Todos os patifes do presidente

Enquanto o gângster de picadeiro que convencionamos chamar de presidente da República ri, mais e mais brasileiros são atirados à masmorra da miséria. A fila de pobres-diabos suplicando o exíguo valor do Bolsa Família chega agora a 3,5 milhões de pessoas.

Na semana passada, ficamos sabendo que dos pouquíssimos benefícios concedidos em janeiro (100 mil, ao todo), apenas 3% foram destinados ao Nordeste. É nessa região, no entanto, que estão 36,8% dos pobres e extremamente pobres do país.

Um único estado do Sul Maravilha, Santa Catarina, recebeu o dobro de auxílio, 6% do total, mesmo tendo uma população oito vezes menor.

O motivo: Bolsonaro venceu espetacularmente as eleições de 2018 no Sul, mas perdeu no Nordeste.

O Bolsa Família pode ser a diferença entra a vida e a morte de uma criança por inanição. Jogar com isso é mais do que perseguição política, é psicopatia.

Não é um governo, é um consórcio de assassinos. Isso está claro há tempo suficiente. Quem ignora, endossa. Não há mais margem de manobra, espaço para os panos quentes, as meias-palavras ou o veja-bem: ou você admite aquilo que é inegável ou faz parte do enorme viveiro de patifes que sustenta o consórcio.

Cada vereador, cada deputado, cada empresário, cada madame, cada velhote apoiado em um balcão no fim de tarde vociferando contra inimigos imaginários e fechando os olhos para o óbvio – todos patifes.

O dono de uma rede de restaurantes que se autocongratula por fazer “o melhor hambúrguer do mundo”? Que divulgou um vídeo aderindo às manifestações convocadas por Bolsonaro e que estimulam um golpe de Estado? O mesmo que há alguns anos, segundo a Justiça do Trabalho, metia a mão nas gorjetas de seus garçons?

Patife.

(A propósito: as chances de “o melhor hambúrguer do mundo” ter saído de Curitiba são as mesmas de eu ganhar um galardão de astrofísica até o fim da semana.)

O prefeito higienista de uma capital fria que manda roubar cobertores de mendigos? Que ofertou uma medalha a Sergio Moro, o ministro-símbolo do bolsonarismo?

Patife.

(Mais do que um patife, Rafael Greca é o tipo que anseia por uma suposta urbanidade europeia quando na verdade não passa de um arremedo de africâner.)

O governador que ao menor aceno corre emocionado para os braços presidenciais? Um dos poucos que não assinou uma carta de repúdio no momento em que Bolsonaro aperta ainda mais o garrote do autoritarismo? Que há poucos dias nomeou um secretário ligado à Opus Dei? Aquele que, sem se dignar a dar maiores satisfações à ralé, é o único a ir com o chefe da facção à Flórida, numa viagem cujo maior propósito é render uma foto à mesa com Donald Trump?

Patife.

Democracia não exige jeans e blazer, pose de administrador jovem e antenado, discurso 4.0, um giro aleatório por Miami. Exige coragem para, numa situação-limite, mandar o cálculo político para o inferno. Exige diálogo, barganha e negociação, sim, mas também espinha. Coisa que Ratinho Jr não tem.

O que, no caso, é uma tradição familiar. Seu pai, o apresentador Ratinho, é o subserviente entrevistador preferido de Jair Bolsonaro. E encheu as burras de dinheiro para propagandear a reforma da Previdência. Na TV, tinha a exemplar cara de pau de perguntar à população: “Você acha que se a Previdência fosse ruim para o povo, eu estaria a favor?”.

Ao preço de R$ 915 mil por quatro falas breves, acho sim.

Lá fora, há uma visível escalada autoritária, promovida pela família presidencial e seu séquito de patifes. Eu gostaria de acreditar que, um dia, Jair Bolsonaro, Junior Durski, Rafael Greca, Ratinho Jr e muitos outros acabarão na famigerada lata de lixo da história. Mas não há consolo no Terceiro Mundo. No Brasil, a história não tem sequer lata de lixo. Tem uma usina de reciclagem de patifes.

Sobre o/a autor/a

Rolar para cima