tá passada?

do alambrado é daora. dá pra ouvir o que falam lá dentro, pedir camisa, gralhar a galera do banco de reserva que tá sempre naquela cara de quem queria tá jogando mas não tá. parei de ir em estádio antes da pandemia: ingresso quase cem pila, uma pa de jogo era na hora do trampo. semana que vem rolam as quartas de final da Copa do Brasil e a CBF “tá estudando” liberar torcida. seguem vivas no mata-mata uma equipe do Paraná, uma do Rio Grande do Sul, uma do Ceará, uma de Minas, duas de São Paulo e duas do Rio. ninguém sabe até quando.

meu time faz cinco rodadas que não ganha e a vida me botando na roda. luz subiu, nosso aluguel teve reajuste, carne vermelha por menos de trintão só se já tiver de outra cor. a 1ª dose deu boa pelo menos. a Fernanda tomou Pfizer, eu AstraZeneca. bateu pra gente o que bate pra uma galera: um pouco de dor no braço, de moleza nas pernas, de alívio no peito, de nó na garganta. de quanta gente tiraram a vida. de quanta gente. essa semana a dispensa zerou e fui no Mercadorama da Comendador Araújo: tinha uma galera no alambrado do estacionamento mas o que tava em jogo  não era troféu. Qualquer coisa de comer me deu a letra um piazinho.

V.A. no Centro não rende. esquema é tirar uma manhã bem cedinho e colar nos atacadão da Linha Verde, nos da Juscelino Kubitschek. esses dias a Fernanda me contou de uma blogueira que ensina a fazer 3 conto até dezembro.

– E como que faz Bebê?

– Pega quantos meses faltam pra dezembro

– Quatro

– Divide os 3 mil por quatro

– 750

– Aí ela diz E é isso gente, é só guardar 750 por mês que no final do ano você tem 3 mil

rimos.

lembro que nas antiga o Fantástico tinha um quadro que te ajudava a pôr as contas em dia. o cara dizia que fazer compra do mês não prestava, que o esquema era ir meio que toda semana no mercado pra gastar menos. boto fé nesse papo mas quem é que tem tempo? no começo da pandemia baixei um jogo de construir civilização. uma das estratégias tá em recolher o máximo de recursos o mais rápido possível mas não adianta nada comida, madeira e minério se não fechar a tempo com as outras civilizações. ninguém tem peito de aço. ter com quem contar é vital. se o Bolsonaro jogasse Age of Empires II, ia gastar tudo em exército e morrer rapidinho. seria bom.

um que não acho tão facada assim é o Condor do terminal do Campina. acho sinistro. em 2018, funcionárias e funcionários receberam uma carta do presidente da rede de supermercados pedindo para que votassem no Naro. baixo astral. lá pelo menos acho marcas mais em conta. tem mais gente trampando também. tanto no Mercadorama da Mariano Torres como no da Comendador, tenho impressão de que é pouca gente pro tanto de movimento. fico pensando no salário que aquelas pessoas recebem, em como uma tela de acrílico e um borrifador de álcool gel conseguem combater um vírus. fico pensando na senhorinha.

a senhorinha fica de cócoras, na fron do Banco do Brasil também ali da Comendador. vende bala de goma e no fim do dia pede pra alguém entrar no mercado comprar leite. ela insiste pra que eu fique com a grana, digo que um dia a gente se acerta. Então que nunca te falte meu filho. Que não falte pra ninguém.

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