Ação da PM contra mulher em Curitiba é criticada até por tradicionais defensores da Polícia na Câmara

Normalmente, as críticas a esse tipo de abordagem se limitam aos parlamentares de esquerda. Não foi isso o que aconteceu desta vez

Na sexta-feira (22), durante uma abordagem da Ação Integrada de Fiscalização Urbana (Aifu) em seu estabelecimento, a empresária Stephany Rodrigues discutiu com policiais militares, foi derrubada no chão, imobilizada e teve a cabeça atingida pelo agente de segurança. Normalmente as críticas a esse tipo de abordagem se limitam aos parlamentares de esquerda. Não foi isso o que aconteceu na segunda-feira (25): a ação da Polícia Militar (PM) foi criticada na Câmara Municipal de Curitiba (CMC) e na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) por deputados e vereadores de diversas bancadas.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos, Defesa da Cidadania e Segurança Pública, Jornalista Márcio Barros (PSD), relatou que desde o final de semana tem procurado as autoridades e que solicitou audiência com o comandante-geral da PM e com os comandantes da capital e da Aifu. “No vídeo, vemos o uso de força excessiva e desproporcional. A gente precisa entender todo o contexto, mas independente disso, nenhum tipo de agressão é justificada. O policial militar tem que ser o ponto de equilíbrio das situações de conflito”, posicionou-se Barros, que questionou os limites da Aifu. 

“A PM mancha o seu nome quando usa de violência contra o cidadão. É lamentável o episódio. Vamos fazer uma moção de apoio [à vítima]”, adiantou Maria Leticia (PV), à frente da Procuradoria da Mulher da CMC, que chamou de “brutalidade” a ocorrência. Com 28 anos, a empresária Stephany Rodrigues teve ferimentos no braço, pescoço, nariz e boca. Vídeos com o registro da agressão viralizaram na internet desde o ocorrido. “A fiscalização não é para isso, tem que ser feita com respeito e educação. A Procuradoria da Mulher deve agir”, apoiou Noemia Rocha (MDB).

Com 35 anos de Polícia Militar, a Sargento Tânia Guerreiro (PSL) disse que a resposta do agente de segurança está em desacordo com o treinamento dos membros da corporação. “Não somos treinados para tomar esse tipo de atitude. Com certeza, vai ser apurado, pois temos um comandante-geral [na PM] muito sério. Todos são treinados iguais, mas um ou outro sai do prumo”, disse. “Sabemos da importância da Polícia Militar, mas neste caso houve uma agressão. Por mais que a mulher possa ter sido inadequada, a polícia jamais pode agir dessa forma. A Aifu poderia tirar o pé do acelerador, pois estamos na retomada da economia”, criticou Herivelto Oliveira (Cidadania).

“Quero deixar claro meu respeito à corporação, mas não podemos deixar de trazer a realidade. Estamos aqui para fazer com que esse tipo de coisa não aconteça novamente. Eu venho alertando que a Aifu comete excessos, não só da parte da Polícia Militar, mas também dos fiscais. Agora vimos uma violência covarde a uma comerciante. Parece que há uma perseguição aos empresários”, queixou-se Alexandre Leprevost (Solidariedade), para quem é justificável a reação da empresária, diante de uma multa elevada. “Uma multa dessas descontrola qualquer um. A agressão cometida é que não tem justificativa nenhuma”, disse Leprevost.

Para Leprevost e outros parlamentares, quando o capitão da Polícia Militar e coordenador da Aifu, Ronaldo Carlos Goulart, disse à imprensa que a reação do agente foi “feita à medida do necessário”, ele teria dado “uma resposta infeliz “.

“Tão grave quanto a postura do policial, foi a postura dos superiores que tentaram justificar o injustificável. Não é hora de passar a mão na cabeça do policial que agrediu publicamente. Ele não teve o constrangimento de se ocultar”, criticou Dalton Borba.

“Se houve, por parte dela, desacato, ou qualquer outra situação, a polícia tem que estar preparada para abordar a pessoa sem agredi-la. Não é possível que dois, três policiais não consigam imobilizá-la sem agredi-la. Não se justifica qualquer situação de agressão. Eu sei que a maioria [da PM] são servidores públicos, como eu, e que não tem esse tipo de atitude. Mas a postura de uma minoria leva a uma revolta da população”, concordou a Professora Josete (PT). Nori Seto (PP) também repudiou a ação do policial militar filmado agredindo a empresária, a quem prestou sua solidariedade.

“Apesar de construir a imagem de uma cidade tranquila, Curitiba não é nada tranquila. Se a gente vê essa violência acontecendo contra uma empresária, imagina o que acontece nas periferias, nos lugares pobres, onde as pessoas não têm condição. O mais bizarro nisso é a omissão do prefeito Rafael Greca. A gente denunciou a morte do Mateus Noga no centro histórico da cidade, com nove perfurações no corpo, baleado pela Guarda Municipal, que age cotidianamente com abordagens truculentas. É muito estranha a insensibilidade do prefeito, que ao não se manifestar parece estar chancelando essas ações”, questionou Carol Dartora.

Assembleia Legislativa

Entre os deputados estaduais, quem se manifestou foi a deputada Cristina Silvestri (Cidadania), procuradora da Mulher na Casa. Segundo ela, ainda que tenha havido desacato por parte da comerciante, isso não justifica a ação desproporcional que o policial tomou “diante de uma mulher de um metro e meio”.

“Eu quero pedir ao comando geral da PM que tenha um olhar mais sensível e atento a um apoio psicológico permanente a esses policiais para que atitudes como esta não venham manchar uma instituição tão respeitada como é a nossa Polícia Militar”, disse.

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2 comentários em “Ação da PM contra mulher em Curitiba é criticada até por tradicionais defensores da Polícia na Câmara”

  1. Uma vergonha atrás de outra por parte desses agentes públicos que esquecem que estão aí para servir a população e não espancá-la.

    Um covarde é um covarde e estando de farda é ainda mais desprezível, pois usa de uma suposta autoridade para extrapolar a sua covardia.

    O que mais espanta é essa perseguição à comerciantes e trabalhadores, coisa que não vemos em relação à verdadeiros bandidos que estão por aí cometendo crimes que mereciam essa postura.

    Enfim, vamos ver agora se o Comando da PM vai ter atitude de verdade e não passar a mão na cabeça desse covarde de farda.

  2. Está se tornando casa vez mais rotineiro e irresponsável o tipo de abordagem praticado pelas nossas polícias e guardas, atitudes de respeito e profissionalismo estão se tornando cada vez mais urgentes e necessárias

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