje, ao anunciar a circulação da nova cepa do vírus da Covid-19 em São Paulo, o governo paulista disse que avalia reduzir intervalo da 2ª dose de vacinas já aplicadas – o que o Paraná também não descarta fazer.

“Vamos estudar isso, vamos avaliar, avaliar o que está acontecendo em são Paulo, com calma”, respondeu Beto Preto. Segundo ele, a possibilidade de diminuir o tempo de intervalo de aplicação entre as duas doses dependeria de orientação do Ministério da Saúde, que é quem concentra a distribuição de doses em todo o Brasil, embora alguns estados já tenham conseguido avançar em negociações de compra de imunizantes de forma independentes.

Apesar de o Paraná contar com o avanço da vacinação para conter efeitos mais dramáticos da circulação da variante indiana, ainda não se conhece ao certo os indicadores de segurança dos imunizantes disponíveis no mercado contra a nova cepa, cada vez mais presente.

“A variante delta está a caminho de se tornar a variante dominante globalmente por causa de sua maior transmissibilidade”, afirmou a cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Soumya Swaminathan durante entrevista coletiva em 18 de junho.

Em comunicado emitido cinco dias depois, o diretor do Centro Europeu de Prevenção e Controle das Doenças, Andrea Ammon, projetou que até o fim de agosto a nova cepa vai responder por cerca de 90% de todos os casos de contaminação na União Europeia.

“Infelizmente, dados preliminares indicam que a variante delta também pode infectar quem recebeu apenas uma dose das vacinas disponíveis até agora.  É muito provável que a variante delta circule extensivamente durante o verão [inverno, no Hemisfério Sul], particularmente entre os indivíduos mais jovens que não são alvo de vacinação. Por isso, pode haver risco de os indivíduos mais vulneráveis ​​serem infectados e sofrer doenças graves e morrer caso não estejam totalmente vacinados”, diz, em tradução literal, o comunicado.

Um estudo recente que teve participação da Fiocruz  sugere que a variante delta pode aumentar o risco de reinfecções. Conforme a pesquisa, o soro de pessoas que já foram infectadas por outras cepas pode ser menos potente contra esta nova variante.

Além disso, das quatro vacinas aplicadas hoje aplicadas no Paraná, nem todas já têm estudos de eficácia contra a B.1.617.

Na semana passada, a Janssen afirmou que seu imunizante apresentou resultado “forte e persistente” contra a delta. Nesta terça (7), o Instituto Butantan disse que os testes para atestar a eficiência da CoronaVac só serão feitos se a cepa chegar a atingir um quantitativo maior de pessoas em São Paulo, onde a vacina é produzida. Também segundo a Fiocruz, uma pesquisa publicada na revista Public Heatlh England (PHE) indicou 92% de efetividade contra a hospitalização pela variante delta após a aplicação de duas doses da vacina AstraZeneca. Já sobre a vacina da Pfizer, a reportagem não encontrou fontes seguras sobre a segurança do imunizante em casos de contaminação pela nova cepa.

Monitoramento

O primeiro caso da variante indiana no Paraná foi detectado por meio de seleção aleatória de amostras para sequenciamento genômico. Hoje, outras 119 amostras coletadas no estado ainda aguardam resultado. Outras 107 enviadas já são de resultado conhecido – com quatro deles positivos para a delta.  

As análises sobre a caracterização do vírus são feitas laboratório referência da Fiocruz, no Rio de Janeiro, a partir de remessas enviadas quinzenalmente pelo Laboratório Central do Estado (Lacen).

Segundo o Lacen, as 119 amostras que ainda estão em análise pela equipe da Fiocruz  foram selecionadas obedecendo ao critério de terem sido coletadas na regional de saúde de Apucarana pelo menos 15 dias antes da confirmação do primeiro caso na cidade, que foi em 26 de abril, até o dia 7 de junho. São novos resultados desta leva que devem determinar se o Paraná continuará sem indícios de transmissão comunitária ou o contrário.

“A gente faz isso em tempo real, o tempo todo. Qualquer resultado que a gente tenha, passamos para a equipe de Vigilância Epidemiológica, que avalia caso a caso em tempo real”, explica a chefe dos Laboratórios de Epidemiologia e Controle de Doenças do Lacen (DVLCD), Irina Riediger. “Vai chegar em algum momento a ter transmissão comunitária. Mas neste momento, com estes resultados, nós não podemos afirmar que já temos”.

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2 comentários em “Paraná aposta que não haverá explosão de casos da variante indiana”

  1. Excelente o título: “Paraná aposta…”

    A exemplo do governador, o secretário de saúde se esbalda em platidudes: “não existe nem sim nem não em saúde, principalmente nesse mundo invisível dos vírus.” (O cara fala uma coisa dessas coisas sem corar? A vergonha deve ter sido oficialmente banida do Estado do Paraná)

    Nem sim, nem não. Muito pelo contrário. Segue a aposta. Seria mais um registro do modus operandi de políticos toscos, ineptos, descomprometidos com o povo e com o bem comum. Contudo, note-se que a moeda (sim, a economia venceu!) da aposta do Sr. Beto Preto é a saúde, são vidas.

  2. Revisem esse título. Variante Indiana não é correto. Isso é o mesmo de chamar o vírus de chinês!! Já há um consenso científico na nomeação de variantes e essa é a Delta!

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